Walt Disney (1901-1966), o homem por trás de um império que revolucionou a animação e o entretenimento global, nutria em seus últimos anos um projeto ainda mais audacioso do que qualquer parque temático: a criação de uma cidade do futuro, conhecida como Epcot (Experimental Prototype Community of Tomorrow/Protótipo Experimental da Comunidade do Amanhã). Esse é um dos temas do documentário Como Walt Disney Mudou o Mundo, do History Channel. O canal liberou um episódio completo no YouTube nesta semana.
Desde os primeiros traços de seus personagens até a construção de parques gigantescos, Walt Disney sempre ultrapassou os limites da inovação. A participação da Disney na Feira Mundial de Nova York de 1964-65, onde ele criou quatro atrações exclusivas, foi um catalisador para a ideia do Epcot. O ambicioso plano era a culminação de sua crença inabalável no poder da imaginação e na possibilidade de construir um ambiente urbano ideal.
Ao observar o trabalho de Robert Moses em Nova York, Walt pensou: “Hum, e se eu pudesse fazer o mesmo?”. Ele via as cidades americanas da década de 1960 em declínio e com problemas de tráfego, em contraste com a ideia de uma vida harmoniosa. Sua cidade seria um “espaço ideal e uma experiência ideal”, um contraponto à expansão urbana caótica impulsionada pelo automóvel.
Assista ao documentário completo do History:
Como seria o Epcot original de Walt Disney
O plano detalhado para o Epcot previa uma “verdadeira comunidade com 20 mil pessoas morando nesse ambiente urbano absolutamente imaculado e ideal”. Seria um lugar onde os habitantes viveriam, trabalhariam e se divertiriam, com empregos integrados à comunidade.
A ênfase seria no pedestre e no transporte público, com monotrilhos elegantes e eficientes levando os moradores para todos os lugares. A ideia do monotrilho já fascinava Walt desde que ele o viu na Alemanha em 1958, e ele o implementou na Disneylândia em 1959, vendo-o como a solução para o trânsito e a expansão urbana.
Para assegurar o controle total sobre sua cidade, uma lição aprendida com a Disneylândia, onde hotéis e lojas de baixo padrão surgiram fora dos portões do parque, Walt decidiu adquirir uma quantidade colossal de terras. Para evitar especulação imobiliária e manter o sigilo, a compra foi realizada de forma discreta na Flórida Central, utilizando empresas de fachada com nomes fictícios.
O resultado foi a aquisição de mais de 10.000 hectares de pântano –1 hectare equivale a 10 mil metros quadrados. O terreno era vasto e barato, com 170 vezes o tamanho da Disneylândia e maior que a ilha de Manhattan. No entanto, o segredo não durou muito: Emily Bavar, uma jornalista do Orlando Sentinel, desvendou a trama, forçando a Disney a acelerar seus planos e Walt a apresentar sua visão publicamente.
Nos últimos meses de sua vida, mesmo enfrentando uma saúde debilitada –ele foi diagnosticado com câncer de pulmão e tinha apenas semanas de vida– Walt Disney não desistiu. Ele canalizou toda sua energia restante para documentar sua visão do Epcot em um filme, assegurando que seu irmão e parceiro de negócios, Roy Disney (1893-1971), pudesse levar o projeto adiante. Ele estava “correndo contra o tempo”, planejando cada detalhe do empreendimento da cama do hospital.
Em 15 de dezembro de 1966, Walt Disney morreu aos 65 anos, deixando um legado imenso, mas um sonho inacabado.
Roy Disney, que estava prestes a se aposentar, percebeu que o futuro da empresa dependia de ele assumir as rédeas e dar continuidade ao “último sonho” de Walt. No entanto, Roy, com pragmatismo, compreendeu que a cidade utópica que Walt imaginara não poderia ser construída sem a presença de seu criador e sua visão unificadora.
Em vez da cidade, ele decidiu criar um “grande resort de férias” na Flórida, uma “Disney World maior e melhor”, adequada para a “era dos jatos”.
Embora o Epcot como cidade nunca tenha sido construído na forma original de Walt, muitos de seus conceitos e ideais futuristas foram incorporados ao Walt Disney World Resort. O monotrilho tornou-se um dos símbolos do resort, literalmente passando por dentro do saguão do Contemporary Resort Hotel, um feito de engenharia “chocantemente ousado” que ecoava a visão de Walt para o transporte do futuro.
O Walt Disney World Resort, que Roy fez questão de nomear em homenagem ao irmão, foi inaugurado em 1º de outubro de 1971 e cresceu exponencialmente, tornando-se o resort de férias mais visitado do mundo. Assim, a joia da coroa do império Disney Parks é, de muitas maneiras, o testemunho de um sonho que, embora modificado, permanece a essência do legado duradouro de Walt Disney.
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