Mecânicas de stealth estão presentes em uma infinidade de jogos, seja em breves sessões de gameplay ou em uma jornada inteira. Ao contrário do que alguns pensam, stealth não se resume a andar abaixado ou se esconder de inimigos. Então, afinal, o que de fato é um jogo stealth e como podemos definir esse gênero tão peculiar?
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A primeira resposta que surge é que todo jogo de stealth precisa ter mecânicas de furtividade, e isso é verdade. O que muitos não sabem, porém, é que nem todo título com elementos de furtividade é, necessariamente, um jogo stealth.
O que caracteriza um jogo stealth?
Em resumo, o gênero stealth envolve atravessar ambientes sem ser detectado, utilizando ferramentas para alcançar um objetivo. Bons jogos do gênero recompensam jogadores pacientes e estratégicos, que sabem usar o cenário e os itens a seu favor para enganar guardas e passar ilesos.
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O stealth exige mais estratégia do que força bruta. Portanto, podemos descartar de cara jogos com foco em ação como pertencentes ao gênero, apesar de muitos contarem com elementos de furtividade, a exemplo de Uncharted e Deathloop.
Os melhores games do estilo stealth se equilibram em quatro elementos principais: reatividade, liberdade de abordagem, interface compreensível e, claro, a furtividade. Esses pilares sustentam uma aventura imersiva que exige pensamento estratégico e garante momentos de apreensão, sendo o mais justo possível com o jogador.
1. Jogos stealth precisam que inimigos sejam reativos
A reatividade diz respeito à reação dos inimigos às ações do jogador e, normalmente, envolve a “transição de estados”. Um bom exemplo é um soldado em A Plague Tale: Innocence. Em seu estado natural (ocioso), o NPC realiza sua ronda padrão. Ao avistar Amicia e Hugo, o soldado transita do estado ocioso para o de alerta.
Se o jogador ficar exposto por muito tempo, o NPC passa da condição de alerta para a de agressividade, perseguindo os irmãos. Claro, essa reação não pode ser apenas visual: os inimigos também devem reagir a sons, toques e, em alguns casos, à simples presença do jogador.
Em um jogo stealth de qualidade, os NPCs que tentamos evitar também precisam ser reativos ao cenário. Objetos fora do lugar, portas abertas e corpos de inimigos abatidos são exemplos do que pode deixar os guardas em alerta. Existem várias outras formas de chamar a atenção, como atirar garrafas e tijolos em The Last of Us.
O jogador também deve ser capaz de reverter os estados mais agressivos dos NPCs. Metal Gear Solid para o PlayStation 1 é um bom exemplo disso, com seu sistema de cronômetro que possibilita escapar dos inimigos em modo de alerta após um determinado tempo. Vale ressaltar que alguns jogos não oferecem a chance de contornar a situação após ser visto, o que pode prejudicar a liberdade do jogador.
2. Liberdade para cumprir objetivos
Outro fator que potencializa a experiência de stealth é a liberdade para completar o objetivo. Muitos títulos incluem elementos de sandbox e simulação imersiva (immersive sim), permitindo que os objetivos sejam concluídos de diferentes maneiras, seja explorando passagens escondidas ou aproveitando a interação entre objetos do cenário. Jogos como Dishonored e Deathloop permitem, inclusive, cumprir as missões na ordem que o jogador desejar.
Essa liberdade recompensa ainda mais os jogadores que optam por uma abordagem estratégica em vez do confronto direto. Bons games de stealth sempre tratam o combate como o último recurso, para quando o plano dá totalmente errado.
Esse elemento, em jogos de stealth de qualidade, deve ser acompanhado de um bom level design, que possibilite explorar múltiplos caminhos até o objetivo, garantindo maior rejogabilidade e experimentação.
3. HUD limpo e claro que ajuda na tomada de decisão
O HUD em jogos de stealth é essencial, pois é por meio dele que sabemos o que os NPCs ouvem, veem e sentem. As desenvolvedoras já exploraram diversos tipos de interfaces, explícitas e implícitas, que fazem a diferença na tomada de decisão. Normalmente, o HUD exibe informações relevantes como o grau de visibilidade do jogador, o estado dos inimigos e o campo de visão dos NPCs.
Metal Gear Solid, por exemplo, exibe no radar cones de luz que indicam o campo de visão dos inimigos. Em Dishonored, ícones sobre as cabeças dos guardas revelam seu estado (ocioso, em alerta ou agressivo). Também há formas menos expositivas de indicar a situação, como a trilha sonora, diálogos entre NPCs e até mesmo a postura corporal deles.
4. Furtividade é o coração do stealth
No fim das contas, o que realmente define se um jogo é de stealth ou se apenas possui elementos do gênero é a furtividade. Todas as mecânicas e pontos que abordamos devem servir à furtividade — ela precisa ser o centro das atenções, o coração do jogo.
Breve história dos jogos de stealth
Muitos acreditam que Metal Gear para MSX2 é o pai dos jogos de stealth, mas a história é um pouco diferente. Pac-Man também é cotado como o primeiro a ter elementos do gênero, mas esse argumento é facilmente contestado, já que o jogo de labirinto não tem a furtividade como mecânica central.
Nem Konami, nem Namco: o primeiro jogo com elementos de stealth, na verdade, foi de outra gigante japonesa, a SEGA. Em 1981, 005 (Double-O Five) chegou aos arcades, sendo considerado pelo Guinness World Records como o primeiro título a apresentar mecânicas de furtividade. Nele, controlamos o Agente 005, que precisa levar maletas secretas até um helicóptero. Para isso, ele deve desviar de inimigos com lanternas (que funcionam como os cones de visão que mencionamos) enquanto se esconde nas sombras.
Em 1987, a franquia mais famosa de Hideo Kojima deu seus primeiros passos com Metal Gear para MSX2. Apesar de não ser o pioneiro, o título é considerado o pai dos jogos stealth por sua enorme contribuição para definir o gênero.
Em Metal Gear, controlamos o agente secreto Solid Snake, que deve se infiltrar em uma base inimiga para destruir uma arma secreta, evitando o confronto direto com os guardas. As principais novidades que o jogo trouxe ao gênero foram o Modo Alerta (um estado em que precisamos nos esconder para sair da vista dos guardas), indicadores visuais que ajudam a entender as ações inimigas e outras mecânicas que auxiliam na furtividade.
O gênero só veria contribuições mais substanciais uma década depois, com o lançamento de Thief: The Dark Project para PC em 1998. O título foi responsável por traduzir muitas mecânicas de stealth para o 3D, com um trabalho de áudio apurado e um sistema de luz e sombra. Este último permitia ao jogador saber o quão visível estava por meio da “gema de luz”, um indicador no HUD que media o nível de exposição do personagem.
No mesmo ano, uma franquia importante retornou ao mercado para virar o gênero de cabeça para baixo: Metal Gear Solid chegava ao PS1 com avanços expressivos nas mecânicas. Lembra quando dissemos que todos os elementos em um jogo de stealth deveriam servir à furtividade? Pois bem, a missão de Solid Snake foi além, trazendo uma narrativa de peso, métodos criativos para despistar inimigos e o retorno do Modo Alerta, desta vez de forma dinâmica.
Mas não foi só a Konami que contribuiu para o gênero. No início dos anos 2000, a sensação era de que nada se igualava ao trabalho de Hideo Kojima, até a Ubisoft apresentar, em 2002, com um jogo baseado na obra do escritor Tom Clancy: Splinter Cell.
O jogo se destacou por trazer um nível de realismo inédito para o stealth. Sua temática de espionagem tecnológica introduziu gadgets muito bem elaborados, que deram uma cara nova ao gênero. Outros pontos elogiados em Splinter Cell foram a IA dos inimigos e o sistema de luz e sombra, aprimorando o que já tínhamos visto em Thief.
Uma década depois, a Arkane Studios lançou Dishonored, um novo marco para o gênero. O título é considerado um dos melhores jogos de stealth por seu uso de sistemas de immersive sim, que garantem enorme liberdade para explorar os ambientes e alcançar os objetivos de múltiplas formas. A HUD e as habilidades usadas para passar despercebido pelos guardas também são elementos muito elogiados.
Claro, muitos outros jogos contribuíram para o gênero nesse período, como Hitman: Codename 47, Syphon Filter e Tenchu: Stealth Assassins. As sequências das franquias que mencionamos, como Metal Gear Solid, Tom Clancy’s Splinter Cell e Hitman, também foram fundamentais para aprimorar o estilo.
Hoje, muitos jogos se inspiram nessas IPs e incorporam elementos de stealth em seu leque de mecânicas, mesmo não pertencendo ao gênero. Assassin’s Creed, Deathloop, The Last of Us e muitos outros se aproveitaram dos recursos de furtividade para contar suas histórias fantásticas.
5 jogos essenciais para curtir o gênero stealth
Como vimos, o gênero stealth tem muitos títulos de peso. Mas quais são os melhores e mais acessíveis para jogar atualmente? Para responder a essa pergunta, separamos cinco jogos que representam a essência do gênero e trazem os principais elementos que destacamos com maestria.
1. Metal Gear Solid V: The Phantom Pain
A série Metal Gear Solid é a cara do gênero stealth, e nossa recomendação é o quinto jogo da linha principal, o último desenvolvido pelo lendário Hideo Kojima. Lançado em 2015, Metal Gear Solid V: The Phantom Pain é bastante acessível nas plataformas atuais e envelheceu muito bem quando falamos de mecânicas e gráficos.
O título expande os conceitos que abordamos, oferecendo enorme liberdade para cumprir as missões graças ao seu mundo aberto. Outros destaques são a inteligência artificial avançada e o vasto leque de estratégias que podemos traçar para alcançar os objetivos. O jogo está disponível para PC, PlayStation e Xbox e entra em promoção com frequência.
2. Hitman World of Assassination
O Agente 47, um dos assassinos mais populares dos games, também marcou o gênero para sempre. Em HITMAN World of Assassination, os jogadores têm acesso à trilogia mais recente da série, que representa uma evolução natural da franquia.
As principais características de stealth da coleção incluem eliminações criativas e múltiplos caminhos para completar os objetivos. Outro ponto alto é o sistema de disfarces, que adiciona uma camada extra de estratégia e emoção. Por fim, a coletânea oferece diferentes modos de jogo que aumentam a rejogabilidade dos três títulos.
3. Dishonored 2
Aclamado pelos fãs, Dishonored 2 tem um lugar garantido nesta lista. A franquia é conhecida pelo alto grau de imersão e pela enorme liberdade para completar os objetivos. O jogo oferece alternativas para um estilo furtivo ou para o confronto direto, sendo ambas as abordagens igualmente divertidas.
Em Dishonored 2, que se passa 15 anos após o original, assumimos o papel de um assassino com poderes sobrenaturais. A ameaça da vez é um usurpador de outro mundo que tomou o trono da Imperadora Emily Kaldwin, e nosso objetivo é restaurar o poder dela e a estabilidade do reino.
4. Mark of the Ninja
Saindo um pouco do 3D, Mark of the Ninja é uma excelente pedida para quem busca uma experiência de stealth diferente. O jogo de plataforma 2D tem seu foco na mecânica de luz e sombra, com animações fluidas e ênfase no posicionamento.
Mark of the Ninja é uma aula de design de interface, com cones de visão claros e indicadores de som que auxiliam no planejamento estratégico, priorizando uma análise cuidadosa do cenário.
5. A Plague Tale: Innocence
Um dos títulos mais recentes da lista, A Plague Tale: Innocence tem uma história cativante ambientada na Idade Média e personagens memoráveis (ainda que Hugo de Rune divida opiniões).
Nele, acompanhamos Amicia, uma jovem que busca a cura para a doença de seu irmão mais novo, Hugo, em meio a uma praga de ratos e à perseguição da Inquisição. A jogabilidade foca no uso de recursos e do cenário para progredir, funcionando quase como um grande quebra-cabeça. Pode não ser o título mais complexo do gênero, mas é uma excelente porta de entrada para quem quer dar os primeiros passos no stealth.
Evolução e futuro dos jogos stealth
Apesar de termos muitos jogos com elementos de furtividade, os títulos puramente de stealth estão cada vez mais escassos. Grandes franquias como Splinter Cell e Metal Gear Solid estão na “geladeira” há anos. Dishonored 2, por exemplo, completará uma década em breve, e não há pistas de que a Arkane trará um terceiro jogo tão cedo.
Isso não significa, de forma alguma, que não existam bons jogos com elementos do gênero atualmente, sejam eles títulos independentes ou grandes produções, como Desperados III e Indiana Jones and the Great Circle. Games de horror recentes também fazem uso constante de mecânicas de stealth para criar o que há de melhor no gênero.
O stealth está longe de morrer
Como vimos, definir um jogo de stealth vai muito além de andar agachado ou evitar o confronto. É um gênero construído sobre os pilares da paciência, estratégia e liberdade, que recompensa o jogador por observar, planejar e executar com precisão. Desde os primórdios com 005 até os mundos complexos de Dishonored e Metal Gear Solid, sua essência sempre foi transformar o cenário e as ferramentas em armas mais poderosas que qualquer espada ou pistola.
Embora as grandes franquias de stealth pareçam estar em hiato e os lançamentos dedicados ao gênero sejam mais escassos, seu legado é inegável, e sua influência, mais ampla do que nunca. As mecânicas de furtividade, antes um nicho, foram absorvidas e adaptadas por inúmeros outros gêneros, do terror à ação e aventura, enriquecendo experiências e oferecendo novas abordagens ao jogador.
Portanto, o gênero stealth não está morto. Ele apenas evoluiu, espalhando sua influência como uma sombra que se estende por todo o universo dos games. A tensão de passar por um guarda sem ser visto, a satisfação de um plano perfeitamente executado e a emoção de chegar ao objetivo continuam entre as experiências mais gratificantes que um videogame pode oferecer.
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