Apesar das crescentes pressões de outros países para que a COP30, ou ao menos parte dela, seja retirada de Belém, o governo brasileiro tem se recusado a considerar essa possibilidade, mesmo diante das dificuldades para enfrentar a alta descontrolada dos preços das acomodações na capital paraense.
“A COP será em Belém, a cúpula dos líderes será em Belém”, afirmou o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, em videoconferência com jornalistas. “Não há plano B.”
A menos de 100 dias para o início da cúpula do clima da ONU, as preocupações com a logística têm dominado o debate em torno da COP30, ofuscando as discussões sobre a política climática global.
Países em desenvolvimento alertaram que não podem arcar com os preços das acomodações em Belém, que dispararam em meio à escassez de quartos.
Na semana passada, representantes de vários países pressionaram o Brasil a transferir a conferência para fora de Belém durante uma reunião de emergência no escritório climático da ONU, segundo Corrêa do Lago.
O governo brasileiro prometeu apresentar soluções para uma próxima reunião, marcada para a semana que vem, mas fontes garantiram à Reuters que retirar a conferência de Belém não está entre as propostas.
A preocupação não é recente. Governos e o secretariado climático da ONU, conhecido como UNFCCC, têm levantado com o Brasil questões sobre o preço e a falta de acomodações em Belém há meses.
Na mesma reunião do escritório climático no mês passado, a UNFCCC informou aos participantes que havia aconselhado o Brasil a transferir partes da COP30 — como a seção em que os líderes mundiais discursam — para fora de Belém, a fim de aliviar a pressão sobre a hospedagem, de acordo com um resumo da reunião visto pela Reuters. O Brasil não aceitou essa ideia, segundo o resumo.
Porta-vozes da UNFCCC procurados pela Reuters preferiram não comentar a questão.
Questionado pela Reuters sobre a possibilidade de mudança da sede da COP30, o Palácio do Planalto afirmou que “não há qualquer discussão para mudança da cidade-sede da COP30” e que “reitera seu compromisso com a realização de uma conferência climática ampla, inclusiva e acessível.”
O governo do Pará não respondeu a pedido de comentário.
Com 1,5 milhão de habitantes, Belém não possui uma quantidade expressiva de hotéis. Apesar do investimento feito pelo governo brasileiro para reestruturar a rede hoteleira visando a COP, os hotéis atuais estão cobrando de 10 a 15 vezes os preços regulares, enquanto em outras cidades onde a COP aconteceu esse aumento chegava no máximo a três vezes, disse Corrêa do Lago.
“Talvez os hotéis não estejam cientes da crise que estão criando”, acrescentou.
As preocupações manifestadas ao governo brasileiro não se limitam à acomodação. Diversos países também levantaram questões sobre a proximidade dos quartos oferecidos às delegações para garantir negociações sem problemas, a oferta suficiente de alimentação — já que muitas pessoas ficarão em casas alugadas sem serviço de refeições — e a capacidade dos aeroportos locais para lidar com o fluxo de visitantes.
Mas o Brasil afirma que os preparativos para a conferência estão em dia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não demonstra disposição para voltar atrás em sua promessa de apresentar a floresta amazônica ao mundo na COP30.
O governo federal prevê um investimento de R$ 4 bilhões na melhoria da infraestrutura de Belém para sediar a conferência, somados a investimentos do governo do Estado.
A decisão de sediar a COP em Belém, além do desejo de mostrar a floresta amazônica ao mundo, passa pelo interesse do governador do Pará, Hélder Barbalho, em atrair investimentos públicos e privados para o Estado. Barbalho foi aliado político fundamental de Lula nas eleições de 2022 e será novamente em 2026.
O Brasil ofereceu de 10 a 15 quartos a preços de até US$ 220 por noite para delegações de países considerados entre os menos desenvolvidos do mundo. Mas esse valor excede os US$ 146 que a ONU oferece para hospedagem, alimentação e transporte desses diplomatas.
Corrêa do Lago demonstrou frustração ao falar com repórteres na sexta-feira, pois a questão da hospedagem dominou um debate que deveria focar nas negociações sobre como conter as mudanças climáticas.
“As questões de infraestrutura estão interferindo no tempo que, no fundo, deveríamos usar para discutir questões substantivas”, afirmou.
Na sexta-feira, o Brasil abriu uma plataforma de reservas ao público. Na manhã de segunda-feira, o site mostrava uma fila de espera de quase 2.000 pessoas, e a Reuters levou uma hora para acessá-lo. As tarifas variavam de US$ 360 a US$ 4.400 por noite.
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