Brasil se destaca na IA com criatividade, código aberto e foco em produtividade

A inteligência artificial deixou de ser tendência para se tornar parte essencial da estratégia das empresas e o Brasil tem se destacado nesse cenário com criatividade, uso de código aberto e foco em produtividade. A avaliação é de Jaqueline Ariane, especialista em IA na IBM, em entrevista ao Podcast Canaltech.

Ouça o episódio com Jaqueline Ariane no Podcast Canaltech disponível nas principais plataformas de áudio.


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Segundo Jaqueline, o uso da IA nas organizações passou a ser um requerimento natural dos próprios profissionais, que já utilizam ferramentas inteligentes em seu dia a dia e esperam esse mesmo tipo de apoio dentro do ambiente corporativo. “A gente não consegue mais trabalhar sem produtividade. A IA ajuda a lidar com o excesso de tarefas, reuniões, documentos…”, afirma.

Esse comportamento está refletido nos números: uma pesquisa global encomendada pela IBM com mais de 2.400 tomadores de decisão de TI mostra que 78% das empresas brasileiras pretendem aumentar seus investimentos em IA até o fim de 2025. E mais da metade já está de olho no código aberto como forma de acelerar essa transformação.

Código aberto: inovação mais acessível e estratégica

Para Jaqueline, a popularização do código aberto é uma resposta à necessidade de escalar inovação com mais flexibilidade. “Hoje as empresas já entendem que não vão adotar um único modelo de IA. Elas vão combinar soluções, escolher o modelo que melhor atende a cada caso de uso e avaliar o custo-benefício”, explica.

O levantamento da IBM confirma esse movimento: 51% das empresas que usam ferramentas de IA baseadas em código aberto já observam retorno positivo sobre o investimento (ROI), contra apenas 41% das que não utilizam.

Além disso, mais de 80% dos entrevistados afirmam que ao menos um quarto das soluções de IA em suas empresas já são baseadas em código aberto.

Obstáculos ainda persistem e vão além da tecnologia

Apesar do avanço, Jaqueline alerta que ainda há barreiras importantes, principalmente relacionadas à qualidade dos dados e à falta de alinhamento estratégico.

“Muitas empresas conseguem fazer uma prova de conceito, mas, na hora de colocar em produção, esbarram na fragmentação ou ausência de dados confiáveis. Ou então começam projetos movidos por euforia, sem metas claras ou ROI definido e aí a chance de o projeto não sair do piloto é muito grande.”

Esses desafios aparecem também na pesquisa: 69% das empresas brasileiras conseguem sair do piloto para produção em menos de um ano, mas muitas ainda enfrentam dificuldades para escalar projetos com consistência.

ROI, impacto humano e novas carreiras

Ao ser questionada sobre o foco excessivo em retorno financeiro, Jaqueline chama atenção para o impacto nas pessoas. “Não dá para olhar só para o ROI e esquecer o impacto humano. A IA automatiza tarefas, sim, mas também abre espaço para novas funções como engenheiro de prompt, que nem existia até pouco tempo.”

Segundo o estudo, as métricas mais usadas para calcular o retorno dos investimentos em IA vão além do dinheiro: desenvolvimento mais rápido de software (31%), inovação acelerada (24%) e ganho de produtividade (21%) são os principais indicadores considerados pelas empresas.

Jaqueline defende que todas as áreas e não só a de tecnologia devem se aproximar da IA. “As empresas precisam criar cultura e capacitação para que essa transformação seja realmente inclusiva e sustentável.”

O papel do Brasil no mapa global da IA

Para a executiva, o Brasil pode se destacar mundialmente com sua criatividade e capacidade de adaptação. Um exemplo citado por ela é a assistente virtual Guria, criada para atender a população do Rio Grande do Sul via WhatsApp, com linguagem adaptada ao dialeto local.

“A criatividade brasileira pode ser o grande motor da IA aplicada ao atendimento ao cliente, serviços públicos e soluções que realmente façam diferença na vida das pessoas”, diz.

O que define o sucesso de um projeto de IA?

Mais do que ROI imediato, Jaqueline aponta que o sucesso está em combinar produtividade, governança e mitigação de riscos. “Um chatbot que alucina, dá desconto errado ou responde com informações equivocadas pode gerar prejuízos milionários para a imagem da empresa”, alerta.

Ela compartilhou o caso da própria IBM, que automatizou 100% dos processos de RH com IA generativa e conseguiu reduzir em 40% os custos operacionais da área.

O que esperar até 2026?

Para os próximos anos, a tendência é a chegada dos agentes de IA especializados, que atuarão em áreas como RH, supply chain e atendimento ao cliente, todos orquestrados para trabalhar de forma integrada.

“Estamos entrando na fase de levar os projetos do piloto para a produção. A jornada agora é de escala, automação e governança”, conclui.

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