Nas últimas semanas, as tensões geopolíticas entre EUA e Brasil se intensificaram ainda mais, aponta o JPMorgan. Após a ameaça de imposição de tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras pelos EUA, o presidente Lula fez um pronunciamento formal ao país, alertando que as plataformas digitais devem cumprir as leis brasileiras e que o governo está disposto tanto a negociar quanto a retaliar.
Ao mesmo tempo, o presidente dos EUA, Donald Trump, enviou uma carta ao ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, expressando preocupação com o que interpreta como “tratamento terrível” e pedindo o fim de “ataques políticos e censura”.
Enquanto isso, o senador americano Lindsey Graham mencionou o Brasil ao defender um projeto que permitiria aos EUA impor tarifas de até 100% sobre países que compram petróleo e derivados da Rússia, sentimento ecoado pelo secretário-geral da OTAN, Mark Rutte.
Além disso, o diretor do Conselho Econômico Nacional dos EUA, Kevin Hassett, mencionou o Brasil em relação ao comércio com outros países. O Brasil tem mais de 90% das importações da Rússia de combustíveis refinados e fertilizantes, estes últimos insumos importantes para o setor agrícola, carro-chefe do crescimento econômico brasileiro. Isso representa cerca de 40% das importações brasileiras de fertilizantes e aproximadamente 30% das importações de combustíveis refinados provenientes da Rússia.
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“Esse aumento do risco geopolítico envolvendo diretamente o Brasil é uma novidade nas perspectivas. A probabilidade de uma nova escalada na relação EUA-Brasil é agora substancial. Mas, embora isso possa se tornar uma fonte crescente de ventos contrários para o crescimento do PIB, mantemos nosso cenário inalterado por enquanto”, destacam os economistas Cassiana Fernandez, Vinicius Moreira e Mirella Sampaio, que assinam o relatório.
As tarifas de 50% ainda estão no topo da faixa das impostas pelos EUA, o que, junto com a experiência de outros países, sugere que isso pode ser pelo menos parcialmente revertido em algum momento.
Além disso, antes de 2022, o Brasil importava pouco combustível refinado da Rússia, sugerindo que essas importações poderiam ser substituídas por outras fontes, embora possivelmente a um custo maior. O projeto de lei dos EUA não menciona a importação de fertilizantes russos — o país é o maior exportador global e o Brasil o maior importador desses produtos. “Mas, no geral, a geopolítica pode desempenhar um papel crescente na definição das perspectivas econômicas, políticas e financeiras do Brasil”, avaliam.
Os economistas ainda apontam que isso os leva a outro desenvolvimento significativo da semana. Foram divulgadas duas pesquisas sobre a popularidade do governo Lula, indicando uma recuperação nas avaliações em contraste com o mês anterior.
“É difícil discernir o principal fator por trás dessas flutuações, se foi a recente queda nos preços dos alimentos, a batalha política entre o governo e o Congresso, ou fatores geopolíticos. Isso é especialmente difícil de determinar dado que as avaliações positivas aumentaram apenas cerca de 3 pontos percentuais após meses de queda”, avalia. Contudo, também se observa que as tarifas dos EUA foram um fator por trás da melhora. Além disso, reportagens indicaram que o monitoramento interno do governo começou a melhorar após a resposta do presidente ao anúncio de Trump.
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