Localizado em São João da Barra, no norte fluminense, o Porto do Açu nasceu para escoar o minério de ferro extraído de uma mina em Conceição do Mato Dentro, em Minas Gerais. Agora, dez anos depois da inauguração, a estratégia de crescimento passa por áreas bem distintas.
Uma delas não soa lá a mais trivial para um porto: data centers.
“Temos tido várias conversas para atrair clientes desse mercado, que não era pensado de forma alguma quando o porto foi construído e iniciou suas operações, dez anos atrás”, disse Eugênio Figueiredo, CEO do Porto do Açu e convidado dessa semana do programa InfoMoney Entrevista.
Não estava nos planos – mas, por que não? Desde a inauguração, o Açu – considerado o maior complexo portuário e industrial privado de águas profundas da América Latina – evoluiu para abrigar operações diversificadas, incluindo terminais de carga geral, bases de apoio offshore para a indústria petrolífera e usinas térmicas a gás natural.
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Originalmente concebido pelo empresário Eike Batista, o complexo hoje é pertence à Prumo Logística, controlada pelos fundos de investimentos EIG e Mubadala, e ao Porto de Antuérpia-Bruges International.
Figueiredo destaca que o porto tem um pouco de tudo o que um data center precisa para operar: fica fora de aglomerados urbanos, tem água e geração própria de energia em abundância, está a míseros 40 km de uma estação de cabos submarinos de fibra da Embratel.
E é grande – muito grande.
“É uma área total de 130 km quadrados, dos quais 90 km quadrados formam o complexo industrial, em que temos dois tipos de operação: a movimentação de cargas no porto e o aluguel de áreas para clientes que querem instalar suas fábricas ou bases de serviços”, diz o executivo.
No segundo grupo se encaixa a instalação de data centers. Há meses a diretoria se reúne com potenciais interessados. E aí, leia-se não as big techs em si, como Microsoft ou Amazon – mas, sim, os prestadores de serviço que atuam na cadeia. São eles que estão avaliando as condições do Porto, de um lado, e negociando contratos com seus clientes, do outro.
“Tem uma boa chance de, até o final do ano, termos algum desses processos evoluindo para um primeiro contrato firme de aluguel de área. É bem factível que isso ocorra em 2025”
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A diversificação também alcança o agronegócio, segmento que vem ganhando espaço no Porto do Açu. Apesar da ausência de conexão ferroviária, o porto tem atraído produtores do Centro-Oeste, especialmente de Goiás e Minas Gerais, para exportação de grãos como soja, milho e café. A movimentação de produtos agrícolas, que começou com a importação de fertilizantes em 2020, deve triplicar em 2025, impulsionada por acordos de cooperação com governos estaduais e estudos para construção de terminais dedicados.
Figueiredo destaca que a localização privilegiada do porto, próxima aos principais campos produtores de petróleo das bacias de Santos e Espírito Santo, permitiu a instalação da maior base de apoio offshore do mundo, com 16 posições para navios simultâneos, superando a tradicional cidade de Macaé. Atualmente, cerca de 40% do petróleo exportado pelo Brasil passam pelo Açu em algum grau ou etapa de produção.
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A vocação para o setor petrolífero é complementada pela crescente aposta em energias limpas, com projetos de hidrogênio verde e combustíveis sustentáveis em desenvolvimento no complexo.
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