A inclusão do Pix na lista de pontos que os Estados Unidos pretendem investigar como parte de uma ofensiva comercial contra o Brasil é, segundo Henrique Meirelles, um sinal claro do sucesso do sistema de pagamentos brasileiro e do desconforto que ele causa em grandes empresas americanas. Ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, Meirelles vê no movimento liderado por Donald Trump um ataque direcionado à eficiência de uma tecnologia que virou referência mundial.
Ele destaca, entretanto, que o real incômodo do governo Trump é a concorrência da ferramenta brasileira com empresas como Google, Apple e Meta. Isso estaria no centro da motivação de Donald Trump para incluí-la em sua lista de alvos.
“O Pix é mais eficiente, não há dúvidas”, disse Meirelles em entrevista à BBC News Brasil. Ele também ressalta que o presidente americano afirma que a ferramenta estaria prejudicando o sistema de pagamentos das empresas americanas, que são oferecidos pelas Big Techs.
O comentário de Meirelles ocorre em meio à escalada de tensão entre os dois países após o anúncio, por parte do governo Trump, da abertura de uma investigação comercial que pode resultar na imposição de sanções e mais tarifas, além da taxa de 50% já divulgada pelo presidente americano. Além de questionar as práticas tarifárias brasileiras, o governo americano incluiu na investigação o Pix, mecanismo lançado em 2020 e desenvolvido pelo Banco Central ainda na gestão de Michel Temer.
O ex-ministro da Fazenda do governo Temer acredita que é necessária uma negociação para que a tarifa de 50% seja revisada, o que também pode significar uma mudança nas taxas brasileiras já existentes contra os EUA.
Com experiência direta em negociações internacionais durante sua passagem pelo governo, Meirelles acredita que há espaço para o Brasil resolver o impasse por via diplomática.
Apesar de Meirelles enxergar que Trump é um negociador forte por natureza, e age da mesma forma em sua vida pessoal, não é possível fazer o mesmo com decisões judiciais – se referindo aos pontos feitos pelo governo dos EUA a respeito do processo judicial do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), assim como decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre redes sociais. Estas, em sua visão, são “inegociáveis”.
Acusações sem base
Na entrevista à BBC, Meirelles também rebateu outras acusações feitas pelo governo americano, como a de que o Brasil favorece seletivamente países como México e Índia com tarifas mais baixas, em detrimento dos EUA.
Ele reforça que o Brasil atua com taxações generalizadas para proteger alguns mercados, mas que ele não vê benefícios específicos para determinados países. Além disso, Meirelles argumenta que as acusações de discriminação comercial pecam no fundamento técnico, pois o país utiliza tarifas com critérios internos e sem favorecimento direcionado.
Caso não haja avanço nas negociações, Meirelles não descarta a possibilidade de o Brasil adotar medidas de retaliação, como a elevação de tarifas sobre produtos americanos. Porém, ele recomenda moderação, com análise individual e sem atuação geral.
Ele avalia que, em vez de apostar em confrontos comerciais prolongados, o país deve buscar ampliar sua base de parceiros econômicos, especialmente com a China.
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