Luz da tela do celular pode manchar a pele? Veja o que dizem os médicos


A luz azul emitida pelas telas de celulares pode manchar a pele? A pergunta, cada vez mais comum entre usuários de tecnologia e amantes do skincare, tem levantado preocupações sobre os possíveis efeitos da exposição prolongada à iluminação artificial dos dispositivos eletrônicos – especialmente quando se considera o tempo diário que passamos diante do smartphone.
Com o celular concentrando tarefas profissionais, sociais e financeiras, é inevitável o contato frequente com a tela. Por isso, médicos e pesquisadores têm investigado os reais impactos da luz azul sobre a pele humana. Afinal, ela pode causar manchas, acelerar o envelhecimento ou prejudicar a saúde cutânea de outras formas? A seguir, veja o que dizem os especialistas.
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A luz emitida pelas telas de smartphones podem ser prejudiciais à pele? Leia
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A luz da tela do celular pode manchar sua pele?
Para te ajudar a entender o que é a luz azul e se ela pode impactar a saúde da nossa pele, os seguintes tópicos serão abordados:
Explicando a luz azul
O que dizem os especialistas?
Como se proteger no dia a dia?
Quem precisa estar mais atento?
Cuidados necessários
1. Explicando a luz azul
A luz azul, que está presente na luz solar, também é emitida por lâmpadas LED e pelas telas de aparelhos eletrônicos como celular, tablet e computador. Mas a pergunta é: mesmo sujeitos à exposição natural, o contato com a luz artificial é capaz de trazer prejuízos à saúde da nossa pele? Estudos sobre os efeitos das luzes de diferentes cores no organismo humano são conhecidos e datam de décadas, e, dessa forma, a luz brilhante das telas também já se tornou alvo de indagações e pesquisas.
As luzes são uma espécie de radiação e fazem parte do espectro eletromagnético. Dentro dele, existe o espectro da luz visível, da qual a luz azul faz parte. Trata-se de uma luz de alta energia e comprimento de onda curta (High Energy Visible -HEV). Além da luz solar, lâmpadas de LED, smartphones e demais eletrônicos emitem uma quantidade razoável de luz azul, devido à tecnologia por trás das telas.
Explicando a luz azul do celular
Mariana Saguias/TechTudo
Mas, no geral, os estudiosos não consideram a luz azul irradiada pelo celular um risco real para a pele. Membros do Departamento de Fotobiologia, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), os médicos dermatologistas Dra. Luna Azulay, Dr. Lucas Campos Garcia e Dra. Livia Barbosa explicam que um estudo publicado no periódico Photochemical & Photobiological Sciences, em 2022, concluiu que a luz emitida pelas telas de dispositivos eletrônicos não foi identificada como danosa à pele humana.
Não há evidências clínicas robustas de que a luz azul emitida por celulares, tablets ou computadores cause dano significativo à pele humana. Os estudos in vitro (em laboratório) mostraram que a luz azul pode gerar radicais livres e afetar células, mas esses resultados não se confirmaram em estudos com pessoas, e a intensidade da luz usada em laboratório é muito maior que a emitida por dispositivos eletrônicos.”
Nesse sentido, alguns especialistas aconselham que as pessoas lancem mão de produtos para se proteger dos danos provocados pela luz azul, como protetor solar e demais dermocosméticos, óculos produzidos para combater os efeitos mais nocivos à visão, além de protetores de tela. No entanto, os responsáveis pelo Departamento de Fotobiologia da SBD reforçam que filtros e protetores de tela fornecem proteção apenas nos âmbitos visuais e neurológicos.
“Os filtros de luz azul (como “Night Shift” ou “Eye Comfort”) foram criados para reduzir o impacto nos olhos e no sono. Eles não têm efeito relevante na proteção da pele, especialmente porque a luz emitida pelo celular já tem baixa intensidade.”, complementam os médicos.
Na mesma direção, a médica dermatologista Dra. Júlia Rocha, especialista pela SBD, descreve que “a luz visível de alta energia (ou luz azul), juntamente com o UVA ultralongo, está associada à hiperpigmentação da pele, podendo levar à acentuação de manchas preexistentes ou ao surgimento de novas lesões”. Entretanto, essa preocupação está direcionada à luz solar, e não à presente nas telas dos smartphones, por exemplo.
“A luz azul que vem das telas parece não ser suficiente para causar o surgimento de manchas”, avalia a dermatologista Dra. Júlia.
A luz azul está no espectro da luz visível, e seus efeitos vêm sendo estudados
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2. O que dizem os especialistas
As incertezas a respeito das supostas implicações do excesso de exposição à luz azul na pele humana fomentaram estudos sobre o tema. Pesquisas antigas já investigaram a interferência da luz no relógio biológico das pessoas, e, recentemente, surgiu o interesse em reunir e documentar dados sobre os efeitos da luz HEV na pele.
De acordo com um artigo publicado em 2018 na National Library of Medicine, do National Center for Biotechnology Information, o perfil atual da sociedade evidencia que, se por um lado as pessoas se expõem menos à luz natural, por outro, convivem muito mais com a luz azul devido ao intenso uso de suas principais fontes, como smartphones, tablets e computadores.
Ainda na publicação, pesquisas mostram que “a exposição de células da pele humana à luz emitida por dispositivos eletrônicos, mesmo para exposições tão curtas quanto 1 hora, pode gerar espécies reativas de oxigênio (EROs)”, que podem resultar em danos oxidativos que interferem negativamente na saúde da pele.
No que se refere ao estresse oxidativo, um estudo divulgado em 2015 na mesma plataforma apontou que “o estresse oxidativo na pele desempenha um papel importante no processo de envelhecimento”, tanto nas camadas mais profundas quanto nas mais superficiais da pele.
Além dos resultados que apontam o envelhecimento e demais danos à pele provenientes da exposição prolongada à luz visível, alterações na pigmentação do tecido também são investigadas. Nesse caso, em artigo publicado pela Science Direct, em 2023, além da produção de radicais livres, a superexposição à luz azul dos eletrônicos pode ocasionar alterações nas células produtoras de pigmento da pele. Por outro lado, a publicação acrescenta que a influência da luz no envelhecimento precoce do tecido carece de estudos mais aprofundados.
Entretanto, não há consenso entre os estudiosos quando o assunto é luz azul das telas versus saúde da pele. Uma publicação no Jornal da USP, em 2023, afirma que a irradiância do aparelho celular é em torno de 20 mil vezes menor que a do Sol e que parte das investigações desenvolvidas anteriormente “não estudou o efeito da luz emitida por aparelhos celulares, e, sim, o efeito de irradiação a partir de fontes que imitam os raios solares”. A conclusão, então, seria que ainda não é possível precisar se a luz emitida pelas telas dos smartphones realmente causa danos à pele.
A dermatologista Dra. Júlia Rocha é especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia
Foto: redes sociais
Ainda, de acordo com a médica dermatologista Dra. Julia Rocha, a luz azul artificial proveniente de dispositivos eletrônicos não é a verdadeira vilã da pele.
A luz azul artificial que vem das telas possui uma intensidade menor, e o que vem sendo demonstrado até agora é que os dispositivos eletrônicos não causam danos significativos na pele, como manchas e envelhecimento. Porém, os estudos ainda são inconclusivos.
Estudos recentes desmentem a ligação entre a luz azul artificial e alterações da pigmentação da pele
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“Os estudos ainda são escassos e precisamos de maiores elucidações. Em um contexto de luz visível, a nossa maior preocupação é com a luz azul emitida pelo Sol”, reforça a Dra. Júlia Rocha.
3. Como se proteger no dia a dia?
Um artigo do ano de 2020, disponível no National Library Medicine, confirma que irradiação com luz azul pode causar hiperpigmentação na pele e que o filtro eficiente para proteção da pele deve ter ativos antioxidantes, além da proteção contra raios UVA e UVB. Além disso, produtos que contenham dióxido de titânio ou óxido de ferro são mais eficientes para blindar a pele dos malefícios da luz HEV.
A pesquisa apresentada confirmou, ainda, que foi possível demonstrar que componentes como extrato da microalga e a niacinamida possuem grande potencial para “proteger contra a hiperpigmentação induzida pela luz azul”.
Vale a pena ressaltar que, para saber qual o melhor produto para cuidar da pele afetada pela luz visível, é importante consultar um dermatologista. O mercado de dermocosméticos possui uma variedade de produtos para tratar a pele e prevenir danos. No mesmo sentido, a especialista Dra. Júlia afirma que o protetor com pigmento e as formulações com antioxidantes capazes de combater os radicais livres formados são grandes aliados na proteção contra a luz azul proveniente do Sol.
Já no que diz respeito aos cosméticos que prometem proteção contra a luz azul artificial, os dermatologistas Dra. Luna Azulay, Dra. Livia Barbosa e Dr. Lucas Campos Garcia dizem que, embora existam no mercado produtos e filtros físicos que afirmam proteger contra a luz azul, a proteção contra a luz de eletrônicos não é necessária com base nas evidências atuais.
“A maioria das formulações com alegações de proteção anti-luz azul não possui respaldo científico específico para uso doméstico.” — Departamento de Fotobiologia da SBD.
Segundo especialistas, a luz azul das telas de smartphones não apresenta potencial para danificar a pele
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4. Quem precisa estar mais atento?
No que se refere à exposição do indivíduo à luz azul vinda do Sol, em algumas pessoas, pode causar ainda mais estrago, produzindo manchas e envelhecimento precoce. Nesse sentido, peles acometidas por melasma – condição que afeta o rosto com manchas escuras – e rosácea – doença inflamatória que causa vermelhidão na parte central da face – podem ser ainda mais afetadas pelos efeitos da luz HEV, que possui potencial para produzir manchas escuras. Além disso, Dra. Júlia esclarece que a pele negra pode ser bastante afetada pela luz visível emitida pelo Sol.
Estudos mais recentes apontam que, em pacientes negros, ocorre uma pigmentação mais intensa e persistente relacionada à luz visível emitida pela luz solar. Esses efeitos fotobiológicos da luz visível só se estabelecem com doses elevadas, que seriam infinitamente superiores àquelas oriundas de dispositivos eletrônicos”
No entanto, segundo a SBD, é mito que a luz azul dos aparelhos eletrônicos causa manchas e envelhecimento na pele humana. Ainda, os membros do Departamento de Fotobiologia da SBD reiteram que “o único efeito discutido foi o fotoenvelhecimento em estudos com luz de alta intensidade, não com luz de tela”.
5. Cuidados necessários
Ainda que os estudos até aqui não consigam confirmar as consequências danosas da luz visível das telas dos eletrônicos, precaução nunca é demais. Por isso, a dermatologista Dra. Júlia desmente alguns mitos que podem desinformar e atrapalhar os cuidados com a pele. O primeiro é afirmar que a luz azul afeta apenas a pele clara. Peles negras também necessitam de proteção contra os efeitos nocivos da luz visível solar.
Por fim, continua sendo fundamental o uso de protetor sempre que houver exposição ao Sol. Por outro lado, não é necessário utilizar o produto quando estiver diante de telas, reforçam os Drs. Luna Azulay, Livia Barbosa e Lucas Campos Garcia.
Com informações de National Library of Medicine – National Center for Biotechnology Information, Science Direct, Jornal da USP, The Conversation, Photochemical & Photobiological Sciences e Departamento de Fotobiologia – Sociedade Brasileira de Dermatologia.
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