O governo brasileiro vai aderir oficialmente à ação movida pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ), braço judicial da Organização das Nações Unidas (ONU), contra Israel. O país sul-africano acusa o governo israelense de cometer genocídio contra a população palestina na Faixa de Gaza. A informação é da Folha de S. Paulo.
O anúncio foi confirmado pelo chanceler Mauro Vieira durante entrevista à emissora Al Jazeera, do Catar, concedida no fim de semana em que o Brasil sediou a cúpula do Brics, no Rio de Janeiro.
“Nós vamos [aderir]. Estamos trabalhando nisso, e você terá essa boa notícia em muito pouco tempo”, declarou o ministro das Relações Exteriores.
Terceira parte do processo
O Brasil entrará como terceira parte no processo, o que permite ao país apresentar argumentos próprios e apoiar formalmente a tese sul-africana, mas sem alterar os termos originais da acusação.
Segundo diplomata ouvido pela Folha de S. Paulo, o Itamaraty avalia que Israel tem “desprezado a diplomacia” e conduz ações militares contra civis palestinos não apenas em Gaza, mas também na Cisjordânia, região que “nunca teve nada a ver com o Hamas”.
“Chegou a hora de agir em outras frentes”, afirmou o diplomata à reportagem.
A iniciativa tem potencial para elevar tensões com o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que já demonstrou desconforto com posições brasileiras em fóruns multilaterais e tem endurecido o tom contra o governo Lula em razão do conflito em Gaza.
O ex-chanceler Celso Amorim, atual assessor internacional da Presidência, defendeu que o Brasil rebaixe ao mínimo suas relações diplomáticas com Israel. Em entrevista no início do mês, Amorim afirmou que o país “não deve aceitar” a indicação de um novo embaixador israelense e avaliou que o governo pode suspender o acordo de livre comércio com Tel Aviv.
“É hora de sermos muito severos”, declarou Amorim à Folha.
Escalada em Gaza e reação internacional
Na semana passada, a África do Sul apresentou uma nova petição à CIJ, argumentando que o conflito atingiu “uma nova e horrenda fase”. Israel, por sua vez, nega as acusações de genocídio e afirma que suas operações militares seguem as normas do direito internacional.
A ação sul-africana tramita na Corte de Haia desde 2022. Até agora, países como México, Colômbia, Turquia e Irlanda já expressaram apoio à causa. A decisão brasileira amplia o isolamento diplomático de Israel entre nações do Sul Global e reforça o discurso de soberania e multilateralismo promovido por Lula em sua política externa.
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