A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros segue repercutiu negativamente na imprensa internacional, com veículos classificando a medida como “destemperada”, “dramática” e até “extraordinária”, destacando o ineditismo da carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em que Trump condiciona a reversão da taxa ao fim do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de orquestrar um golpe de Estado incluindo o assassinato de autoridades.
Trump não escondeu o caráter político da retaliação na carta enviada ao governo brasileiro: além de alegar uma “relação comercial injusta”, classificou o processo judicial contra Bolsonaro como “caça às bruxas” e ameaçou novas sanções caso o Brasil adote medidas de reciprocidade. Segundo Trump, a punição se estende também à atuação do Supremo Tribunal Federal, que ele acusa de censurar empresas de tecnologia americanas, em referência à recente decisão que ampliou a responsabilização de big techs sobre publicações de usuários em redes sociais.
A Casa Branca afirma que o objetivo é “corrigir desequilíbrios”, embora os EUA tenham fechado 2024 com superávit de US$ 7,4 bilhões na balança de bens com o Brasil.
O New York Times considerou “extraordinário” o uso de tarifas por Trump para intervir em um julgamento criminal no exterior, apontando que o presidente trata impostos de importação como “porretes que servem para todos”. A emissora CNBC descreveu a carta como uma ofensiva sem precedentes por misturar política interna de outro país com medidas econômicas americanas. “É uma carta muito mais direcionada do que as outras, uma punição explícita por decisões que desagradam a Trump”, escreveu o canal.
Já o The Guardian descreveu o documento como “destemperado”, destacando que ele destoa completamente dos textos padronizados enviados a outros países, em que apenas se ajustavam nomes e taxas. O jornal também comparou o julgamento de Bolsonaro aos eventos que culminaram na invasão do Capitólio em 2021, reforçando os paralelos entre a crise política no Brasil e os episódios mais graves da era Trump nos EUA.
A rede BBC repercutiu a escalada como uma ameaça direta ao Brasil, apontando a cobrança de 50% como um salto em relação à tarifa de 10% aplicada anteriormente. Já a Bloomberg descreveu a medida como uma “dramática intensificação” da ofensiva política de Trump contra governos progressistas, com foco especial nas críticas às políticas de Lula. O Financial Times também repercutiu a medida, relatando que Trump acusou o Brasil de tratar “injustamente” o ex-presidente Jair Bolsonaro e anunciou a tarifa como forma de retaliação.
Entenda a medida
A medida foi formalizada no dia 9 de julho e entra em vigor a partir de 1º de agosto, atingindo todos os produtos brasileiros exportados aos EUA. O Brasil lidera a lista de países sancionados, que inclui 22 nações, com a tarifa mais alta. A retaliação foi recebida com forte reação do presidente Lula, que declarou que o Brasil responderá com base na lei de reciprocidade e reafirmou a soberania das instituições nacionais. O Supremo Tribunal Federal manteve a programação do julgamento de Bolsonaro para o fim de agosto, apesar da pressão diplomática americana.
Economistas alertam para os impactos nos mercados: o dólar futuro saltou, a bolsa caiu, e já se observa movimento de alta na curva de juros. Exportadores brasileiros de commodities como petróleo, carnes, aço e café devem ser os mais afetados, com risco de repasse de custos ao consumidor interno e aumento da inflação.
Ao comentar o caso, o Prêmio Nobel Paul Krugman classificou a ação como “megalomaníaca e maligna”, afirmou que se trata de um “programa de proteção a ditadores” e disse que, em uma democracia funcional, a medida por si só seria motivo suficiente para impeachment.
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