Três décadas de uma trajetória marcada por resistência, talento e coragem. Negra Li, uma das vozes mais potentes da música brasileira, está celebrando 30 anos de carreira com a turnê “O Silêncio que Grita”, que estreou em São Paulo no último dia 26 de julho. O espetáculo leva aos palcos o novo disco da artista, que mistura força, emoção e identidade — uma marca registrada da paulistana da Brasilândia.
Com 11 faixas inéditas, o álbum é um manifesto sonoro sobre ancestralidade, superação e empoderamento feminino, que ganha ainda mais potência com participações de nomes como Liniker, Gloria Groove e Djonga. A turnê, além de apresentar o novo repertório, também revisita sucessos que marcaram gerações, como “Não É Sério”, com Charlie Brown Jr., “Você Vai Estar na Minha”, com Pitty, e a envolvente abertura da novela Vai na Fé, da TV Globo.
“Essa turnê tem um significado profundo para mim, porque é um trabalho muito íntimo, forte e cheio de mensagens que precisava colocar no mundo”, revela Negra Li em entrevista exclusiva à Quem. “Cada faixa tem um papel importante na narrativa. Além disso, claro, tem os sucessos da minha carreira, que o público ama e sempre pede.”
Negra Li: três décadas de resistência e inspiração
Ao relembrar sua trajetória, Negra Li carrega no olhar o peso e o orgulho de quem precisou abrir caminhos em meio a um cenário ainda pouco receptivo para mulheres pretas e periféricas. “São 30 anos quebrando barreiras, ocupando espaços que nem sempre estavam abertos para uma mulher preta do hip hop e da música popular brasileira”, afirma.
Mais do que apenas uma artista, Negra Li se consolidou como símbolo de representatividade. No palco, no cinema — com a série e o filme Antônia —, na TV — como participante do Dança dos Famosos — e até como madrinha de bateria da Vai-Vai, ela mostra que talento e versatilidade caminham lado a lado.
A fama nunca foi o objetivo
Negra Li reconhece que demorou para se enxergar como uma celebridade. “Acho que comecei a perceber isso quando as pessoas vinham me contar como minhas músicas tinham mudado a vida delas. Nunca busquei a fama pela fama. Sempre quis ser ouvida.”
Hoje, lida com essa visibilidade como ferramenta de transformação. “Entendo a responsabilidade de ser inspiração e tento usar isso para abrir caminhos para outras meninas como eu.”
Silêncio que vira grito
O título do disco e da turnê não é à toa. Para Negra Li, seu silêncio grita “quando vejo injustiças acontecendo e não posso me calar. Grita nas entrelinhas das minhas letras, nos olhares de outras mulheres pretas que se reconhecem em mim.”
Ao longo de sua jornada, aprendeu a transformar dor em arte. “A arte sempre foi meu abrigo e minha arma. Transformei choro em melodia, raiva em rima, e encontrei no palco um lugar de cura.”
Arte que empodera
Além da carreira, a maternidade também é uma de suas maiores inspirações. Mãe de Sofia, de 15 anos, e Noah, de 8, Negra Li diz que os filhos a tornaram ainda mais verdadeira na arte. “Meus filhos me inspiram a ser melhor, a escrever com mais propósito. A arte me deu coragem para ser a mulher e a mãe que sou hoje.”
E se engana quem pensa que ela vai parar por aqui. Negra Li sonha alto — com colaborações internacionais, mais espaço no audiovisual, projetos sociais e até um livro. “Quero continuar fazendo música com alma e deixar um legado para que crianças pretas se sintam valorizadas desde cedo.”
Negra Li lança “Fake” e prepara terreno para seu novo álbum
Negra Li, uma das artistas mais relevantes da geração, lançou seu mais novo single Fake. Disponível em todas as plataformas digitais via ONErpm, ele chega como um aquecimento para seu próximo álbum, previsto para abril ou maio deste ano.
“Esse som é um grito contra essa cultura de falsidade que nos cerca. A gente vive rodeado de filtros, curtidas e tendências, mas será que isso tudo nos faz felizes de verdade?”, questiona.
Com uma mensagem forte e necessária, Fake traz uma crítica contundente à superficialidade do mundo moderno. A música aborda a influência das redes sociais, a propagação de fake news, a obsessão por validação online e as contradições sociais que cercam o dia a dia. A artista traduz esse incômodo em versos marcantes como “Tô cansada desse mundo fake, todo mundo fake”, Negra Li denuncia a cultura do consumo de aparências e questiona: o que ainda é real?”.
Além de refletir sobre a desconexão entre o virtual e o real, Fake também levanta temas urgentes, como o feminicídio e a hipocrisia no ativismo digital. A faixa traz uma fusão envolvente entre rap e melodia, com a força e autenticidade já marcantes na trajetória da artista.
Fake chega como um aperitivo para o novo disco da cantora, que promete um mergulho ainda mais profundo em temas sociais e pessoais. Com produção refinada e letras afiadas, o projeto promete ser um dos lançamentos mais impactantes de sua carreira.