Como surgiram os memes? Veja evolução da linguagem nas redes sociais


Os memes já circulavam como expressões culturais antes de ganharem forma em imagens engraçadas na web. Isso porque o conceito não surgiu na Internet. Charges e tirinhas de jornais do século passado já capturavam sentimentos coletivos e, em poucas palavras ou imagens, geravam um sentimento de identificação ou humor. Assim, o nome “meme” foi cunhado nos anos 1970, pelo biólogo Richard Dawkins, com o intuito de definir como ideias e comportamentos se espalham de forma quase biológica: por repetição, adaptação e imitação. Mas foi com o avanço da web e, principalmente, das redes sociais, que os memes ganharam a velocidade, a estética e o impacto que conhecemos hoje.
De fóruns como o Reddit ao Instagram, X (antigo Twitter) e TikTok, eles passaram (e ainda passarão) por transformações profundas, deixando de ser apenas imagens com frases engraçadas e carregando uma linguagem própria, carregada de ironia, crítica e pertencimento. Nas linhas a seguir, entenda de onde vêm os memes, como eles evoluíram nas redes e quais deles marcaram a história da internet. Veja, ainda, por que se tornaram ferramentas políticas e o que esperar dos próximos capítulos dessa linguagem que já é parte essencial do cotidiano online.
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Como surgiram os memes? Veja evolução da linguagem nas redes sociais
Arte/TechTudo
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1. Como surgiram os memes?
Por incrível que pareça, a palavra “meme” não nasceu na internet. Ela foi cunhada em 1976 pelo biólogo evolutivo Richard Dawkins, no livro “O Gene Egoísta”, para explicar como certas ideias e comportamentos se espalham entre as pessoas. Segundo o estudioso, foi necessário “um substantivo que passe a ideia de uma unidade de transmissão cultural, ou uma unidade de imitação”. Assim como os genes – inclusive, é daí que veio o nome – os memes se replicam, sofrem mutações e sobrevivem conforme sua capacidade de serem compartilhados e assimilados.
Esse “gene cultural” pode ser uma melodia, um bordão, uma crença ou qualquer elemento que passe de “mente em mente”. O primeiro registro de que se tem conhecimento surgiu em 1921 (antes mesmo de receber o nome dado por Richard Dawkins), em uma tirinha publicada na revista The Judge, da Universidade de Iowa. Nele, um desenho com dois quadros abordava o tema “Expectativa x Realidade”, no sentido de “Como você pensa que parece quando uma fotografia com flash está sendo tirada”. Frequentemente, este é considerado o primeiro meme do mundo.
Primeiro meme do mundo abordava o tema “Expectativa x Realidade” em tom de humor
Reprodução/Medium
Kirby Conrod, professor de linguística no Swarthmore College, afirma que “explicaria o conceito de um meme — um pedaço de informação autorreplicante — perguntando a alguém sobre uma piada interna que eles tiveram com amigos ou um jingle publicitário que ficou preso em sua cabeça por 20 anos. Esse pedaço de informação, a piada ou a musiquinha, se autorreplica porque nós, humanos, gostamos de compartilhar e repetir coisas”. É com esta ideia que as pessoas compartilham, diariamente, conteúdos de humor, identificação e até pitadas de autodepreciação.
2. Evolução dos memes nas redes sociais
Com o surgimento da Internet, o conceito de “meme” ganhou terreno fértil, principalmente na década de 1990. Imagens, vídeos ou trechos de áudio eram enviados por e-mail, fóruns ou compartilhados em sites rudimentares. Um bom exemplo é o “Dancing Baby”, criado em 1996. O bebê, renderizado em 3D e dançando cha-cha-cha, se espalhou rapidamente. Vale destacar que os conteúdos dessa época ainda não tinham o formato que associamos hoje aos memes, mas já demonstravam o potencial de replicação rápida, adaptável e altamente visual que caracteriza os memes modernos.
“Dancing Baby” foi um dos primeiros memes a se espalhar pela web
Reprodução/Google
Já nos anos 2000, plataformas como Reddit passaram a permitir o compartilhamento desses conteúdos, além de fomentar uma “abordagem comunitária”, onde outros usuários podiam comentar a publicação. De meados dos anos 2000 até 2010, pode-se considerar a era de ouro dos memes na Internet. Foi nessa época que vieram à tona o “Trollface”, “Forever Alone” e “YU NO”, clássicos conhecidos em todo o mundo.
Com a chegada de redes como Facebook, Instagram e X (antigo Twitter), a ironia, o deboche e a metalinguagem se tornaram elementos centrais. Mais recentemente, plataformas como TikTok transformaram o meme em formato audiovisual, onde áudios, dublagens e cortes rápidos se misturam para dar origem a um novo tipo de viral. Nesse cenário, o meme não é apenas uma piada: ele se torna uma linguagem própria, capaz de transmitir ideias, emoções e críticas em poucos segundos.
Trecho do filme Pulp Fiction, meme “Travolta Confuso” é um dos mais famosos da web
Divulgação/Google
É importante perceber que a maioria dos memes é criada pelos usuários em seus próprios computadores ou celulares. Qualquer conteúdo pode ganhar esse título: vídeos familiares engraçados, acontecimentos da cultura pop, trechos de novelas, séries, filmes e desenhos animados… Tudo tem potencial na web. A consequência disso vai além do divertimento. De acordo com Samantha Sage, cofundadora e diretora de criação da Betches , empresa de mídia voltada para mulheres da geração Y, os memes “agora têm a capacidade de ajudar novos programas de TV ou até mesmo músicas a ganhar popularidade, tornando-se a base de uma tendência viral”.
O mercado publicitário, inclusive, utiliza com frequência esse tipo de linguagem, já que as empresas que adotam os memes são consideradas descoladas. Vale destacar, contudo, que apesar de serem uma fonte de humor, os memes também podem ser usados como “arma” para disseminar ódio, como conteúdos racistas, machistas e xenofóbicos. Assim, antes de clicar em “compartilhar”, é imprescindível refletir acerca da mensagem que será transmitida.
3. Memes que marcaram a Internet
Alguns memes se destacaram tanto que viraram símbolos culturais da Internet. O “Rickroll”, por exemplo, nasceu em 2007 como uma pegadinha em que o usuário era redirecionado inesperadamente para o clipe da música Never Gonna Give You Up, de Rick Astley. O vídeo, datado de 1987, voltou à tona por puro humor e acabou se tornando um clássico da cultura digital. Outros memes ganharam rostos e nomes. O “Grumpy Cat”, com sua expressão rabugenta, virou um fenômeno global. Estampou camisetas, ganhou livros e chegou até a estrelar um filme. Já o “Nyan Cat”, um gato pixelado voando com rastro de arco-íris, virou símbolo da web por volta de 2010.
Nyan Cat virou símbolo da internet em 2010
Divulgação/Google
No Brasil, a criatividade no universo online chama atenção no mundo inteiro. Conteúdos criados por aqui circulam em diferentes idiomas, plataformas e contextos, muitas vezes sem nem precisarem de tradução. A forma como o brasileiro lida com humor, improviso e crítica social transforma qualquer situação do dia a dia em meme. Entre os memes mais marcantes do país, estão personagens que viraram praticamente ícones da cultura pop digital. A “Nazaré confusa”, por exemplo, é uma montagem com a atriz Renata Sorrah na novela Senhora do Destino, combinada com fórmulas matemáticas flutuando. A imagem ultrapassou as fronteiras do Brasil e até hoje é usada para representar confusão mental ou situações complexas. Em vários países, inclusive, a atriz é reconhecida nas ruas como “math lady”.
Meme da “Nazaré Confusa” se espalhou em diversos lugares do mundo
Divulgação/Google
Outro nome essencial nesse cenário é o de Gretchen. Com suas expressões exageradas, reações espontâneas e frases diretas, ela foi adotada como “rainha dos memes” nas redes sociais. Seus vídeos são usados para representar desde empolgação até pura ironia – e a repercussão foi tanta que ela chegou a ser convidada para participar de videoclipes internacionais, como o da cantora Katy Perry.
Memes da Gretchen têm tanta visibilidade que ela chegou a ser convidada para participar de videoclipes internacionais, como o da cantora Katy Perry.
Reprodução/Google
Além disso, o humor visual brasileiro se destaca por sua rapidez e adaptabilidade. Quando um assunto bomba, em poucos minutos já surgem montagens, vídeos e piadas circulando em grupos de WhatsApp, nos stories do Instagram e no X (antigo Twitter). Esse senso coletivo de humor, aliado à liberdade criativa das redes, cria um ambiente fértil para o surgimento de memes únicos, cheios de personalidade e difíceis de replicar fora daqui. O resultado é que o Brasil, além de consumir memes em massa, também exporta formatos, bordões e estilos de edição que acabam influenciando outras culturas digitais.
4. Memes como ferramenta política nas redes
Embora tenham nascido como entretenimento, os memes também se tornaram uma estratégia poderosa de comunicação política. Isso acontece porque eles são fáceis de entender e compartilhar – e, por isso, têm um alcance muito maior entre o público jovem e conectado. Durante campanhas eleitorais, debates ou crises institucionais, os memes são usados tanto para reforçar posicionamentos quanto para satirizar adversários. Muitas vezes, um meme consegue resumir toda uma crítica social em uma imagem ou frase de impacto, que viraliza antes mesmo da imprensa tradicional dar conta do assunto.
Esse fenômeno, porém, tem dois lados. Se, por um lado, os memes ampliam a participação e tornam o discurso político mais acessível, por outro, também podem ser usados para disseminar desinformação e reforçar narrativas enviesadas. A informalidade da linguagem e a velocidade com que se espalham tornam difícil verificar a origem ou o propósito de muitos conteúdos virais, exigindo atenção redobrada dos usuários.
5. O futuro dos memes
O meme é, por natureza, mutável – e imprevisível. Ele muda de formato, de plataforma e até de função. Com a popularização da inteligência artificial, novas possibilidades estão surgindo: já é possível criar memes em vídeo com vozes clonadas, gerar imagens hiper-realistas a partir de comandos ou editar rostos de forma quase imperceptível. Isso pode acelerar ainda mais a produção e replicação de conteúdos virais – além de levantar mais alertas sobre o uso ético e os limites da manipulação digital.
Ao mesmo tempo, o comportamento do público está mudando. A geração Z e os usuários mais jovens já consomem memes de maneira mais fragmentada, muitas vezes em nichos e formatos que escapam das plataformas mais tradicionais. Memes do TikTok, por exemplo, podem ser incompreensíveis fora daquele ambiente, o que mostra como o humor digital também se adapta aos códigos de cada rede.
O futuro dos memes, portanto, não é apenas sobre tecnologia, mas sobre linguagem. Eles continuarão sendo ferramentas de expressão, de crítica e de pertencimento – mas exigirão cada vez mais letramento digital dos usuários para interpretar suas camadas, seus sentidos e seus impactos no mundo real.
Com informações de The New York Times, Spielwarenmesse e Medium
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