Ainda vale a pena ter uma placa de vídeo de 8 GB para jogar?

O debate acerca de 8 GB de memória de placa de vídeo tem se tornando cada vez mais recorrente, ganhando força nas duas últimas gerações de GPUs da AMD, NVIDIA e Intel. Essa é uma quantidade comumente vista no segmento mainstream e até de entrada, ou seja, entre as placas de vídeo mais baratas e mais procuradas pela maior parte dos PC gamers.

As empresas defendem que 8 GB são suficientes para jogos em 1080p (Full HD) e que GPUs com essa quantidade de VRAM existem por conta da demanda do mercado. Mesmo assim, os consumidores sentem o contrário, e isso até tem impactado nas vendas de modelos mais básicos e baratos. Diante desse impasse, surge a dúvida: afinal, 8 GB realmente dão conta dos jogos em Full HD?

Como 8 GB de VRAM se posicionam em 2025?

Há 12 anos, o mercado de placas de vídeo recebeu a primeira GPU com 8 GB de memória: a AMD Radeon R9 290X. Na época, a tecnologia usada era GDDR5, padrão que já estava no mercado há 5 anos, mesma quantidade de tempo anterior à chegada do padrão GDDR6 usado até hoje nas Radeon RX 9000 e GeForce RTX 5050.


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Algums fabricantes, como a Sapphire, lançaram a Radeon R9 290X com 8 GB (Imagem: TechPowerUp)

Em 2013, GPUs mainstream eram equipadas com 2 GB e modelos high-end tinham 3 GB, como a GTX 780 e R9 280 e a própria R9 290X padrão tinha 4 GB. Ou seja, os 8 GB dessa GPU eram muito fora da curva. Avançando mais no tempo, em 2019, tivemos a GeForce RTX 2080 Ti com 11 GB e o modelo base com 8 GB. Daí em diante, essa quantidade de VRAM começou a se tornar mais comum.

A partir das RTX 30 e RX 6000, 8 GB passaram a ser a quantidade voltada para o segmento mainstream (alguns até chamam de entrada pela falta de GPUs mais básicas). Por isso, a RTX 3060 e a RX 6600 chegaram com essa quantidade de memória de vídeo. Desde então, a abordagem tem sido a mesma e a RTX 5060 e RX 9060 XT contam com 8 GB, embora existam variantes com o dobro de VRAM.

Marketing sobre GPUs com 8 GB em 1080p

A geração das GeForce RTX 40 e Radeon RX 7000 viu a abordagem continuar a mesma no segmento mainstream. Mas quem não gostou foram os PC gamers que investem nesse nível de GPU — a maioria, diga-se de passagem. As reclamações sobre a capacidade dessas placas de vídeo com 8 GB, principalmente com os jogos cada vez mais pesados, se amontoaram em fóruns e redes sociais.

Placa de vídeo forte, como a RTX 5060 Ti, pode ser limitada pelos 8 GB (Imagem: MSI/Divulgação)

A AMD ainda lançou uma RX 7600 XT com 16 GB, capaz de entregar mais desempenho em jogos que sufocam os 8 GB da versão base, algo comprovado por diversos testes, incluindo o nosso que mostra a GPU superando a rival RTX 4060 de 8 GB em jogos em que a NVIDIA costuma ter mais força.

Recentemente, ao anunciar as Radeon RX 9000, a AMD afirmou que 8 GB de VRAM eram suficientes e que existia demanda por esse nível de placa de vídeo. Mas não é bem isso que relatórios de vendas têm mostrado, com muitas GPUs de 8 GB pegando poeira nas prateleiras.

Considerações importantes

Rodamos diferentes jogos pesados na resolução 1920 x 1080, a popular Full HD, em diferentes presets gráficos, para mostrar a exigência a nível de memória de vídeo. Não usamos uma GPU de 8 GB, fomos além: decidimos rodar os testes com uma GeForce RTX 5070, uma placa de vídeo com 12 GB de VRAM e overkill para os jogos mais pesados em 1080p.

Nossa escolha é para mostrar até onde vai o consumo de memória de vídeo dos jogos quando existe folga no sistema. Alerta de spoiler: a maioria dos jogos ficou acima de 8 GB, até com preset gráfico no mínimo. Isso nos mostra o quanto o sistema e driver têm que se virar para fazer caber o jogo, entre outras tarefas visuais do Windows, dentro dessa quantidade de VRAM.

Não focamos em desempenho, já que uma RTX 5070 não é uma GPU para quem busca jogar nessa resolução e apresentamos abaixo somente o consumo máximo e constante de VRAM. Falando nisso, é importante ressaltar que o consumo de memória de uma GPU oscila durante o tempo todo em um jogo. Isso significa que em alguns momentos ao rodar um game, o consumo fica abaixo do que registramos (geralmente menos 500 MB), ou tem picos máximos maiores, mas bem rápidos.

Os 12 GB da RTX 5070 podem ser apertados pelos jogos mais pesados em 1080 também (Foto: Raphael Giannotti/Canaltech)

Além disso, é importante avisar que não usamos ray tracing, já que placas de vídeo para 1080p não foram feitas para esse tipo de recurso gráfico, sendo viável somente usando upscaling e gerador de quadros, tecnologias que ficaram de lado em nossos testes, para mostrar o desempenho “cru” da GPU.

8 GB vs. jogos em Full HD

E vamos ao que interessa. Escolhemos God of War Ragnarok, Cyberpunk 2077, Alan Wake 2, Horizon Forbidden West, Hellblade 2 e Doom: The Dark Ages, jogos com forte apelo gráfico, com diferentes perfis (linear, mundo aberto, com velocidade etc.).

God of War Ragnarok

A segunda aventura de Kratos e Atreus tem visuais belíssimos, trechos lineares e outros com regiões mais abertas. Esse é o jogo mais acessível de nossa bateria de testes, oscilando entre 6,3 e 8,3 GB de VRAM com os presets mínimo e máximo, respectivamente.

Vale notar que, ao entrar nos portais para transitar entre mundos, aquele trecho da árvore é extremamente pesado, aumento o consumo máximo em 1 GB em relação a um segundo anterior fora dessa área. Ou seja, jogando no médio, o consumo passa de 8 GB e isso causará quedas de FPS e engasgos momentâneos, já que e uma área de carregamento de cenário.

Consumo de VRAM em God of War Ragnarok em 1080p (Imagem: Raphael Giannotti/Canaltech)

Alan Wake 2

Não é segredo, a essa altura, que Alan Wake 2 é cruel com placas de vídeo mais fracas. Em termos de memória de vídeo, o jogo da Remedy não perdoa. O menor consumo é 7,9 GB, que até cabe em 8 GB com certo limite, mas ao custo da possibilidade de ter texturas borradas e sem detalhes.

Consumo de VRAM em Alan Wake 2 em 1080p (Imagem: Raphael Giannotti/Canaltech)

Nos outros dois presets acima, o consumo é acima de 10 GB e não varia entre alto e médio. Ou seja, para uma RTX 9060 XT e RTX 5060, que têm capacidade de lidar bem com o jogo, os 8 GB de VRAM seriam um fator limitante.

Hellblade 2

Hellblade 2 é outro jogo que precisa de mais de 8 GB para funcionar bem e não comprometer o desempenho com o estrangulamento de VRAM. Em todos os presets, o jogo precisa de mais do que a quantidade abordada aqui. Porém não é muito mais, algo entre 300 e 500 MB nos preset baixo e médio, sendo até possível jogar em uma GPU com 8 GB, tendo em mente as consequências da falta de memória de vídeo.

Consumo de VRAM em Hellblade 2 em 1080p (Imagem: Raphael Giannotti/Canaltech)

Durante as cutscenes, Hellblade 2 exige cerca de 500 MB mais de VRAM. Como esse jogo tem cutscenes quase o tempo todo, isso é algo a ser considerado, já que se o gameplay estourar os 8 GB, a situação ficará pior durante as cenas, com quedas visíveis de FPS.

Cyberpunk 2077

Esse não é um jogo novo, foi feito pensado em GPUs com quantidade de VRAM menor por conta da época, mas com tantas correções, a situação mudou consideravelmente. Cyberpunk 2077 é mais um jogo que exige bastante da memória da placa de vídeo. Como esse é um jogo de mundo aberto, o consumo oscila bastante.

Consumo de VRAM em Cyberpunk 2077 em 1080p (Imagem: Raphael Giannotti/Canaltech)

Mesmo no preset médio, uma RTX 5060 ou RX 9060 XT da vida vão passar um sufoco pela falta de memória. Somente com os gráficos no mínimo é que existe uma certa folga, com o consumo máximo em 7,4 GB.

Horizon Forbidden West

Esse é um jogo difícil de gerar uma métrica adequada sobre consumo de VRAM por conta do tamanho de seu mapa e não só isso, já que são cenários que mudam bastante, alterando consideravelmente o consumo de memória de vídeo.

No mapa da DLC de Horizon Forbidden West, notamos o maior consumo passando de 11 GB e quase colocando a RTX 5070 em apuros mesmo em 1080p. Em todos os presets, o consumo de VRAM ficou acima de 8 GB, mesmo no muito baixo, com gráficos bem feios. Mas, lembrando, registramos esse nível de consumo na região mais pesada e existem outras áreas mais leves, especialmente ambientes fechados.

Consumo de VRAM em Horizon Forbidden West em 1080p (Imagem: Raphael Giannotti/Canaltech)

Doom: The Dark Ages

Saindo do realismo gráfico e focando em velocidade, muita movimentação e carregamento de assets diferentes a todo tempo, temos o Doom: The Dark Ages, que também é um jogo muito bonito. Apesar de ser um jogo mais simples em comparação com os outros em termos de complexidade gráfica, o game da id Software sempre exige mais de 8 GB.

Ele é mais um título que não tem muita variação de consumo nos presets mais baixos. Na verdade, curiosamente, Doom: The Dark Ages tem uma variação no uso de memória de vídeo menor do que os outros jogos, mesmo com a velocidade do gameplay e mudança constante de cenário.

Consumo de VRAM em Doom: The Dark Ages em 1080p (Imagem: Raphael Giannotti/Canaltech)

GPUs com 8 GB já estão comprometidas?

Não, ainda não. É possível jogar os games mais pesados, como esses que testamos, em preset gráficos mais modestos, a maioria no médio, tendo em mente que podem acontecer algumas quedas de FPS por conta do limite da VRAM. 

Jogos de anos atrás, mesmo os mais pesados para suas épocas, como Red Dead Redemption 2, Batman Arkham Knight, The Witcher 3, entre vários outros, não ameaçam os 8 GB de memória das placas de vídeo. Jogos mais simples, como AA e indies, ou ainda esports, nem precisamos mencionar, já que eles são ainda mais leves.

Porém, é valido ressaltar que, com a evolução da tecnologia, maior apelo ao realismo gráfico em jogos AAA, dá para imaginarmos que placas de vídeo com 8 GB podem passar ainda mais sufoco em poucos anos. Se os casos extremos que chegam perto de encher 12 GB, mesmo em 1080p, se tornarem comum em um futuro próximo, aí será o fim das placas de vídeo com 8 GB de VRAM.

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