Banco Master: Escândalo imobiliário e compra polêmica pelo BRB expõem fragilidades

No coração da Costa do Descobrimento, em Santa Cruz Cabrália, Bahia, um caso no mínimo curioso chama a atenção e levanta questionamentos sobre a solidez de algumas instituições financeiras. O epicentro dessa história é o bairro Geraldão, um cenário bem distante das praias luxuosas que atraem turistas à região. Lá, em meio a barracos, disputas por terras indígenas e a sombra do PCC, um terreno de 541 mil m² se tornou o protagonista de uma valorização meteórica e suspeita, envolvendo o Banco Master em uma trama que intriga o mercado.

A saga começa com a venda do terreno por R$ 500 mil em junho de 2022, passando para R$ 900 mil um ano depois, até alcançar a impressionante cifra de R$ 100 milhões em menos de um mês. Essa valorização de 11.000% permitiu que a Griffood Brasil Alimentos usasse o terreno como garantia para um empréstimo de R$ 356 milhões com o Banco Master. A jogada, no entanto, não passou despercebida.

A avaliação da Newmark, que inflacionou o valor do terreno, utilizou referências de áreas nobres à beira-mar, ignorando a realidade local de disputas fundiárias e a falta de interesse do mercado por empreendimentos de luxo na região. Corretores e imobiliárias locais questionam a avaliação, considerando o valor irreal.

O Banco Central entra em cena

O Banco Central, sempre atento, está de olho na situação, principalmente no que diz respeito à bilionária compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB), anunciada em março. A autarquia questiona os ativos e as práticas do Master, e até mesmo o CDB do banco, conhecido por oferecer taxas acima do mercado, está sob escrutínio. A compra do Banco Master pelo BRB, por R$ 2 bilhões, seria a primeira vez em 40 anos que um banco público adquire um particular, um movimento que contraria a história do sistema financeiro brasileiro.

“No Brasil sempre ocorreu o oposto, com instituições financeiras privadas que absorviam entidades públicas privatizadas” – destacou o jornalista Carlo Cauti.

A juíza Tarcísia de Oliveira Fonseca Elias, atenta aos indícios de fraude financeira, bloqueou o imóvel e determinou o bloqueio de R$ 23 milhões das contas da Taipe, encaminhando o caso aos Ministérios Públicos Estadual e Federal. A situação é grave e merece atenção.

Detalhes que não batem

João Jacques Galvão Lima, da Griffood, surge como um “pescador artesanal” que declarou ser “pobre na forma da lei”. A empresa, por sua vez, troca de sócios e endereços frequentemente, com um histórico de mais de 80 firmas ligadas ao conglomerado, a maioria do ramo alimentício. Para completar, o empresário Edson José Bandeira Braga Filho, associado ao grupo, responde a 133 processos judiciais. É um emaranhado de informações que levantam muitas suspeitas.

Enquanto isso, Cristina Helena de Mello, professora de economia da PUC de São Paulo, faz um alerta importante: usar terras ocupadas por indígenas como garantia é um gesto grave, já que essas áreas possuem proteção constitucional e não podem ser livremente negociadas.

Diante de tantas dúvidas e questionamentos, o Banco Master se defende, afirmando que a operação foi realizada em total conformidade com as regras internas e que o crédito já foi quitado. No entanto, não detalha como essa quitação ocorreu, nem fornece datas. O economista Roberto Luis Troster, pondera que a operação pode ser inteligente se o crédito for usado em um empreendimento rentável e lícito. Caso contrário, é uma operação estranha e suspeita.

A verdade é que essa história tem todos os ingredientes de um caso complexo, que envolve desde a especulação imobiliária até a possível utilização de recursos públicos para salvar um negócio privado. Resta aguardar os próximos capítulos e torcer para que a verdade venha à tona.

Para Marina Helena, a situação é clara:

“O contexto é o seguinte: o BRB, controlado pelo governo do DF, quer comprar o Master, numa operação que parece resgate de um negócio privado com dinheiro público” – conclui.