Se você é fã de longa data de bandas como Ramones, Misfits, Stooges, Dead Kennedys, Circle Jerks, The Clash, Sex Pistols, NOFX, Bad Religion e outros expoentes do punk rock de várias vertentes, sabe que não se trata apenas de música. O lendário Iggy Pop ainda está aqui, aos 78 anos, para nos lembrar disso, pasmem, fazendo isso ao citar o novo Superman, filme do diretor James Gunn.
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O punk rock, como todo fã de carteirinha sabe, tem tudo a ver com atitude e estilo de vida de pessoas que costumam ver na marginalidade o combustível para sempre questionar o status quo. É a união da paixão pela música com o não conformismo sobre convenções sociais ultrapassadas e padrões de comportamento ditados por grandes conglomerados que visam apenas o lucro a todo custo.
Iggy Pop, nascido James Osterberg Jr., é conhecido como um dos pais fundadores do punk rock, graças à sua passagem pela influente banda protopunk The Stooges e à sua subsequente carreira solo.
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Em seu auge inicial, no final dos anos 1960 e início dos 1970, ele tinha a reputação de sua presença de palco violentamente catártica, que frequentemente o deixava coberto de cortes e hematomas ao final de suas apresentações, e por seus problemas pessoais fora dos palcos envolvendo drogas.
Nas décadas seguintes, porém, ele assumiu a persona de um cantor de rock envelhecido, cujas músicas são mais desconstruções de sua própria “mitologia do punk” do que a adição de novos capítulos a um conceito que anda distorcido há algumas décadas.
Então, possivelmente não há ninguém na Terra mais qualificado para se declarar punkrocker do que Iggy Pop, que, veja bem, ridicularizou o próprio rótulo “punk” em uma entrevista de 1977, como uma tentativa de menosprezar a “paixão artística” de pessoas que tentam se aproveitar da popularidade rebelde do conceito entre os jovens visando autopromoção e outros fins que nada têm a ver com a ideia inicial.
Como Iggy Pop cita Superman como “novo punk”
Em certo momento de Superman, o próprio Clark Kent argumenta com Lois Lane que “gentileza é o novo punk” para salvar vidas. É um contraste com a versão original do movimento punk rock, que, na época, agredia a moda “ensolarada” e convenções sociais “certinhas” para questionar padrões ultrapassados que não representavam os outsiders.
Na verdade, o que Clark pregou vai em direção ao comportamento questionador original do punk, pois, se atualmente o “padrão” é seguir a visão de algo ultrapassado, então, ir contra esse conceito deturpado seria um “novo punk” — pessoalmente, concordo, pois o punk rock é algo vivo que se revitaliza e se rebela constantemente.
Vale lembrar que não é a primeira vez dessa “inversão” na cultura pop. Tank Girl, criada por Alan Martin e Jamie Hewlett, o ilustrador da banda Gorillaz, nasceu com atitude transgressora contra padrões da moda e se tornou bandeira do movimento punk feminista Riot Grrrrl no começo dos anos 1990.
Tempos depois, em uma versão atualizada, Tank Girl largou os hábitos autodestrutivos e o ódio desmedido contra o mundo para questionar o sistema dentro dele, como uma professora “certinha” — uma maneira de debochar dos padrões, mas sem a violência disfarçada de rebeldia e que tinha se tornado padrão em salas de aula.
O Superman de James Gunn não tem o mesmo nível de música pop que a maioria de seus filmes anteriores, como Guardiões da Galáxia, mas ainda mantém a conexão sonora de forma mais discreta. E, nos créditos finais, o longa termina com a faixa otimista Punkrocker, do grupo sueco Teddybears, com o lendário padrinho do punk, Iggy Pop, nos vocais.
E, perguntado sobre o tema otimista e esperançoso do novo Superman, o próprio Iggy Pop respondeu em entrevista ao The Hollywood Reporter que concorda com a visão de Clark sobre a gentileza ser o “novo punk”.
“Sempre achei que a faixa tinha alma”, disse Iggy Pop, aos 78 anos e ainda em turnê, ao The Hollywood Reporter. “O Superman é o melhor amigo que você poderia ter.”
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