Em meio ao turbilhão de lançamentos do sertanejo, Luiza Martins entrega ao público algo muito mais íntimo do que um álbum comum: Nostalgia Pura, projeto musical que começa a ser revelado nesta quinta-feira (17), nasce de um processo criativo que durou oito anos — e de memórias que ela carrega desde a infância.
Em entrevista à revista Quem, a cantora de 33 anos contou que o conceito do trabalho surgiu ainda quando dividia ideias com o parceiro de palco Maurílio Delmont (1993–2021). “A gente gostava muito de coisas das décadas anteriores. Sempre gostei de músicas mais antigas. E os shows sempre tiveram um momento nostálgico, com funk das antigas, axé antigo, as primeiras do Jorge & Mateus”, lembrou.
Luiza Martins quis criar um show que fosse mais do que musical — uma cápsula do tempo. Um resgate da energia de festas dos anos 90 e 2000, quando “as pessoas estavam mais presentes”, como ela descreve. “Hoje a gente tem dificuldade de estar de verdade na frente do outro, conversar, dançar, prestar atenção no que tá acontecendo.”
Do CD na faxina ao feat dos sonhos
Inspirada pelos dias de limpeza em casa, quando cada irmão escolhia um CD para tocar — de Belo a Padre Marcelo Rossi, passando por Gera Samba — Luiza Martins decidiu transformar seu gosto musical eclético em narrativa. Sem abandonar o sertanejo, convidou artistas que marcaram sua adolescência para participações especiais: Solange Almeida, Wanessa Camargo e a dupla Maria Cecília & Rodolfo.
“São pessoas que eu via na televisão, ouvia no rádio, estavam nos momentos mais marcantes da minha vida”, contou. Com Maria Cecília & Rodolfo, a conexão é ainda mais profunda: foi cantando uma música da dupla que Luiza venceu seu primeiro concurso musical, aos 14 anos. O reencontro se transforma agora em “Todo Santo Dia”, faixa inédita do projeto.
Tailândia em forma de música — e amor
Mas Nostalgia Pura não é só sobre o passado. Uma das faixas mais sensíveis do projeto, “Tailândia”, é uma declaração de amor à noiva, Marcela Mc Gowan, com quem viveu uma viagem transformadora no início deste ano. “Foi uma virada de chave na minha vida”, disse Luiza à Quem. “Antes, meus momentos de descanso eram brechas na agenda. Na Tailândia, me propus a desligar o celular e viver de verdade.”
A viagem não apenas renovou a artista — virou também inspiração. A música foi escrita assim que o casal voltou ao Brasil. “Tenho uma gratidão eterna pela minha mulher. Ela me bota muito para frente. Quis traduzir tudo que sinto por ela nessa canção, e quem já ouviu, recebeu muito bem.”
A primeira a ouvir foi, claro, a homenageada — e a resposta foi imediata. “Ela chorou. E eu chorei junto”, contou. Após lançamentos como “Maldivas”, de Ludmilla para Brunna Gonçalves, Luiza se une a uma nova geração de artistas que traduzem o amor entre mulheres com autenticidade e sem filtros. “A música foi feita com amor mesmo, com muito carinho para ela. Falar de amor é forte demais”, declarou.
Mais que um disco: um manifesto de Luiza Martins
Em suas declarações, Luiza Martins reconhece o impacto de sua visibilidade como artista LGBTQIA+. “As pessoas estão mais abertas para cantar o amor entre duas mulheres. A gente tem família, paga impostos, vive um amor verdadeiro. A música tem esse lugar de furar bolhas. E acho que ela vai chegar naturalmente onde precisa chegar.”
Ao mesmo tempo em que homenageia o passado — o projeto também presta tributo a Maurílio, falecido em 2021. Desde sua partida, Luiza assumiu sozinha a responsabilidade de manter vivo o sonho que os dois idealizaram juntos. “Fui devagarzinho acrescentando o que eu achava que ele gostaria. Pensei em cada detalhe: no cenário, nas músicas, até no que o DJ ia tocar entre as gravações.”