A Embraer (EMBR3) foi apontada entre as companhias listadas na Bolsa brasileira como a mais prejudicada com a tarifa de 50% de Donald Trump, presidente dos EUA, para os produtos brasileiros.
Isso porque, com 60% de suas vendas voltadas aos EUA, a Embraer é vista como altamente exposta ao risco tarifário. Na aviação comercial, o E1 não tem substitutos diretos no mercado americano, e clientes como a SkyWest continuam demandando, mas o impacto de uma tarifa de 50% seria bem mais severo do que os 10% anteriores.
Oportunidade na renda fixa internacional: acesse gratuitamente a seleção mensal da XP para investir em moeda forte
Com esse cenário em voga, as ações EMBR3 abriram em forte queda nesta quinta-feira (10) após tarifaço, chegando a ter perdas superiores a 8%. Contudo, amenizaram as perdas ao longo da sessão, com queda de cerca de 3% no início da tarde.
Além da visão de resiliência para as ações da fabricante de jatos, que acumulam ganhos superiores a 100% em 12 meses, algumas casas de análise apontam que a baixa inicial dos ativos foi exagerada e que a empresa não seria tão afetada como poderia parecer.
Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, levando em conta que as companhias aéreas americanas que recebem os jatos da companhia brasileira seriam diretamente prejudicadas com o tarifaço, e é natural imaginar que exerceriam pressão para que a Embraer fosse excluída dessa tarifa de 50%.
PRIO prejudicada, Braskem beneficiada? Como as tarifas de Trump afetam setor na B3
Analistas veem um impacto relativamente limitado para o setor, mas com algumas empresas mais expostas
WEG e Tupy e mais: as ações de bens de capital afetadas pelas tarifas do Trump
Além destas, Mahle Metal Leve e Randoncorp devem sofrer algum impacto com o tarifaço de Trump
Além disso, desde o início, a Embraer já opera com plantas de produção nos Estados Unidos, o que, por si só, pode colocá-la fora do alcance dessas sobretaxas.
Na própria carta de Trump, no último parágrafo, ele menciona que empresas que já investem ou pretendem anunciar investimentos nos Estados Unidos seriam isentas das tarifas. “Isso também favorece a Embraer. Além disso, há uma questão de capacidade produtiva”, aponta Cruz.
Atualmente, ressalta o estrategista, a Embraer tem 383 aeronaves encomendadas por companhias americanas, e essas entregas não podem simplesmente ser realocadas para Boeing ou Airbus, já que ambas estão com suas linhas de produção comprometidas até 2030. “A Boeing tem mais de 5.600 aeronaves encomendadas ainda não entregues, enquanto a Airbus acumula cerca de 8.600. Não há espaço para absorver a demanda da Embraer sem gerar gargalos. Ou seja, se essas tarifas forem aplicadas à Embraer, o impacto será maior para a aviação regional e para a própria economia americana”, reforça.
Ele reitera que, diferentemente de commodities, nas quais é possível substituir fornecedores por alternativas de países como Colômbia ou México, no setor aeronáutico há poucos produtores com escala global. “E a Embraer está entre eles”, avaliou.
Assim, não vê um cenário em que a Embraer seja de fato prejudicada, porque isso significaria comprometer o funcionamento de dezenas de companhias americanas e colocar em risco parte relevante da cadeia aérea dos Estados Unidos.
O Morgan Stanley, por sua vez, apontou que vê a queda das ações seria uma oportunidade para comprar EMBR3, ainda que veja impacto negativo do tarifaço nas operações.
Por que Trump quer taxar o Brasil? Veja tudo o que se sabe sobre a tarifa de 50%
Setores exportadores, governo, STF e mercado reagem à tarifa mais alta já anunciada pelos EUA; saiba motivações, valores, impactos no país e como as instituições podem responder
Ibovespa Ao Vivo: Bolsa cai após tarifa de Trump; EMBR3 e BEEF3 caem, e VALE3 dispara
Bolsas dos EUA operam mistas em meio à nova escalada de guerra comercial
“Observamos que a Embraer já havia divulgado que uma tarifa de 10% sobre o Brasil poderia gerar um custo anual de US$ 80 milhões. Consequentemente, estimamos que, se a tarifa de 50% entrar em vigor, a Embraer poderá sofrer um impacto anualizado de US$ 300 a 400 milhões no EBIT [Lucro Antes de Juros e Impostos]. Apesar da manchete negativa, permanecemos otimistas em relação à história da Embraer”, apontou o banco americano.
Segundo os analistas, devido ao ciclo de estoques da empresa, espera impacto tarifário limitado no 2º trimestre de 2025 (proveniente das tarifas de 10%) e também impacto limitado no 3º trimestre de 2025. O primeiro trimestre em que esperaria pressão no EBIT é o 4º trimestre de 2025.
“Um acordo que elimine a tarifa incremental poderia trazer alívio. No entanto, reconhecemos que o mercado reagiria negativamente às tarifas mais altas sobre o Brasil. Dito isso, veríamos a queda como uma oportunidade particularmente atraente para acumular ações”, apontou.
O banco ressalta ainda que, como já destacado em relatório anterior em que elevou o preço-alvo das ações, a oportunidade para a Embraer vai além dos EUA e abrange diferentes linhas de produtos que estão protegidas dos riscos tarifários.
Assim, o Morgan Stanley tem recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para o ADR (recibo de ações negociado nos EUA), pois vê uma relação risco-retorno positiva. O preço-alvo é de US$ 65.
infomoney.com.br/">InfoMoney.