Ainda manda ‘bom dia’ no WhatsApp? Veja o que isso revela sobre você


Mandar “bom dia” no WhatsApp pode parecer um gesto simples, mas carrega muitas camadas de significado. Para uns, é afeto. Para outros, motivo de risada ou de incômodo. Mas a saudação, geralmente acompanhada de emojis ou figurinhas com frases religiosas, se tornou marca registrada de uma geração que descobriu nos aplicativos de mensagem uma forma de manter a presença e o carinho no cotidiano digital.
Por outro lado, também virou alvo de memes, reações exageradas nas redes sociais e até motivo para silenciar grupos inteiros. O costume, que poderia passar despercebido, se transformou em símbolo de como diferentes faixas etárias se comunicam e, muitas vezes, colidem no ambiente online. A seguir, o TechTudo destrincha mais sobre o assunto e analisa o que um simples “bom dia” pode dizer sobre você.
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Você ainda manda ‘bom dia’? Veja o que isso revela sobre você no WhatsApp
Mariana Saguias/TechTudo
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O envio de “bom dia” em grupos de WhatsApp é especialmente comum entre pessoas mais velhas. Pais, avós e tios, que adotaram os smartphones com mais intensidade nos últimos anos, enxergam nessa rotina uma maneira de demonstrar cuidado.
Em muitos casos, trata-se de um gesto repetido todos os dias, como quem prepara o café da manhã ou dá um beijo de despedida antes de sair de casa. Portanto, o uso de imagens com mensagens motivacionais, flores ou referências religiosas também reforça esse vínculo emocional, ainda que nem sempre seja interpretado da mesma forma pelos destinatários.
Tudo sobre “Bom dia” no WhatsApp
O TechTudo reuniu oito coisas que você precisa saber sobre mandar “Bom dia” no WhatsApp na lista abaixo. A seguir, confira os tópicos que serão abordados neste guia.
O “bom dia” como linguagem afetiva
O tempo e o cotidiano como estrutura
A associação com o “usuário idoso”
Gatilho de conflito ou silêncio digital
Outras expressões e hábitos que envelheceram
O paradoxo da conexão
Conclusão: o valor do gesto que persiste
O que os leitores do TechTudo pensam sobre o “bom dia”?
Pessoa criando mensagem de bom dia no Canva
Mariana Saguias/TechTudo
1. O “bom dia” como linguagem afetiva
Nessas interações no WhatsApp, o que está em jogo não é apenas a informação de que a pessoa acordou, mas a intenção simbólica de mostrar que está presente. Como defendia Aristóteles, “o ser humano é, por natureza, um animal social”. Dessa forma, a saudação se torna uma ferramenta de conexão emocional em grupos familiares e de trabalho, onde o silêncio pode ser interpretado como ausência ou desinteresse.
Essa lógica aparece claramente no relato de uma usuária que publicou no X (antigo Twitter):
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A experiência revela como o gesto, mesmo limitado tecnicamente, carrega uma carga de afeto e estabelece uma linguagem própria entre gerações. Trata-se de uma comunicação que, apesar da simplicidade, cumpre o papel de manter o vínculo vivo.
2. O tempo e o cotidiano como estrutura
A repetição dessas mensagens segue uma lógica que pode ser explicada a partir do pensamento de Michel de Montaigne. Para o filósofo francês, o hábito é uma segunda natureza. O “bom dia” enviado sempre no mesmo horário se transforma em um marcador de rotina. Ele organiza o início do dia, funciona como um ponto de partida emocional e ajuda a estruturar o cotidiano de quem o envia. Esse comportamento, comum entre pessoas mais velhas, oferece segurança e familiaridade, especialmente em contextos de isolamento ou pouca interação presencial.
Nas trocas virtuais, esse tipo de gesto recorrente pode ser tão significativo quanto um café preparado todas as manhãs para a família. A diferença é que, na era digital, o afeto ganha a forma de uma figurinha, de uma imagem com flores ou de uma oração compartilhada com frequência. Essa prática, muitas vezes invisível, revela como pequenas ações digitais podem dar forma à experiência diária de milhões de pessoas.
3. A associação com o “usuário idoso”
A estética do “bom dia” também ajuda a explicar por que essa prática se tornou um marcador geracional. Gifs com glitter, mensagens religiosas, fotos de jardins e frases como “Tenha uma quarta-feira abençoada” compõem um repertório visual que remete ao passado. São códigos que fazem sentido para quem foi alfabetizado visualmente antes da cultura dos memes. Por isso, é comum que jovens e adolescentes interpretem esse gesto como algo ultrapassado ou digno de piada.
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As redes sociais estão cheias de exemplos dessa reação. Vídeos no TikTok ironizam o uso exagerado de figurinhas. Montagens exageradas com glitter e flores surgem como caricaturas desse hábito. Embora muitas dessas postagens usem o humor, o riso pode esconder uma certa intolerância com formas distintas de expressão. A estética do “bom dia” virou meme, mas continua ativa, reafirmando que cada geração constrói sua própria linguagem dentro das plataformas.
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4. Gatilho de conflito ou silêncio digital
Se para uns o “bom dia” é demonstração de afeto, para outros ele é interpretado como ruído. Usuários mais jovens, acostumados com a objetividade e agilidade das trocas digitais, muitas vezes se irritam com saudações que não se desdobram em conversa. Um tweet popular de um internauta resume bem essa sensação:
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Esse tipo de impaciência evidencia uma mudança no entendimento da comunicação digital. O WhatsApp, que começou como um espaço de sociabilidade informal, passou a concentrar tarefas, demandas e conversas rápidas. Em meio a tantas notificações, o excesso de saudações repetitivas pode se tornar um motivo legítimo para silenciar grupos. O gesto de silenciar, por sua vez, funciona como uma reação silenciosa a uma presença constante demais.
5. Outras expressões e hábitos que envelheceram
Além do “bom dia”, outras práticas digitais passaram a ser associadas a usuários mais velhos. Figurinhas com flores, vídeos com orações e mensagens motivacionais em imagens ainda são comuns, mas já foram ressignificadas por uma nova geração como algo datado.
Mensagens da Família Muelas de Freitas no WhatsApp
Reprodução/ Marcos Vinícius Pereira
Porém, segundo a matéria do TechTudo “Você usava ‘rs’ para rir na Internet?”, hoje essas práticas viraram outras coisas nas redes. Até expressões como “rsrs” ou o uso do emoji de joinha (👍 ) passaram a ter outros sentidos, às vezes mais formais, outras vezes interpretados como falta de intimidade.
Esses hábitos funcionam como pistas visuais e textuais da idade digital de um usuário. Embora não sejam, de fato, exclusividade de uma faixa etária, estão carregados de simbologia. Em muitos casos, o modo como escrevemos, reagimos ou nos expressamos nos aplicativos revela mais do que imaginamos sobre nosso repertório cultural e nosso lugar geracional.
6. O paradoxo da conexão
Como já apontava a socióloga Sherry Turkle em seu livro Alone Together, vivemos conectados o tempo todo, mas ainda lidamos com a solidão e a superficialidade nas relações. O “bom dia”, mesmo em sua forma mais simples, pode ser o único contato que alguém recebe durante o dia. Uma entrevista recente na TV reforça essa percepção. No X, um internauta comentou sobre uma entrevista que assistiu na TV sobre o uso do WhatsApp:
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A frase poderia soar como piada, mas revela uma verdade emocional profunda. Para muitos, o mínimo de contato virtual pode representar estabilidade emocional e pertencimento. Essa realidade desafia a pressa dos tempos atuais. Zygmunt Bauman alertava sobre os laços líquidos e a fragilidade das relações modernas. No meio digital, onde tudo é descartável e passageiro, o gesto repetido de dizer “bom dia” todos os dias ganha uma força simbólica. É uma forma de interromper a lógica da pressa e reafirmar que, apesar de tudo, ainda estamos aqui.
7. Conclusão: o valor do gesto que persiste
Essa realidade desafia a lógica da pressa que rege a comunicação contemporânea. Como alertava Zygmunt Bauman, “vivemos tempos marcados por vínculos frágeis, relações imediatistas e afetos voláteis”. A conectividade constante, que nos promete aproximação, muitas vezes se traduz em isolamento emocional. Nesse cenário de laços líquidos e interações superficiais, o simples ato de enviar um “bom dia” pode parecer anacrônico, mas carrega uma força simbólica rara.
Ao repetir esse gesto todos os dias, principalmente em grupos familiares, muitos usuários reafirmam sua presença no coletivo. Como ensinava Aristóteles, somos seres sociais por natureza, e comunicar-se é, em última instância, uma forma de existir diante do outro. Já Montaigne nos lembrava que o hábito estrutura a vida. Quando alguém envia uma saudação matinal com regularidade, o que está em jogo não é apenas o conteúdo da mensagem, mas a construção de uma rotina que ancora o emocional.
Já Sherry Turkle observa que estamos, cada vez mais, juntos sozinhos. O “bom dia” pode ser trivial para quem lê, mas essencial para quem envia. Ele rompe o silêncio digital, afirma vínculos e suaviza a solidão que tantos enfrentam, mesmo cercados por telas. É uma manifestação de afeto persistente em uma cultura que valoriza a velocidade e o descarte.
Mais do que uma saudação, o “bom dia” é um código de convivência, e talvez, uma das últimas formas cotidianas de resistência ao colapso da atenção e da empatia nas interações digitais.
Mandar bom dia no WhatsApp
Mariana Saguias/TechTudo
8. O que os leitores do TechTudo pensam sobre o “bom dia”?
Para entender como esse hábito é percebido hoje, o TechTudo perguntou aos seus seguidores no Instagram sobre o envio de mensagens de “bom dia” no WhatsApp. As respostas mostram que, embora o costume ainda esteja presente, ele divide opiniões — e até provoca incômodo em boa parte dos usuários.
Na primeira enquete, perguntamos: “Você é do tipo que manda ‘bom dia’ nos grupos do Zap?”
Apenas 12% disseram que mandam todos os dias;
10% só enviam no grupo da família;
Já 78% afirmaram que nunca mandam esse tipo de mensagem.
Os dados reforçam que o hábito está muito mais associado a uma parcela específica dos usuários — em geral, pessoas mais velhas, como pais e avós —, enquanto o público mais jovem, majoritário nas redes, tende a evitar a prática.
A segunda pergunta buscou entender a reação a essas mensagens: “Quando alguém manda ‘bom dia’ e some, como você reage?”:
26% respondem à saudação;
50% preferem ignorar;
24% silenciam o grupo.
A resposta mais comum — ignorar — revela como a saudação pode perder força quando não há continuidade no diálogo. Esse dado ajuda a explicar por que, mesmo sendo bem-intencionada, a prática pode causar atrito em grupos mais dinâmicos ou com faixas etárias mistas.
O que os leitores do TechTudo pensam sobre o “bom dia”?
Reprodução/TechTudo
Por fim, perguntamos: “O que você acha pior receber em grupos?”
16% escolheram figurinhas de “bom dia”;
51% detestam correntes;
16% rejeitam mensagens motivacionais;
17% apontaram áudios longos e sem contexto.
As correntes seguem como vilãs absolutas dos grupos, mas o “bom dia” ilustrado, assim como as mensagens motivacionais, também aparecem entre os maiores incômodos — especialmente quando enviados de forma genérica e repetitiva.
Esses números ajudam a contextualizar o fenômeno. Embora para muitos o “bom dia” represente afeto, para outros ele é sinônimo de ruído digital. A pesquisa mostra que a forma como nos comunicamos nas redes não apenas revela traços geracionais, mas também indica os códigos de etiqueta e tolerância que regem os grupos de WhatsApp hoje.
Com informações de TikTok, WhatsApp, X (ex-Twitter) e dos autores Aristóteles (Política, Livro I), Michel de Montaigne (Ensaios, Livro I, Capítulo XXIII – “Do costume e de não mudar facilmente uma lei recebida”), Sherry Turkle (Alone Together: Why We Expect More from Technology and Less from Each Other, capítulo 8 – “Always-on/Always-on-you”) e Zygmunt Bauman (Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos, capítulo 1 – “Amor líquido ou laços frouxos?”).
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