“Não podemos aceitar” interferência política dos EUA, diz Armínio Fraga, ao Estadão

O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga criticou, em entrevista ao jornal O Estado De S. Paulo, a tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump a produtos brasileiros. Para o economista, o percentual embute um viés político inaceitável.

“O Brasil entrou nessa história por um canal diferente, claramente um canal político explícito”, afirmou Fraga ao Estadão. “Esse é um troço muito diferente: ele acenou com 50% de tarifa, que é muito e, para vários setores importantes, é fatal ou quase. E veio a lista de exceções. Está todo mundo respirando um pouco aliviado, mas ainda é um problema muito grande. Acho que o que diferencia o Brasil é o lado político. Isso está gerando repercussões aqui dentro”, emendou.

Leia também: “Sempre estivemos abertos ao diálogo”, diz Lula após aceno de Trump

Trump assinou na noite da última quinta‑feira (31) a ordem executiva que define novas tarifas recíprocas para dezenas de países e territórios, com vigência, em sua maioria, a partir de 7 de agosto.

Para muitos casos, o anúncio apenas oficializou a tarifa que já era conhecida, como é o caso do Brasil, mas para outros, como é o caso do Canadá, o valor subiu: com as negociações travadas, o país ficou sujeito a um imposto de importação de 35%.

Leia também: Tarifaço eleva mais a tensão diplomática, mas têm impacto econômico limitado

Para países com “déficit comercial significativo em relação aos EUA”, segundo a Casa Branca, os encargos variam entre 10% e até 41%, conforme a negociação com cada governo.

Alguns países negociaram tarifas mais favoráveis. Por exemplo, a Argentina e um grupo de cerca de 90 países manterão 10%, a menor conseguida por qualquer nação, enquanto o Canadá ficará com 35% e a Nova Zelândia com 15%.

Para o Estadão, Fraga afirmou também que ainda é cedo para medir o impacto do tarifaço sobre a macroeconomia do Brasil e que a lista de exceções à alíquota de 50% trouxe um certo alívio, mas ainda é um problema muito grande.

O ex-presidente do Banco Central avalia que, no campo político, Trump não vai conseguir o que quer do Brasil “de jeito nenhum”.

“Eu sou brasileiro; o que eles têm que se envolver no funcionamento da nossa democracia? Ela é imperfeita, como todas, mas funciona. Tem um que reclama do Judiciário, outro que reclama do Supremo (Tribunal Federal). Você pode ter a opinião que for, as razões são naturais, mas é o nosso (país). Esse aspecto é pesado, não dá para a gente aceitar”, afirmou Fraga ao Estadão.

infomoney.com.br/">InfoMoney.