Empresas pagam, em média, 33% a mais em dividendos no 2º semestre; vai se repetir?

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As empresas listadas na B3 costumam caprichar nos pagamentos de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) aos investidores na reta final do ano. Um levantamento da plataforma Meu Dividendo mostra que, entre 2020 e 2024, os proventos distribuídos no segundo semestre foram, em média, 33% maiores do que no primeiro semestre.

O ano com a maior diferença foi 2021, quando as companhias distribuíram R$ 217,5 bilhões nos últimos seis meses daquele ano, montante 98,26% superior ao total do semestre inicial, com R$ 109,7 bilhões. O ano de 2022 aparece na sequência, com as companhias distribuindo R$ 243,2 bilhões no segundo semestre,  61,76% a mais do que os R$ 150,3 bilhões do primeiro.

Distribuição de proventos no 1º e no 2º semestre (2020 a 2025)

Ano 1º Semestre (R$) 2º semestre (R$) Diferença (%)
2020 59.925.466.600,94 69.737.472.006,03 +16,38%
2021 109.736.756.835,43 217.554.152.865,52 +98,26%
2022 150.382.995.216,89 243.262.068.865,91 +61,76%
2023 134.332.201.790,43 137.804.798.687,71 +2,59%
2024 164.760.190.479,98 143.309.982.003,26 -13,02%
2025 176.022.108.554,42 XX XX
Fonte: Plataforma Meu Dividendo

Por que isso acontece?

Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, esse comportamento tem explicação. Muitas empresas só conseguem aprovar distribuições adicionais após consolidarem os resultados do primeiro semestre. É quando entram em cena os dividendos extraordinários e o JCP complementar.

Além disso, o segundo semestre costuma concentrar decisões estratégicas de alocação de capital e planejamento fiscal, o que reforça a liberação de recursos para os acionistas. “Em setores como energia e bancos, há também uma sazonalidade natural: receitas mais previsíveis no início do ano e mais liberações de caixa no segundo semestre”, falou.

A tendência, porém, não é garantida. Fatores macroeconômicos, mudanças regulatórias e o próprio ciclo de investimentos das empresas podem inverter o jogo. Em 2024, por exemplo, a distribuição no segundo semestre foi 13% menor do que no primeiro – uma exceção ao padrão histórico.

Quem são as campeãs de pagamento no segundo semestre?

Quatro empresas se destacaram ao aparecer em pelo menos quatro listas de maiores pagadoras de dividendos no segundo semestre, entre 2020 e 2024, segundo o levantamento. Elas pertencem aos setores de petróleo e gás, financeiro e energia – áreas que, segundo Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, compartilham características favoráveis à distribuição de proventos: geração robusta de caixa, estruturas operacionais consolidadas e baixa necessidade de reinvestimento para manter o crescimento.

“Enquanto os juros estiverem altos e o investidor buscar segurança e retorno, empresas desses setores devem continuar em destaque. Mas vale lembrar: todo setor tem riscos. O ideal é buscar equilíbrio entre bom retorno e solidez no longo prazo”, disse para a reportagem. Importante reforçar também que perfomance passada não é garantia de retorno futuro.

Empresa Valor pago por ação (soma entre 2020 e 2024)*
Petrobras (PETR4) R$ 13,77
Bradespar (BRAP4) R$ 7,95
Taesa (TAEE11) R$ 8,41
Banco do Brasil (BBAS3) R$ 6,79
CPFL Energia (CPFE3) R$ 6,10
Fonte: Plataforma Meu Dividendo
*Soma do valor pago nos quatro anos em que apareceram na lista de distribuição de proventos

E na hora de investir em ações pensando em proventos, segundo João Daronco, analista da Suno Research, vale analisar alguns indicadores importantes. O primeiro é o dividend yield, que mostra a taxa de retorno apenas com proventos; o segundo é o payout, que indica qual percentual do lucro está sendo distribuído; e o terceiro é o endividamento. “A empresa pode até estar pagando cada vez mais dividendos, mas se o endividamento está aumentando, isso pode indicar que os proventos não são sustentáveis”, alertou o especialista.

O que esperar para 2º semestre de 2025?

As empresas da bolsa distribuíram R$ 176 bilhões em proventos no primeiro semestre deste ano, segundo o material da Meu Dividendo. Foi o maior valor no primeiro semestre (considerado o ano de 2020) e o terceiro maior valor considerando os dois semestres de cada ano.

Wendell Finotti, CEO da Meu Dividendo, disse que não é possível afirmar que o resultado do primeiro semestre irá se manter até o final deste ano, tendo em vista as incertezas geopolíticas e econômicas que pairam no momento. 



“A Selic nos patamares atuais desestimula os investimentos por parte das empresas o que pode representar um represamento de caixa no primeiro momento, mas no longo prazo, significa que as companhias poderão ter crescimento menor do que o esperado no futuro afetando sua percepção de valor pelo investidor”.

Todo o setor produtivo, ainda segundo Finotti, também está apreensivo com o equilíbrio fiscal do governo e se preparando, de forma reativa, para as mudanças trazidas pela reforma tributária, que começam a surtir efeito a partir de 2026, e isso também pode afetar os pagamentos até o restante do ano.

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