Vem mais tarifa aí? Entenda a ameaça de sanções ao Brasil por comércio com a Rússia

A pressão tarifária sobre o Brasil comandada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que teve forte influência política e ideológica, pode ganhar novos capítulos nos meses à frente, desta vez com um componente geopolítico. Após reunião ontem com senadores americanos, o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, alertou que Brasil, China e Índia podem sofrer duras sanções se continuarem a fazer negócios com a Rússia.

A pergunta é se os parceiros do Brics estão realmente burlando as sanções ao regime de Vladimir Putin, que só cresce desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em 2022. Mas também se outros países estariam ignorando os alertas.

A pressão internacional sobre a Rússia está aumentando, especialmente após Trump mudar seu discurso, não só ao anunciar uma retomada de envio de aamas e munições para Kiev, mas também com a ameaça recente de aplicar tarifas secundárias “mordazes” de 100% sobre os compradores de exportações russas, a menos que haja um acordo de paz em 50 dias.

Quem são esses compradores, especialmente de combustíveis fósseis? Segundo os dados mais recentes do Center for Research on Energy and Clean Air (CREA), uma organização independente de pesquisas sobre poluição, a situação é a seguinte:

Carvão: De 5 de dezembro de 2022 até o final de junho de 2025, a China comprou 44% de todas as exportações de carvão da Rússia. Índia (19%), Turquia (11%), Coreia do Sul (9%) e Taiwan (4%) completam a lista dos cinco principais compradores.

Petróleo bruto: A China comprou 47% das exportações de petróleo da Rússia, seguida pela Índia (38%), União Europeia (6%) e Turquia (6%).

Óleos combustíveis: A Turquia, o maior comprador, comprou 26% das exportações de derivados de petróleo da Rússia, seguida pela China (13%) e pelo Brasil (12%) – as compras brasileiras são em sua maioria de óleo diesel. Segundo o relatório, o Brasil comprou 443 milhões de euros de combustíveis fósseis russos em junho, todos os quais eram produtos petrolíferos.

GNL: A UE foi o maior comprador, comprando 51% das exportações de GNL da Rússia, seguida pela China (21%) e Japão (18%).

Gás de gasoduto: A UE foi o maior comprador, comprando 37% do gás gasoduto da Rússia, seguida pela China (30%) e Turquia (27%).

Conforme mostrou reportagem recente da Deutsche Welle, com o embargo europeu ao petróleo e diesel russos iniciado em 2022, o Brasil passou a ser um forte importador de hidrocarbonetos da Rússia, ficando atrás apenas de China e Turquia, duas nações historicamente menos alinhadas ao Ocidente.

Em 2022, o Brasil importava 101 mil toneladas de diesel da Rússia, totalizando US$ 95 milhões em compras. Em 2023, o total importado já estava em 6,1 milhões de toneladas – uma alta de 6.000% em relação ao ano anterior –, gastando US$ 4,5 bilhões.

Esse aumento fez com que o país se tornasse em 2024 o maior importador de diesel russo. Em alguns momentos, mais de 90% do diesel importado pelo Brasil foi de origem russa, disse a DW, dado confirmado em estudo da Abicom.

Em 2024, o comércio bilateral entre Brasil e Rússia atingiu recorde histórico, de US$ 12,4 bilhões – um aumento de 9% em relação a 2023. Foram US$ 1,4 bilhão de exportações (+8%) US$ 11 bilhões de importações brasileiras (+9%).

Atualmente, as exportações brasileiras se concentram em soja, café não torrado e carne bovina. As importações envolvem os já citados óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos e adubos e fertilizantes químicos.

Embora a Rússia não esteja na listas dos 10 maiores compradores de produtos do Brasil, já a 5ª colocada entre os importadores, com US$ 5,079 bilhões até junho. A participação russa nas importações totais está em 3,74%

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