EARTH, WIND & FIRE: A BANDA QUE UNIU MÚSICA, ESPIRITUALIDADE E INOVAÇÃO

Poucas bandas conseguiram definir uma era como a Earth, Wind & Fire. Misturando soul, funk, R&B, jazz, rock e elementos espirituais, o grupo liderado por Maurice White não apenas conquistou os charts globais, mas também criou uma identidade musical e visual que atravessa gerações. Com sucessos como September, Boogie Wonderland e Fantasy, a banda se tornou símbolo de excelência musical, inovação e força cultural afro-americana.

Nesta matéria especial, revisitamos a trajetória, os marcos e as curiosidades que transformaram a Earth, Wind & Fire em um verdadeiro patrimônio da música mundial.

Terra: a criação de um som cósmico com alma terrestre

A trajetória da Earth, Wind & Fire começa com a mente inquieta e visionária de Maurice White (em destaque na imagem logo acima), baterista da lendária Chess Records em Chicago durante os anos 1960. Depois de acompanhar artistas como Etta James e Muddy Waters, ele decidiu formar um grupo que fosse muito além de uma banda — queria criar uma experiência sonora capaz de elevar o espírito, unir culturas e fundir o corpo da música com a alma da espiritualidade.

Inspirado por filosofias místicas, referências egípcias e o simbolismo astrológico, Maurice rebatizou seu projeto de Earth, Wind & Fire, uma referência direta aos três elementos presentes no seu mapa astral como sagitariano: terra, ar e fogo.

Dessa forma, o aparente alinhamento ou combinação entre os três elementos incorporados na mensagem e os outros três elementos astrológicos deram muito certo, como veremos a seguir: terra representava a base rítmica sólida da banda, o groove ancorado no baixo poderoso de Verdine White; o ar simbolizava a leveza das harmonias vocais, os arranjos refinados de sopros e a sofisticação melódica; e o fogo era a energia visceral das apresentações ao vivo, o carisma magnético de palco e a urgência contagiante do funk.

Embora a água não fizesse parte do nome, a fluidez estava em tudo: na forma como a banda navegava entre gêneros como jazz, soul, disco e R&B, na capacidade de dialogar com o espiritual sem perder o pé no dançante e no terreno.

Com Maurice ao lado do irmão Verdine White (baixo), de Philip Bailey (dono de um dos falsetes mais marcantes da música), Ralph Johnson (bateria e percussão) e outros músicos excepcionais, o grupo logo se consolidaria como uma força musical e estética que revolucionaria o som negro americano nos anos 70.

Ar: a propagação e elevação definitiva do som da Earth, Wind & Fire

Se a origem do nome e do conceito visual, sonoro e espiritual da banda foi, de certa forma, elaborada com os pés na terra — enraizada em ritmos afro-americanos, na tradição do jazz e na densidade simbólica das culturas ancestrais —, o início do voo rumo ao sucesso global não poderia acontecer em outro ambiente que não fosse o ar.

Afinal, é pelo ar que o som se propaga, atravessando espaços, corpos e fronteiras. E foi exatamente isso que a Earth, Wind & Fire fez: transformou sua linguagem musical em uma força expansiva, capaz de alcançar públicos diversos em todo o mundo.

Nos anos 1970, a banda viveu sua grande ascensão. Com a entrada definitiva de Philip Bailey como co-vocalista, somado à estabilidade da formação e à ousadia criativa de Maurice White, o grupo passou a criar discos cada vez mais ambiciosos — tanto no som quanto na proposta conceitual.

O álbum “Open Our Eyes” (1974) já indicava o potencial de algo grandioso. Mas foi com “That’s the Way of the World” (1975), trilha sonora do filme homônimo e lar do hit “Shining Star”, que a ascensão se confirmou. A faixa chegou ao topo das paradas da Billboard, um feito inédito para uma banda formada por músicos negros com uma proposta tão sofisticada e fora dos padrões radiofônicos da época.

Assista: “Shining Star” ao vivo no programa Midnight Special 
Gravada em 1975, essa performance capturou a banda no auge de sua explosão criativa e visual. O programa de TV em formato de show foi uma das primeiras vitrines nacionais para o grupo, antes da era dos videoclipes formais. 
 

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Logo após, vieram álbuns antológicos como Gratitude (1975), Spirit (1976) e All ‘n All (1977), consolidando o grupo como uma potência nas rádios e nos palcos.

Em 1979, lançaram I Am, álbum que traz “Boogie Wonderland”, um dos hinos absolutos da era disco. Com participação do grupo The Emotions e uma produção vibrante, a canção se tornou onipresente nas pistas e uma assinatura da banda.

Assista: “Boogie Wonderland” (videoclipe oficial)
Com participação especial das vocalistas do grupo The Emotions, a faixa ganha ainda mais intensidade vocal e presença de cena. O videoclipe, marcado por figurinos exuberantes, coreografias sincronizadas e cortes de câmera energéticos, foi lançado antes da era MTV, mas já revelava uma clara preocupação estética cinematográfica — antecipando a linguagem visual que dominaria a música pop nos anos
 

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No mesmo álbum, a balada “After the Love Has Gone” mostrou outro lado da banda: mais suave, íntimo e orquestrado. Escrita por David Foster, a música venceu o Grammy e revelou a habilidade da Earth, Wind & Fire de emocionar além das pistas.

Assista: “After the Love Has Gone” (ao vivo no Japão, 1980) 
Com vocais impecáveis de Philip Bailey e harmonias sofisticadas, a performance captura o poder emotivo da banda ao vivo — uma aula de controle técnico e expressão. 
 

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Mas se há uma música que ultrapassou gerações, memes, comerciais e até calendários, ela se chama “September”. Lançada em 1978 como faixa bônus da coletânea The Best of Earth, Wind & Fire, Vol. 1, tornou-se um clássico instantâneo — e até hoje é redescoberta por novas gerações.

Assista: “September” (videoclipe oficial animado) 
O clipe foi lançado retroativamente em 2018 com animação que homenageia a estética dos anos 70 e a energia contagiante da faixa. 
 

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Nos anos 80, mesmo em meio à transição do cenário musical, o grupo se reinventou com o hit “Let’s Groove” (1981), incorporando timbres eletrônicos e sintetizadores, sem perder a essência dançante e espiritual.

Assista: “Let’s Groove” (videoclipe oficial) 
Colorido, psicodélico e futurista, o clipe antecipou tendências visuais da década e foi um dos primeiros da banda a rodar em rotação contínua na MTV. 
 

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Mais do que dominar paradas e arenas, a Earth, Wind & Fire ajudou a redefinir os horizontes da música pop internacional, provando que uma banda formada por músicos negros podia ocupar o centro da cultura global com uma proposta autoral, espiritualizada e tecnicamente brilhante — e visualmente marcante, mesmo antes da era dos videoclipes como conhecemos hoje.

Fogo: o legado e a influência seguem vivos até hoje

 

 

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Se a terra representava a origem, e o ar simbolizava a ascensão e propagação do som, é no fogo que reside a permanência incandescente da Earth, Wind & Fire — uma chama artística que, décadas depois, ainda aquece pistas de dança, corações nostálgicos e mentes criativas de todas as gerações.

O grupo não apenas marcou época: moldou os alicerces da música pop, soul e R&B modernos. Suas harmonias vocais, seus metais precisos, a musicalidade exuberante e a identidade visual marcante serviram — e ainda servem — de referência direta para artistas como Prince, Beyoncé, Justin Timberlake, Alicia Keys, D’Angelo, The Weeknd, Anderson .Paak e Bruno Mars, entre tantos outros.

O impacto cultural do grupo vai além das paradas de sucesso. A Earth, Wind & Fire reconfigurou o que significava fazer música negra no mainstream, mostrando que era possível ser complexo, espiritual, afrofuturista, pop e universal ao mesmo tempo — tudo isso em uma era em que poucas bandas formadas por músicos negros tinham liberdade artística ampla e orçamento para produções de grande escala.

Mesmo após a morte de Maurice White, em 2016, o legado do grupo não enfraqueceu. Sob a liderança de Philip Bailey, Verdine White e Ralph Johnson, o grupo segue se apresentando ao redor do mundo com nova formação e mantendo viva a essência original — tanto nas performances quanto no repertório.

A entrada no Rock and Roll Hall of Fame, em 2000, consolidou sua importância histórica. Prêmios como o Grammy pelo conjunto da obra, uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood, homenagens no Kennedy Center e aparições em eventos como os Grammy Awards e o Super Bowl são apenas reflexos visíveis de um reconhecimento que é, acima de tudo, emocional e intergeracional. Assita abaixo a um trecho da cerimônia:

 

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O simples toque dos primeiros acordes de September ou Fantasy em qualquer lugar do mundo é suficiente para provocar sorrisos, dança e uma sensação de alegria quase ritual — uma assinatura que apenas artistas com profunda conexão com seu tempo e com o espírito humano conseguem manter ao longo das décadas.

Mais do que uma banda, a Earth, Wind & Fire é um símbolo vivo de ancestralidade, liberdade artística e celebração da vida. Um lembrete sonoro de que o passado e o futuro podem coexistir num groove eterno, onde o fogo não consome — apenas ilumina.

A chama acesa nas ondas do rádio

E como não poderia deixar de ser, a chama da Earth, Wind & Fire também segue acesa na programação musical da Antena 1 — uma emissora que, assim como o grupo, acredita no poder da música para atravessar gerações e conectar pessoas. Suas canções continuam se propagando pelo ar, pelas ondas do rádio, ultrapassando as fronteiras terrestres e digitais com a mesma força vibrante de quando foram lançadas. Afinal, quando a música tem alma, groove e propósito, ela não apenas resiste ao tempo — ela acende o mundo.