Ex-funcionário revela bastidores do ChatGPT: segredo, pressão e mudanças


Calvin French-Owen, ex-engenheiro da OpenAI, empresa responsável pelo ChatGPT, pediu demissão da empresa e publicou um relato completo sobre o que viveu em um blog pessoal. Ele solicitou desligamento há três semanas, após um ano de trabalho na companhia, iniciado em maio de 2024. A carta aberta oferece agradecimentos especiais a alguns colegas de trabalho e relatos pessoais sobre a dinâmica dentro da OpenAI.
O desejo de compartilhar essas reflexões surgiram porque segundo Calvin, “há muita fumaça e barulho em torno do que a OpenAI está fazendo, mas não há muitos relatos em primeira mão sobre como é realmente a cultura de trabalho lá”. Abaixo, conheça um pouco mais sobre as motivações de Calvin para sair da BigTech e os bastidores sobre a atuação dele na corporação.
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ChatGPT: ex-funcionároi faz relato sobre experiência na OpenAI
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O relato chamou atenção por dos primeiros do tipo. No geral, funcionário de grandes corporações muitas vezes preferem não expor detalhes do que viveram. Calvin conta que não quis sair por conta de um drama pessoal, mas sim por um desejo em buscar um novo começo. Segundo o engenheiro, o cenário de passar de fundador do seu próprio negócio para funcionário de uma organização com 3000 pessoas era algo difícil e, agora, ele busca por um novo começo em sua carreira. Em uma carta publicada em seu blog pessoal, o profissional destaca alguns fatores, como a velocidade de crescimento da OpenAI, a rotina de trabalho e como a empresa lida com a segurança de seus projetos.
A dinâmica de trabalho
Segundo a carta aberta de Calvin, na OpenAI “não era incomum que equipes semelhantes, mas também equipes não relacionadas, convergissem para ideias diferentes.” Ele começou o trabalhando em um esforço paralelo (mas interno) semelhante ao ChatGPT Connectors, uma ferramenta de IA capaz de auxiliar na escrita e resposta de e-mails, além de traduzir mensagens.
Sam Altman é o CEO do ChatGPT, inteligência artificial de propriedade da OpenAI
Reprodução/Internet
No texto, ele reclama de um histórico de mudança de direção rápida nos projetos da companhia. Em um ano de trabalho, ressaltou que a empresa é alvo de muita atenção e regularmente era possível ver notícias divulgadas em veículos da imprensa que não haviam sido divulgadas internamente para os funcionários. “Eu contava às pessoas que trabalho na OpenAI e recebia uma opinião pré-formada sobre a empresa. Vários usuários do Twitter usam bots automatizados que verificam se há lançamentos de novos recursos em breve.”, afirma Calvin.
Uma curiosidade é que, segundo o relato publicado, a OpenAI também é um lugar muito secreto e os detalhes dos projetos em que Calvin estava trabalhando não podiam ser revelados. Basicamente, a maioria dos contatos era feito dentro de espaços de trabalho no Slack e com permissões variadas, além dos números de receita e consumo terem um acesso ainda mais restrito.
“Você está tentando construir um produto que centenas de milhões de usuários utilizam para tudo, desde aconselhamento médico até terapia. E, por outro lado, a empresa está competindo na maior arena do mundo. Prestávamos muita atenção ao que estava acontecendo na Meta, Google e Anthropic — e tenho certeza de que todos estavam fazendo o mesmo. Todos os principais governos mundiais estão observando esse espaço com grande interesse”, relata Calvin.
Ao comentar os rumores sobre os objetivos da empresa na busca por uma inteligência artificial geral (AGI), o ex-funcionário afirmou que todos os membros da equipe estão empenhados em “fazer a coisa certa” e focando nos consumidores de IA e por ser o mais visível dos grandes laboratórios, há muita difamação contra ele. Além disso, a segurança é um dos elementos com o maior grau de atenção nos processos de desenvolvimento. Por conta desse cuidado, Calvin critica o fato da maior parte do trabalho realizado não ser compartilhada com o público, o que causa uma desconfiança.
Apesar de sua política de proteção de informações internas, a OpenAI dá muita atenção ao X (antigo Twitter) para colher feedbacks dos usuários. “Um amigo meu brincou: “Esta empresa funciona com a vibração do Twitter”. Como uma empresa de consumo, talvez isso não seja tão errado.” relata Calvin.
Gestão dos projetos
A OpenAI não utilizava tantos recursos de comunicação para evitar vazamentos
Reprodução/Canva
Durante o desenvolvimento do Codex, um agente de IA focado em linguagem de programação dentro do ChatGPT, Calvin relatou que durante o processo voltou mais cedo da licença-paternidade para ajudar no lançamento do recurso. Após o retorno dele, tudo foi construído em sete semanas, desde as primeiras linhas de código desenvolvidas.
“O sprint do Codex foi provavelmente o mais difícil em que trabalhei em quase uma década. A maioria das noites era acordada até às 23h ou meia-noite. Acordava com um recém-nascido às 5h30 todos os dias. Voltava para o escritório às 7h. Trabalhava quase todos os fins de semana. Todos nos esforçamos muito como equipe, porque cada semana contava.”, relata Calvin.
O futuro da inteligência artificial
Na visão de Calvin, a busca pela IA avançada é uma verdadeira “corrida de três cavalos”, que envolve a OpenAI, Anthropic e Google. Para ele, cada uma dessas organizações seguirá um caminho diferente para chegar até esse ponto de desenvolvimento, cada uma com base em seu DNA (consumidor vs. empresas vs. infraestrutura sólida + dados).
Com informações de TecCrunch, BusinessInsider, Calv.info.
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