Marcha alterada | Por que algumas pessoas com autismo andam de forma diferente?

O autismo, condição no neurodesenvolvimento de algumas pessoas que afeta o crescimento e funcionamento do cérebro, afeta principalmente o comportamento, comunicação e socialização. Você sabia, no entanto, que ele também pode afetar a maneira de caminhar? É o que chamamos de marcha alterada, um sintoma listado no Manual Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais.

Isso pode se manifestar, nas pessoas com autismo, no andar na ponta dos pés ou majoritariamente com os dedos, com os pés virados para dentro ou para fora de maneira incomum. A psicólogas e neuropsicólogas Nicole Rinehart, Chloe Emonson e Ebony Renee Lindos, da Universidade de Monash, na Austrália, estudaram a condição e oferecem apoio a pessoas que necessitam de ajuda por conta da marcha alterada.

A marcha alterada e seus níveis

De acordo com as especialistas australianas, há ao menos 30 anos de pesquisas sobre o tema, e graças a elas foram identificadas características mais sutis que podem revelar a marcha alterada. São elas:


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  • Andar mais lento;
  • Passos mais largos;
  • Maior duração da fase de postura, quando o pé está fora do chão;
  • Mais tempo para concluir cada passo.

Nas pessoas autistas, a variação no comprimento e velocidade da passada é maior, bem como a velocidade da caminhada em si. Outras diferenças motoras podem aparecer, como problemas de coordenação, equilíbrio, estabilidade postural e caligrafia, podendo necessitar de apoio nessas áreas.

Andar na ponta dos pés é uma característica que pode indicar marcha alterada, e, caso atrapalhe na vida cotidiana, calha ser tratada (Imagem: cottonbro studio/Pexels)
Andar na ponta dos pés é uma característica que pode indicar marcha alterada, e, caso atrapalhe na vida cotidiana, calha ser tratada (Imagem: cottonbro studio/Pexels)

A marcha alterada é causada, principalmente, pelas diferenças no desenvolvimento do cérebro, especificamente no cerebelo e nos gânglios basais. Estes últimos são responsáveis pela sequência de movimentos que o corpo faz, tornando a marcha automática. O cerebelo, por sua vez, usa informações visuais e proprioceptivas (relacionadas à posição e movimento dos membros) para ajustar e cronometrar os movimentos, mantendo a estabilidade da postura.

As diferenças na marcha autista persistem ao longo da vida, e algumas delas ficam até mais claras com a idade. Ela pode, também, estar associada a capacidades motoras e de linguagem e dificuldades cognitivas. A desregulação da parte motora pode ser indicativo de sobrecarga sensorial ou cognitiva, sendo um indicador útil de que a pessoa autista em questão precisa de apoio ou de uma pausa.

Segundo as pesquisadoras, no entanto, nem todas as diferenças precisam ser tratadas, apenas as que atrapalham a vida cotidiana e a participação em atividades físicas ou sociais importantes. Quando há risco de quedas frequentes, dor física — como tensão nos músculos de Aquiles e panturrilha — e dificuldades de coordenação, a intervenção se torna necessária.

As psicólogas fundaram, na Austrália, o programa Joy of Moving, que integra movimentos de esporte e dança na escola, ajudando crianças com autismo a melhorar o controle sobre a própria movimentação. Os resultados foram positivos, e pesquisas indicam que até mesmo habilidades sociais e regulação do comportamento podem se beneficiar de intervenções do tipo. A ciência continua pesquisando o tema e entendendo como as variações pessoais funcionam, bem como novas formas de apoiar quem possui marcha alterada.

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