Em um dia de tensões comerciais e expectativas no ar, o dólar à vista fechou em baixa nesta segunda-feira (21), refletindo um misto de reações do mercado às falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e aos desenvolvimentos nas relações comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos. Vamos entender o que movimentou o mercado cambial hoje.
Haddad e os Planos de Contingência
Logo pela manhã, Haddad comentou à rádio CBN sobre os planos do governo brasileiro para lidar com a ameaça de tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos. O ministro foi enfático ao dizer que o objetivo não é retaliar, mas sim proteger a economia brasileira de medidas que possam ser mais prejudiciais do que benéficas.
“Tem medida que é inócua, vai ferir mais a economia brasileira [do que ajudar]“, comentou Haddad, sinalizando uma postura cautelosa do governo.
Essa declaração parece ter injetado uma dose de confiança no mercado, que já vinha demonstrando otimismo com a valorização do minério de ferro e a desvalorização da moeda americana no cenário externo.
Cotação e Fatores Influenciadores
Às 16h22, o dólar à vista registrava uma queda de 0,37%, cotado a R$ 5,567 na venda. No mercado futuro, o dólar para agosto também operava em baixa, ainda que mais branda, aos R$ 5,592. Essa movimentação foi influenciada por diversos fatores:
- Valorização do Minério de Ferro: A alta consistente do minério de ferro, importante produto de exportação brasileiro, contribuiu para o fortalecimento do real.
- Desvalorização do Dólar no Exterior: A fraqueza da moeda americana em outros mercados também exerceu pressão para baixo sobre a cotação no Brasil.
- Declarações de Haddad: A postura ponderada do ministro da Fazenda acalmou os ânimos dos investidores, que temiam uma escalada nas tensões comerciais.
- Alívio nas Projeções de Inflação: A pesquisa Focus, divulgada recentemente, trouxe projeções mais otimistas para a inflação, o que também favoreceu a valorização do real.
A mediana das projeções do Focus para o IPCA de 2026 recuou de 4,50% para 4,45%, ficando abaixo do teto da meta pela primeira vez desde março. Essa queda reflete a expectativa de uma desaceleração da economia, impulsionada, em parte, pelos possíveis efeitos desinflacionários das tarifas dos EUA.
Unidade Nacional e Paciência
Fernando Haddad também enfatizou a importância da unidade e do interesse nacional diante da tarifa de 50% imposta pelos EUA a produtos brasileiros. Ele ressaltou que o governo está trabalhando para encontrar uma solução, mas que é preciso ter paciência e evitar medidas precipitadas.
“É possível, sim, chegarmos em agosto sem resposta dos EUA“, afirmou Haddad em entrevista à Rádio CBN, demonstrando confiança em uma resolução pacífica do conflito.
Balanços nos EUA e na Europa
Enquanto o mercado brasileiro digeria as informações domésticas, a temporada de balanços corporativos também agitava os mercados internacionais. Nos EUA, a Verizon reportou um lucro líquido de US$ 5,1 bilhões no segundo trimestre de 2025, superando as expectativas dos analistas. Já na Europa, a Stellantis, gigante do setor automotivo, amargou um prejuízo líquido de 2,3 bilhões de euros no primeiro semestre, impactada pelas tarifas impostas pelos EUA.
Negociações em Andamento
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, declarou que as negociações comerciais estão avançando, mas que a qualidade dos acordos é mais importante do que a pressa em finalizá-los.
“Não vamos nos apressar“, afirmou Bessent, sinalizando que as discussões podem se estender por mais tempo.
Diante desse cenário, o mercado brasileiro segue atento aos próximos capítulos dessa novela comercial, que promete influenciar a cotação do dólar e o desempenho da economia nos próximos meses.