Desigualdade Social Acelera Envelhecimento, Aponta Estudo

Um estudo recente, publicado na revista científica Nature Medicine, trouxe à tona uma realidade preocupante: o envelhecimento cerebral pode ser significativamente acelerado por fatores externos como instabilidade política, poluição do ar e, de forma alarmante, a desigualdade social. A pesquisa, conduzida por uma equipe internacional de 41 cientistas, incluindo três brasileiros com o apoio do Instituto Serrapilheira, analisou dados de mais de 160 mil participantes em 40 países, incluindo o Brasil.

A metodologia utilizada pelos pesquisadores envolveu o uso de modelos de inteligência artificial (IA) e modelagem epidemiológica para avaliar as chamadas “diferenças de idade biocomportamentais (BBAGs)”. Este conceito mede a disparidade entre a idade real de uma pessoa e a idade prevista com base em sua saúde geral, cognição, educação, funcionalidade e fatores de risco, como saúde cardiometabólica e deficiências sensoriais. Os resultados desafiam a visão tradicional de que o envelhecimento é predominantemente influenciado por fatores individuais, como genética e estilo de vida.

O Impacto do Ambiente no Envelhecimento

Um dos autores do estudo, Eduardo Zimmer, professor da UFRGS, enfatiza a relevância dos achados para países como o Brasil, marcados pela desigualdade.

Os resultados mostram, de maneira marcante, que o local onde vivemos pode nos envelhecer de forma acelerada, aumentando o risco de declínio cognitivo e funcional. Em um país desigual como o Brasil, esses achados são extremamente relevantes para políticas públicas” – diz Eduardo Zimmer, professor da UFRGS e um dos autores do estudo.

Os pesquisadores identificaram que o envelhecimento acelerado está associado a diversos fatores, incluindo:

  • Níveis mais baixos de renda
  • Má qualidade do ar
  • Desigualdade de gênero
  • Questões migratórias
  • Falta de representação política
  • Liberdade partidária limitada
  • Direitos de voto restritos
  • Democracias frágeis

Além disso, o estudo aponta que países com altos índices de corrupção, baixa qualidade democrática e pouca transparência tendem a apresentar maiores índices de envelhecimento. A confiança no governo, por outro lado, está associada a melhores condições de saúde, enquanto a desconfiança e a polarização política podem aumentar a mortalidade e enfraquecer as respostas de saúde pública.

Os cientistas sugerem que a exposição prolongada a contextos de governança instável pode levar a um estado crônico de estresse, resultando em declínio cardiovascular e cognitivo. Interessantemente, o estudo também observou diferenças geográficas significativas: europeus e asiáticos apresentaram um envelhecimento mais lento, enquanto africanos mostraram um envelhecimento mais rápido, com o Brasil situado em uma posição intermediária.

O local de nascimento e de moradia influenciam de maneira desigual o cérebro de todos. Viver na Europa, na África ou na América Latina tem níveis diferentes de impacto no envelhecimento por causa da disparidade na disponibilidade de recursos e acesso à saúde” – explica Wyllians Borelli, pesquisador da UFRGS e um dos autores do estudo.

Outro pesquisador da UFRGS, Lucas da Ros, ressalta a importância de priorizar a diminuição das desigualdades sociais e o desenvolvimento regional para promover um envelhecimento populacional mais saudável, antes de focar apenas em riscos individuais. Este estudo lança uma nova luz sobre a complexa interação entre fatores sociais, políticos e de saúde, e destaca a necessidade urgente de políticas públicas que abordem as desigualdades para garantir um envelhecimento mais saudável e equitativo para todos.