Há uma quase unanimidade entre os agentes do mercado financeiro de que o Fomc – o comitê de política monetária dos Estados Unidos – vai novamente manter os juros americanos. A dúvida é sobre como a decisão será comunicada na quarta-feira (30), uma vez que os diretores do Fed precisam equilibrar o controle da inflação com o crescimento da atividade econômica e a manutenção do emprego. Isso sob um incessante bombardeio político sobre Jerome Powell.
Há todo um clima de incerteza sobre o tamanho do impacto inflacionário do tarifaço e, especialmente, em relação à pressão que o presidente Donald Trump tem aplicado na gestão do chairman do Federal Reserve para que a queda dos juros seja antecipada.
Para esta reunião de julho, não há muita dúvida de que a decisão do Fomc será de manter os juros na banda entre 4,25% e 4,50% ao ano. Segundo a ferramenta de monitoramento do CME Group, a probabilidade disso acontecer é de 96,9%.
A atenção se volta assim para como o comitê vai ler os sinais de pressão inflacionária que já começam a aparecer como efeito das tarifas, e qual análise fará sobre o prazo de 12 de agosto para que EUA e China cheguem a um acordo duradouro sobre as tarifas. Isso poderia confirmar ou não a expectativa de que o primeiro corte das taxas ocorra na próxima reunião, em setembro.
Para Andressa Durão, economista do ASA, a declaração de Powell após o anúncio das tarifas deverá citar os últimos dados da inflação americana, reafirmando que mais efeitos virão nos próximos meses. “Ainda assim, reforçará que considera a política monetária bem calibrada para lidar com os riscos”, avalia.
Para a economista, será importante também acompanhar os dados do PIB do segundo trimestre, que será divulgado na quarta-feira (30), antes do Fomc. “Se houver alguma surpresa, Powell enfrentará perguntas a esse respeito”, diz.
Impacto nos preços
Na reunião anterior, de 17 e 18 de junho, alguns membros do Fomc já sinalizaram que o corte poderia vir naquele mês, mas a maioria dos diretores se manteve cauteloso pelas incertezas sobre o impacto das tarifas nos preços internos.
Esses sinais já começaram a aparecer, lembra Gustavo Sung, economista sênior da Suno Research. Ele destaca que os últimos dados de inflação de junho mostraram uma reaceleração dos preços. No índice cheio, o acumulado de 12 meses está em 2,7%, e o núcleo, em 2,9%.
Alguns itens da cesta do CPI mostraram uma pressão inflacionária maior do que o conjunto todo. “Vestuário, artigos recreativos, itens de mobílias domésticas, eletrodomésticos, todos eles já começam a refletir o aumento dos custos”, diz.
A avaliação é de que, nos próximos meses, a pressão sobre os preços deverá continuar porque os estoques que estavam isentos a essas tarifas vão começar a diminuir.
“As tarifas vão começar a refletir com maior significância nos índices de inflação, principalmente no segundo semestre. E isso deve, de fato, diminuir os graus de liberdade para a política monetária norte-americana”, diz Sung.
Mercado de trabalho
Os dados de mercado de trabalho, que também pesam na decisão do Fomc, dá sinais de solidez e leve acomodação, na avaliação de Sung, com nível de emprego próximo de ou já em pleno emprego: a taxa de desemprego segue estável em 4,1%, pedidos de auxílio de desemprego caíram nas últimas semanas, e a taxa de emissão continua baixa.
“O Banco Central norte-americano deve manter a postura de cautela, porque no segundo semestre, e na próxima reunião, ele seguirá com o dilema de que a inflação deve começar a acelerar nos próximos meses. Então, por isso, é necessário manter a taxa de juros no atual ponto mais tempo”, analisa.
Início dos cortes
Para Sung, o comitê não precisa acelerar a decisão para uma queda, porque a resiliência do mercado de trabalho vai sustentar a economia. “Passado o choque das tarifas e também do anúncio de vários acordos, a gente tem mais previsibilidade. Nossa perspectiva é que se inicie o corte de juros na reunião de dezembro, a última de 2025”, afirma Sung.
Já Bruno Cotrim, economista e sócio da casa de análise Top Gain, aposta na manutenção de juros com início de cortes em setembro, como precifica o painel da Bolsa de Chicago.
“O que talvez poderia possibilitar uma queda de juros é um controle maior na geração de vagas e no ganho médio por hora. Mas, de fato, o corte deve ficar para setembro, daqui 45 dias”, diz.
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