Em meio a um mundo cada vez mais acelerado e cheio de incertezas, NUNEZ usa Karavana para convidar o público a uma reflexão profunda sobre o sentido da vida, do tempo e das relações humanas.
O álbum, que mistura rap, samba, MPB e outras influências brasileiras, nasce de um processo intenso de autoconhecimento e desejo de transformação social.
Em entrevista ao Terra, o artista explica como o projeto busca resgatar a autenticidade perdida e fortalecer a coragem necessária para viver com propósito em tempos desafiadores.
Sua fala sobre modernizar o passado para revolucionar o futuro é potente. Como isso se aplica à sua música?
NUNEZ: O passado é um lugar de referência, não de residência. É um local onde podemos buscar inspiração, compreender nossa história e moldar nosso presente. Por isso, acredito em fazer a minha própria onda e me inspirar em ideias e sons do passado para criar o novo. Eu quero ter uma obra autêntica, que toque as pessoas de verdade.
“Karavana” carrega um discurso forte sobre propósito e legado. Qual foi o ponto de partida emocional desse projeto?
NUNEZ: Eu passei por muitas mudanças na minha vida nos últimos anos, tanto no lado profissional quanto no pessoal e espiritual. Durante o processo de criação do disco, enxerguei a necessidade de ressignificar o sentido de viver, de haver uma mudança holística na sociedade. As nossas relações já são tão vazias, somos reféns da tecnologia e enxergamos o fim do mundo tão próximo…”
“Hoje vivemos com muito conforto, mas, ao mesmo tempo, muitas incertezas. Então, nessa viagem que é a vida, como fazer diferente daqui para frente e ter sede de viver, com amor, propósito, buscando deixar um legado? Esse disco vem para fortalecer essa mensagem de que a nossa passagem aqui na Terra é curta e, por isso, devemos aproveitar ao máximo o caminho — ele importa muito mais do que a chegada.
Como você vê a importância de artistas como você trazerem mensagens positivas num tempo que parece colapsar?
NUNEZ: Acho que cada faixa do disco representa um pouco desses sentimentos envolvidos no processo de viver com intensidade em tempos difíceis. As letras falam sobre coragem, positividade, fé, autoconfiança, amor, medo, originalidade, alegria etc. Acredito que são temas necessários para se falar em 2025. Muita gente está perdida, a forma como vivemos está mudando muito rápido, e acho que o disco pode servir como uma bela reflexão para acalmar as mentes pensantes que o escutarem inteiro.
A coletividade é um eixo central no seu disco. Qual a importância das trocas e afetos na construção desse álbum?
NUNEZ: Karavana foi um disco feito a muitas mãos. Desde o processo de produção das faixas, com vários artistas, produtores e compositores envolvidos, até a gravação dos materiais audiovisuais — que contou com quase 40 pessoas no set de filmagem, de maneira independente. Isso só foi possível porque todas essas pessoas acreditaram e se dedicaram como se fosse algo delas, sem esperar muito em troca, apenas por acreditarem na mensagem e no meu propósito. Isso é muito gratificante para mim, ver que essa troca é mútua na construção da arte. O disco traz essa mensagem de acreditar na força da coletividade para qualquer situação na vida. Quero que as pessoas tenham menos ego e mais amor.
Nunez e a a identificação do público jovem com o seu trabalho
Como você imagina que o público jovem vai se identificar com esse projeto?
NUNEZ: Acho que a juventude vive esse momento de colapso das informações. Está tudo muito bagunçado e muito igual. Falta arte com mensagem, com propósito. Então eu espero que, de alguma forma, consiga cativar os jovens e passar uma mensagem de positividade para o futuro. Quero encorajá-los a correr atrás dos seus sonhos, sempre buscando fazer do mundo um lugar melhor.
O que “Karavana” revela sobre o NUNEZ de hoje — e o de amanhã?
NUNEZ: Karavana revela um NUNEZ mais maduro, que aprendeu a abraçar sua essência sem pedir licença. O disco mostra um lado meu que não tem medo de se expor, de experimentar, de misturar referências e de cantar o que sente de verdade. Hoje, estou mais consciente do meu propósito e da potência que é transformar minha vivência em arte. Ao mesmo tempo, imagino o NUNEZ de amanhã como um artista que quer construir algo sólido, próspero, que possa inspirar cada vez mais pessoas. O NUNEZ segue em movimento, sempre aberto ao novo, mas com os dois pés fincados naquilo em que acredita.
O disco é quase um convite à desaceleração num tempo de hiperconexão. Como você, pessoalmente, lida com essa urgência constante por resultados e visibilidade?
NUNEZ: É um desafio diário. Hoje, vivemos num ritmo que exige performance o tempo inteiro — likes, views, compartilhamentos. E eu, como artista, sempre senti na pele essa pressão. O artista precisa de tempo para criar, pensar… Então tento não me apegar a números, comentários negativos ou vídeos que não atingem o resultado esperado. Acredito que a constância e o movimento — principalmente fora das redes — são cruciais para seguir trilhando um caminho de sucesso.
“Karavana” também propõe um mergulho em sentimentos e fragilidades. Para você, vulnerabilidade é força?
NUNEZ: Totalmente. Ser vulnerável é abrir espaço para o outro te reconhecer. É mostrar que, por trás do artista, há uma pessoa real: que ama, erra, sofre, se empolga, sente medo. Para mim, a arte mais potente é aquela que parte da verdade. E a verdade mora nas brechas, nas dobras, nas dores também.
Você enxerga esse álbum como um capítulo ou como um ponto de virada na sua jornada artística?
NUNEZ: Eu considero que é um capítulo muito importante no desenrolar da história. Ainda tem muita coisa por vir, e eu espero que esse disco me coloque cada vez mais na cena, que traga muitos frutos e muito reconhecimento pelo meu trabalho — tanto do público quanto de outros artistas e produtores.