O que aconteceu com a famosa fabricante de PCs Compaq?

O começo da história dos PCs domésticos foi marcado por empresas que vendiam suas próprias configurações, em uma época em que ainda não existia o mercado DIY. Entre os grandes destaques está a IBM, uma das mais importantes, e a Compaq, uma das principais rivais da gigante azul. A empresa é muito mais nova do que a concorrente, já que foi fundada em 1982, em um momento crítico do estabelecimento dos computadores pessoais em países como os EUA, entre outros territórios.

Seguindo o caminho da IBM, a Compaq buscou inovar no mercado de PCs, trazendo soluções que a diferenciasse de sua rival direta e se destacando o suficiente para ter uma posição distinta nas décadas de 1980 e 1990. O ímpeto de fazer computadores melhores fez a companhia se tornar uma das fabricantes mais conhecidas do mundo, objeto de desejo em muitos países — inclusive no Brasil.

Hoje, entretanto, pouca gente ouve falar da Compaq. E isso levanta a questão: afinal, o que aconteceu com ela?


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Origem e o guardanapo que valia bilhões

A Compaq foi fundada em 1982 por Rod Canion, Jim Harris e Bill Murto, três ex-executivos da Texas Instruments, empresa estadunidense do ramo de fabricação de semicondutores, com um projeto de computador que surgiu em uma conversa durante um café da manhã, em Houston, Texas. Detalhe: o rascunho inicial foi feito em um guardanapo.

Esse era o design do primeiro PC da Compaq (Imagem: Medium/Dmitrii Eliuseev)

A princípio, a maior dificuldade do trio era lidar com a BIOS criada pela IBM, líder absoluta do segmento até então. Eles tiveram que investir alguns milhões de dólares para criar uma versão legal através de engenharia reversa, que era compatível com os imponentes IBM PCs da época.

Escalada ao topo: mais rápido que a IBM

No ano seguinte, em 1983, a Compaq já lançaria o seu primeiro produto, o Compaq Portable, o primeiro “PC de maleta”, equipado com um Intel 8088, 128 KB de memória, dois drives de disquete 5,25″, ou um drive e um HD de 10 MB, além de uma tela de 9 polegadas que só exibia a cor verde. Todo esse pacote pesava cerca de 13 kg.

A invenção foi um sucesso, mesmo que PCs portáteis não fossem necessariamente uma novidade. Isso levou a Compaq a se tornar a empresa a atingir mais rapidamente a marca de US$ 1 bilhão em receita e a entrar na lista da Fortune 500.

Interior de um PC all-in-one da Compaq (Imagem: Medium/Dmitrii Eliuseev)

No início dos anos 1980, a Compaq adotou uma estratégia de distribuição inovadora, utilizando uma ampla rede de revendedores autônomos para comercializar seus computadores. Diferente da IBM, que mantinha uma equipe de vendas própria, que gerava mais custos, a Compaq investiu no suporte a parceiros locais com treinamento, marketing e assistência técnica.

Compaq no Brasil: “Computador para Todos”

A Compaq chegou ao Brasil na primeira metade da década de 1990, momento em que o mercado de computadores pessoais começava a ganhar força em nosso país, ainda antes da inauguração do Plano Real em 1994. A companhia estadunidense via no Brasil uma oportunidade única, já que esse segmento era ainda pouco ou quase nada explorado.

A linha Presario de PCs foi a primeira a chegar por aqui com a proposta de computadores all-in-one e maior facilidade no uso. Com seu modelo de distribuição através de revendedores independentes, além de um preço mais acessível, a Compaq começou sua expansão no território brasileiro. Era possível também encontrar PCs da marca no varejo, sendo possível parcelar a compra em lojas como a Casas Bahia.

Em 1995, a empresa inaugurou sua fábrica em Jaguariúna, interior de SP, por conta da consolidação da marca no país. Essa movimentação estratégica ajudou a reduzir os custos e solidificou sua posição como uma das marcas de tecnologia mais importantes e desejadas daquela época.

Diferentes gerações do popular Compaq Presario (Imagem: Reddit/tuanies)

Início da queda: concorrência agressiva e decisões erradas

No final da década de 1990, a indústria de computadores pessoais não era mais a mesma por conta do grande avanço que aconteceria. Com o surgimento de outras empresas no ramo, notadamente a Dell, que permanece como uma gigante até os dias de hoje, além de ofertas mais baratas de outras marcas, era questão de tempo até que a Compaq começasse a sentir o impacto.

A Dell, com seu modelo de vendas diretas e de forma online, algo inovador para a época, conseguia reduzir custos e disponibilizar produtos mais baratos, algo que afetou diretamente a Compaq. A Dell, muito mais rápida e dinâmica, logo alcançou seu lugar no mercado, forçando a rival a rever seu modelo de negócio, que já se tornava defasado.

Na busca por crescimento no setor corporativo, a Compaq fez um grande investimento em 1998 ao adquirir a Digital Equipment Corporation (DEC) por US$ 10 bilhões. Com dificuldade na integração com as operações e cultura da empresa, as coisas não foram bem como a companhia do Texas esperava, e isso gerou um grande prejuízo e o início de dívidas. Diante de diversos erros, a crise culminou na demissão do CEO, Eckhard Pfeiffer, em 1999, levando ao nosso próximo ponto.

Fusão com a HP e o fim de uma era

Com toda essa dificuldade, a Compaq foi mais uma a ser adquirida por uma gigante da indústria: a Hewlett Packard, mais conhecida como HP. A transação custou nada menos que R$ 25 bilhões, uma das maiores da indústria, principalmente para o começo dos anos 2000, e gerou um conflito interno na compradora, mas isso não vem ao caso aqui.

O objetivo de Carly Fiorina, CEO da HP na época, era unir a força de sua empresa com a liderança de mercado da Compaq em computadores pessoais e sua forte presença em servidores, mesmo com a decadência dos últimos anos de operação de modo independente. Essa aquisição já se mostraria problemática quando Walter Hewlett, filho do cofundador Bill Hewlett e membro do conselho, se mostrava contra a decisão da CEO.

A aquisição fez da HP a maior empresa de PCs e servidores na épocaç mesmo assim, a gigante enfrentava o crescimento contínuo da Dell, que seguia inovando e oferecendo preços mais agressivos. 

Com o passar dos anos, os produtos Compaq foram rebaixados para itens de entrada dentro do portfólio da HP e a marca começou a desaparecer com o tempo, perdendo cada vez mais relevância até sumir completamente em meados de 2013.

Legado da Compaq

Como toda grande empresa de tecnologia, que trouxe inovações e grande contribuição para o desenvolvimento e evolução ao mercado no qual estava inserido, a Compaq deixou um legado, embora ao custo de deixar de existir. Ela foi responsável pela viabilização e acessibilidade aos PCs que antes eram atrelados somente à IBM. Seus computadores também ajudaram a popularizar os processadores da Intel fora do ecossistema da principal rival nos primeiros anos.

Atualmente, existem produtos licenciados da marca. Um exemplo está aqui mesmo no mercado brasileiro. A Positivo, a partir de 2021, começou a fabricar e comercializar PCs com o nome Compaq no país, como notebooks com hardware mais simples e voltados para o segmento de entrada.

Talvez se não fosse pela Compaq, a indústria de PCs domésticos não teria avançado como avançou, países emergentes como o nosso não teriam tanto acesso aos computadores décadas atrás. Esse, sem dúvida, é um dos maiores legados da marca.

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