Economista: Impacto eleitoral do confronto com Trump gera ‘Natal em julho’ para Lula

O embate público entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o governo brasileiro, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva, pode ser mais do que um capítulo da geopolítica comercial: pode significar um “Natal em julho” para o Planalto. É assim que a equipe da gestora Kínitro interpreta o potencial eleitoral do confronto, especialmente em um momento de desgaste da popularidade do presidente junto a eleitores das classes C e D.

“A reação dura contra Trump pode ser usada como trunfo político. Governos que enfrentaram Trump com firmeza, como no México, viram um salto de aprovação”, diz Sávio Barbosa, economista-chefe da Kinitro Capital. Ele cita o caso da presidente mexicana Claudia Sheinbaum, cuja aprovação subiu de 70% para 85% após adotar um discurso duro contra os EUA.

No Brasil, o timing do choque externo pode favorecer Lula ao reacender sua base de apoio, especialmente entre mulheres da classe média baixa no Sudeste — eleitorado que a Kinitro identificou como em processo de “desidratação”. “O governo demorou a reagir e perdeu narrativa nos últimos meses. Esse conflito pode ser a oportunidade que faltava para recuperar terreno”, afirma Barbosa.

A gestora monitora desde março as mudanças no humor do eleitorado por meio de pesquisas proprietárias. A leitura é que a disputa presidencial de 2026 será decidida em grupos muito específicos, e o embate com Trump pode virar peça-chave nesse jogo. “A depender de como o governo conduzir a retórica, pode conseguir empacotar esse episódio como uma vitória nacionalista”, avalia Barbosa, que participou último episódio do programa Stock Pickers, apresentado por Lucas Colazzo, da XP.

Impacto nos investimentos

Mas se a briga com Trump serve como combustível político, o impacto econômico pode ser mais complexo. A proposta do ex-presidente americano de aplicar tarifas sobre importações brasileiras reacendeu alertas dentro da Kinitro. Os EUA são destino de 12% das exportações do Brasil — com peso relevante em setores como aviação, minério e siderurgia — e a adoção de tarifas de até 25% pode custar cerca de 0,3 ponto no PIB.

“Se a tarifa for implementada, o câmbio pode ir de R$ 5,40 para R$ 5,60. Isso adiciona até 20 pontos-base no IPCA”, estima Barbosa. O real valorizado foi um dos pilares para o alívio inflacionário de 2025, e a deterioração do câmbio pode colocar essa conquista em risco.

Para a Kinitro, o câmbio virou peça central da política monetária no Brasil. Os modelos da gestora mostram forte correlação entre valorização do real e queda da inflação. “Se perdermos essa âncora, perdemos também a dinâmica benigna do IPCA. O dólar caro pressiona tudo”, completa.

Inflação nos EUA

No exterior, o cenário também preocupa. O índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos (CPI) trouxe o sinal mais claro até agora de uma nova onda inflacionária. O dado veio dentro do esperado, mas revelou que os preços de bens subiram 3,5% na margem anualizada — puxados por energia e bens duráveis.

“É o primeiro dado oficial que mostra a possibilidade de um novo choque relevante nos preços”, diz Barbosa. A Kinitro vê esse movimento como consequência direta da política fiscal expansionista americana, especialmente após o pacote de US$ 3,5 trilhões aprovado com o apoio de Trump, apelidado pela gestora de The Big Beautiful Bill.

A expectativa da casa é que o PIB americano avance 1,5% em 2025 e acelere para 2,5% em 2026. “A combinação de crescimento e inflação elevada deve manter os juros altos por mais tempo”, avalia Barbosa.

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