O pessimismo recente para as ações do Banco do Brasil (BBAS3) ocorre, entre outros fatores, em meio às expectativas para o balanço do segundo trimestre de 2025 (2T25), a ser divulgado no próximo dia 13 de agosto.
Neste cenário, o JPMorgan aponta que os últimos dados divulgados pelo Banco Central do Brasil (BCB) não são animadores para os empréstimos ao agronegócio e, consequentemente, para o Banco do Brasil.
“Embora os investidores esperem um segundo trimestre de 2025 (2T25) desafiador, estamos preocupados que possa ser ainda mais difícil, pois estimamos que a formação de novos empréstimos ‘ruins’ no agronegócio possa dobrar trimestre a trimestre (em relação a um 1T25 já pressionado)”, avaliam os analistas do banco.
Assumindo que as tendências do setor se reflitam para BBAS3 (que recentemente tem apresentado desempenho pior que o setor) e que a empresa mantenha seu nível histórico de provisões para estágios 2 e 3, poderia haver um aumento sequencial de cerca de 20% nas provisões para o agronegócio, ou cerca de R$ 6 bilhões em provisões para perdas com empréstimos (LLPs), ante R$ 5 bilhões no trimestre anterior.
Considerando que as provisões para pessoas físicas e jurídicas permaneçam semelhantes ao último trimestre, em torno de R$ 6 bilhões (e acreditam que podem piorar), isso implica provisões brutas de cerca de R$ 12 bilhões (excluindo recuperações e baixas).
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“Mais do que prever um 2T ou 3T desafiador, nossa mensagem é que os ciclos de crédito podem ser longos no Brasil, especialmente para esse segmento, que tende a ter muitas renegociações e refinanciamentos”, aponta Yuri Fernandes, analista que assina o relatório.
Desta forma, o banco americano aproveitou para revisar os números e aumentar as provisões, prevendo agora um lucro líquido de R$ 4,9 bilhões para o trimestre (-19% em relação às estimativas anteriores e 15% abaixo do consenso).
“Acreditamos que os próximos dados do BCB para maio, a serem divulgados no início de agosto, podem ser um catalisador importante para essa tendência negativa”, avalia. Além disso, também reduziu marginalmente os resultados do 3T25 para R$ 6 bilhões (-10% abaixo do consenso), devido a um ambiente mais desafiador no agronegócio, e reduziu a previsão de lucro para 2025 para R$ 25 bilhões (-8% em relação à anterior e -9% abaixo do consenso), o que implica que o BBAS está sendo negociado a 4,7 vezes o lucro estimado para 2025 ou 3,9 vezes para 2026.
“Embora as avaliações tenham caído e já reflitam um cenário desafiador, e acreditamos que a empresa pode acomodar seus desafios de capital assumindo menor crescimento de empréstimos e menor pagamento de dividendos, acreditamos que o consenso ainda pode precisar se ajustar, por isso mantemos recomendação neutra”, aponta a equipe. O preço-alvo foi de R$ 28 para dezembro de 2025 para R$ 26 para dezembro de 2026.
Em prévia de resultados de bancos, o Goldman Sachs também aponta cautela para os números do Banco do Brasil.
O banco americano projeta que o aumento acentuado das provisões deve pressionar os lucros. “Prevemos uma redução significativa nos lucros recorrentes para R$ 5 bilhões, uma baixa de 32% em relação ao trimestre anterior e de 48% em relação ao ano anterior, em grande parte pressionada por maiores provisões para perdas com empréstimos no segmento rural”, aponta a equipe de analistas.
De fato, prevê uma retomada na formação de inadimplência para impulsionar as provisões em 37% em relação ao trimestre anterior (+79% em relação ao ano anterior). Enquanto isso, espera alguma melhora na receita líquida de juros (+4% em relação ao trimestre anterior, -3% em relação ao ano anterior), visto que espera um menor impacto dos custos de captação em relação ao 1T25.
Também projeta uma recuperação sazonal nas tarifas, enquanto as despesas crescem relativamente em linha com as tarifas e a inflação. “Considerando tudo isso, esperamos que o lucro antes dos impostos caia 27% em relação ao trimestre anterior (-51% em relação ao ano anterior). O ROE [Retorno sobre patrimônio líquido] deve cair para uma mínima de 9 anos de 11,0%, de 16,2% no 1T25 e 21,6% no 2T24”, avalia.
Vilão além do agro
Na última semana, o Safra também apontou que o BB terá o pior resultado entre os quatro maiores bancos no segundo trimestre de 2025. A expectativa dos analistas da equipe é de lucro de R$ 4,64 bilhões entre abril e junho deste ano, uma queda de 51,1% na comparação com igual período de 2024.
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Na visão do Safra, além do agro, há uma nova pedra no caminho da empresa. “Projetamos mais um trimestre fraco para o BB. Embora a atenção do mercado esteja atualmente voltada para o segmento rural — para o qual ainda não esperamos nenhuma melhora —, acreditamos que a queda no segundo trimestre possa vir da carteira de crédito corporativo, especialmente de pequenas e médias empresas”, dizem os analistas Daniel Vaz, Maria Luisa Guedes e Rafael Nobre.
O Safra projeta ROE de 10,3% no segundo trimestre de 2025, queda de 11,3 pontos percentuais na comparação com o ROE de 21,6% do segundo trimestre de 2024. Além da forte queda, a cifra revela que a rentabilidade do BB está abaixo do custo de capital de 14,9%, com base no Certificado de Depósito Interbancário (CDI).
A piora na rentabilidade e a queda no lucro devem ocorrer com a alta na inadimplência acima de 90 dias, que deve subir 1,45 ponto porcentual, para 4,45%. Os calotes tendem a causar uma alta de 79,7% das Provisões para Devedores Duvidosos (PDD), que podem chegar a de R$ 14 bilhões. O Safra tem recomendação neutra para o Banco do Brasil, com preço-alvo de R$ 25 para o fim de 2025.
De acordo com compilação da Reuters com 11 analistas de mercado, 3 possuem compra, 7 estão com recomendação de manutenção e 1 de venda, refletindo a cautela do mercado com os ativos BBAS3.
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