Após recuar mais de 1% na véspera, o Ibovespa opera em baixa de também cerca de 1% nesta quinta-feira (10), aos 136.116 pontos, pressionado pelo anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. Já o dólar comercial amplia os ganhos perante o real, com ganhos de 0,8%, em meio à continuidade da aversão dos investidores à moeda brasileira.
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Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, tanto em exportações quanto em importações, respondendo por 12% e 15% do total, respectivamente, o que somou US$ 40,3 bilhões em 2024 — o equivalente a 1,9% do PIB. Apesar da relevância, a XP avalia que o impacto potencial das tarifas pode ser limitado, já que a maior parte das exportações brasileiras para os EUA é composta por commodities, que tendem a ser redirecionadas para outros mercados.
No lado das importações, a XP destaca que os equipamentos de geração de energia lideram a pauta, mas com uma composição menos concentrada em relação às exportações. Entre as empresas listadas, a casa aponta a Embraer (EMBR3) como a mais exposta ao novo cenário, seguida por Suzano (SUZB3) e Tupy (TUPY3).
Para a Vale (VALE3), o impacto é limitado considerando a pequena porcentagem de receitas nos EUA, inferior a 1%. Nas siderúrgicas, as tarifas já estão em vigor e a exposição é baixa.
No setor discricionário, Azzas (AZZA3) e Alpargatas (ALPA4) têm cerca de 10% das receitas nos EUA, mas o JPMorgan avalia que o impacto não será tão relevante.
“O impacto para as empresas de petróleo deve ser limitado, pois suas receitas estão principalmente ligadas aos preços internacionais das commodities, e a tarifa levaria basicamente a ajustes nos mercados de exportação”, apontam. Já para as distribuidoras de combustíveis, o mercado é essencialmente doméstico, mas podem enfrentar consequências indiretas que afetem a dinâmica das importações, como flutuações cambiais e volatilidade do mercado.
A XP também chama atenção para possíveis efeitos indiretos que devem ser monitorados, como a resposta do governo brasileiro ao anúncio, a chance de escalada para uma crise geopolítica mais ampla ou, alternativamente, a abertura de uma negociação comercial com os EUA. Além disso, há potenciais implicações sobre o câmbio, os fluxos financeiros, o investimento direto estrangeiro (IDE) e as eleições presidenciais brasileiras de 2026.
Entre as maiores baixas do Ibovespa, estão: Minerva (BEEF3, R$ 5,06, -7,66%), Embraer (EMBR3, R$ 72,15, 7,48%), além de Cyrela (CYRE3) e BRF (BRFS3), com quedas entre 3% e 4%.
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O JPMorgan comenta que o anúncio de Trump foi um “balde de água fria” para o mercado acionário brasileiro, que vinha registrando entrada contínua de capital estrangeiro nos últimos três meses, em um momento positivo. Embora seja difícil prever como os mercados vão reagir, não se descarta um agravamento do cenário até que haja uma definição mais clara.
A Ativa Investimentos também avalia que o anúncio deve pressionar ativos de renda variável no país e sobretudo, os expostos à exportação ao país. “O movimento adiciona um novo vetor de aversão a risco para ativos locais, ampliando a volatilidade e, possivelmente, alimentando a necessidade de revisões em fluxos de caixa e valuation para companhias com maior exposição ao mercado norte-americano”, explica a corretora.
Já a Genial Investimentos destaca que “a despeito do histórico de idas e vindas na política comercial do governo Trump, a especificidade do caso brasileiro (que acabou ganhando contornos mais políticos do que econômicos) contribui para que seja mais difícil para os EUA considerarem voltar atrás dessa decisão”.
Para Otávio Araújo, consultor sênior da Zero Markets Brasil, a tarifa de 50% anunciada por Trump representa um forte desafio para o Brasil. O impacto direto será sentido nos setores exportadores, mas o efeito indireto pode ser uma retração nos investimentos e maior volatilidade econômica.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu em nota oficial afirmando que qualquer medida unilateral de elevação de tarifas será respondida com reciprocidade, e destacou que o Brasil é um “país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”. Diante desse pano de fundo, as atenções recaem às 10h sobre entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para o Canal do Barão, no YouTube.
Paralelamente, o governo continua tentando preservar o decreto que aumentou as alíquotas do IOF, considerado essencial para o equilíbrio fiscal. Em reunião com os senadores Davi Alcolumbre e Hugo Motta, o ministro Fernando Haddad defendeu a legitimidade da medida, ressaltando que a prerrogativa para alterar o IOF é do Executivo. No entanto, o encontro terminou sem acordo, e novas negociações devem ocorrer até a audiência de conciliação marcada no STF para o dia 15.
Na frente de dados, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,24% em junho, recuando 0,02 ponto percentual (p.p.) em relação a abril (0,26%). O dado veio ligeiramente acima do esperado.
(Com Reuters)
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