A situação em Gaza atingiu um ponto crítico. Com a fome se alastrando e a pressão internacional aumentando, Israel anunciou que lançará ajuda humanitária por via aérea para os palestinos. Essa medida desesperada surge em meio a relatos alarmantes de que o número de crianças menores de 5 anos com desnutrição grave triplicou em apenas duas semanas, segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF). As autoridades de saúde locais reportaram nove mortes por fome aguda, elevando o total desta semana para 54.
A operação de envio de comida, remédios e água será conduzida em parceria com a Jordânia e os Emirados Árabes Unidos, que utilizarão aviões para lançar pacotes com paraquedas sobre o território. No entanto, especialistas e agências humanitárias alertam que esse método pode ser perigoso, aumentando o risco de tumultos e não garantindo a precisão das entregas. Parte dos mantimentos pode acabar caindo no mar ou fora da área designada.
De acordo com o Comitê Internacional de Resgate e o Programa Mundial de Alimentos da ONU, cerca de 500 mil palestinos, de uma população de 2 milhões, enfrentam insegurança alimentar, enquanto outros 100 mil estão à beira da inanição. Estima-se que um terço da população passe vários dias sem ter o que comer.
Atualmente, apenas 70 caminhões de ajuda humanitária entram em Gaza diariamente, um número muito abaixo dos 160 previstos em um acordo entre Israel e a União Europeia. O Programa Mundial de Alimentos estima que o mínimo viável seria 100 caminhões por dia.
Restrições e Consequências
Desde o início do conflito, Israel tem restringido a entrada de alimentos e combustível em Gaza. Em um período entre março e maio, o governo israelense chegou a proibir completamente a distribuição de ajuda, na tentativa de pressionar o Hamas a se render, agravando ainda mais a privação que já afetava a população palestina.
Nos últimos dias, as redes sociais e os jornais internacionais foram inundados com imagens de crianças em estado de desnutrição, aumentando a pressão por um cessar-fogo entre Israel e o Hamas. A situação é tão grave que a comunidade internacional clama por uma solução imediata para evitar uma catástrofe humanitária ainda maior.
Impasse Diplomático
Apesar da crescente pressão, as negociações entre Israel e os Estados Unidos foram paralisadas, com acusações de que o Hamas não está disposto a fazer concessões. O então presidente Donald Trump chegou a declarar que o Hamas “não quer a paz de verdade” e que “eles querem morrer”.
A Europa, por outro lado, parece caminhar em uma direção diferente. A França, após anunciar que reconhecerá o Estado palestino na ONU em setembro, emitiu uma declaração conjunta com a Alemanha e o Reino Unido, defendendo o “fim da catástrofe humanitária na Faixa de Gaza” e alertando sobre a iminente ameaça de fome.
O comunicado foi divulgado após uma reunião entre os líderes dos três países: Keir Starmer (Reino Unido), Emmanuel Macron (França) e Friedrich Merz (Alemanha). Starmer enfrenta forte pressão do Parlamento e de seu gabinete para seguir o exemplo da França e reconhecer a Palestina, enquanto Merz descartou a ideia, pelo menos por enquanto.
Negativas e Relatos Alarmantes
Apesar das imagens chocantes vindas de Gaza, Israel continua negando que haja uma fome generalizada no território. Um alto funcionário da Defesa declarou ao jornal Haaretz que a situação é “diferente da forma como é retratada internacionalmente”, alegando que os relatos de fome fazem parte de uma “campanha liderada pelo Hamas”.
No entanto, o relatório divulgado pelos Médicos Sem Fronteiras (MSF) pinta um quadro muito mais sombrio. De acordo com a organização, cerca de 25% das crianças de 6 meses a 5 anos, gestantes e lactantes atendidas na clínica da ONG na Cidade de Gaza estavam desnutridas.
“Estamos registrando 25 novos pacientes por dia com desnutrição. Vemos o cansaço e a fome em nossos próprios colegas” – afirmou Caroline Willemen, coordenadora da clínica da organização na Cidade de Gaza.