Tarifaço de Trump pode deixar eletrônicos mais caros? Especialista analisa


Medida afeta todas exportações brasileiras e levanta dúvidas sobre aumento nos preços de celulares, notebooks e outros produtos de tecnologia; Brasil ainda não anunciou retaliação Celulares, notebooks, smart TVs e outros eletrônicos podem ficar mais caros no Brasil com o tarifaço? Esse é um dos temores levantados após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras. A medida foi comunicada nesta quarta-feira (9) em uma carta pública enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deve entrar em vigor no dia 1º de agosto. Embora o setor de tecnologia não tenha sido citado diretamente na nova taxação, o economista e mestre em Teoria Econômica Presley Vasconcellos, ouvido pelo TechTudo, alerta para efeitos indiretos no mercado.
Será que o aumento de custos em cadeias produtivas que envolvem insumos como aço e alumínio, além da possibilidade de retaliação por parte do Brasil, pode impactar marcas como Apple, Dell e HP – e, por consequência, o bolso do consumidor? O governo Lula ainda avalia como reagir, e o cenário abre espaço para especulações: celulares e notebooks vão ficar mais caros? O consumidor deve se preocupar agora? Entenda o que está em jogo até o momento.
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Tarifaço de Trump pode deixar eletrônicos mais caros? Especialistas analisam
Reprodução/IA/ChatGPT
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Vale ressaltar que essas informações são em caráter explicativo e especulativo, baseadas em dados oficiais disponíveis até o momento e em análises de economistas e especialistas em comércio exterior. Até agora, nenhuma medida foi formalmente adotada pelo governo brasileiro em resposta à tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos. Os possíveis impactos para o consumidor, especialmente no setor de tecnologia, ainda dependem de decisões políticas e reações do mercado nas próximas semanas.
O que é o tarifaço do Trump e como ele funciona?
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou no dia 9 de julho a aplicação de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras, com início previsto para 1º de agosto. A medida foi comunicada por meio de uma carta pública enviada ao presidente Lula e representa uma escalada inédita nas tensões comerciais entre os dois países. O Brasil foi o país mais penalizado até agora entre os 22 que receberam notificações semelhantes – as demais tarifas variam entre 20% e 40%.
Segundo Trump, a decisão é uma resposta às “tarifas injustas” aplicadas pelo Brasil contra produtos americanos e também às ações do Supremo Tribunal Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e empresas de tecnologia dos EUA – argumentos com forte tom político e contestados por autoridades brasileiras. A tarifa será aplicada de forma adicional às já existentes, afetando todas as categorias de produtos exportados pelo Brasil aos EUA.
A carta também sugere que a tarifa poderia ser revista, desde que o Brasil elimine barreiras comerciais e permita maior acesso ao seu mercado. Trump ainda afirma que empresas brasileiras poderiam escapar da tarifa se passassem a produzir diretamente nos Estados Unidos – promessa acompanhada da oferta de agilizar o processo de instalação dessas operações no país.
Tarifaço de Trump pode deixar eletrônicos mais caros? Especialistas analisam
João Marcelo Rodrigues/TechTudo
Eletrônicos no Brasil podem ficar mais caros?
Podem. Apesar de ainda não haver impacto direto, os riscos são concretos. O aumento do dólar encarece a importação de produtos e componentes. Mesmo empresas que fabricam no Brasil dependem de peças de fora – como telas, processadores, chips e baterias. Qualquer oscilação cambial pode impactar o preço final de celulares, notebooks, tablets, TVs e acessórios.
Se o governo Lula decidir retaliar taxando produtos americanos, os efeitos podem ser ainda mais diretos. Marcas como Apple, Dell, HP, Microsoft e outras gigantes dos EUA podem sofrer aumento de custos para operar no Brasil, o que tende a ser repassado ao consumidor. Vale ressaltar que esse tipo de consequência ainda é especulativa e depende das decisões do governo brasileiro e da resposta do mercado.
Segundo o economista e criador de conteúdo Presley Vasconcellos, os eletrônicos devem sentir os efeitos do tarifaço de forma indireta, caso a taxa de 50% se concretize.
“A tarifa em si não nos afeta diretamente, mas pode gerar instabilidade econômica e desvalorização cambial. Isso encarece os insumos e aumenta o preço dos produtos por tabela”, explica.
iPhone 16 Pro Max pode ficar mais caro no Brasil com o tarifaço de Trump?
Divulgação/Apple
Além disso, Presley alerta que o câmbio instável tende a gerar uma perda de confiança entre os agentes econômicos, o que pode pressionar o dólar e elevar os custos de produção.
“Mesmo eletrônicos montados no Brasil podem ser impactados, já que muitos dependem de componentes estrangeiros. E com o dólar mais caro, tudo isso tende a ficar mais difícil”, diz o economista.
Dólar dispara e mercado reage mal
Na manhã desta quinta-feira (10), o dólar chegou a R$ 5,62 na máxima do dia, após o anúncio das tarifas. A moeda americana operava em alta de 0,69% por volta das 11h50, cotada a R$ 5,54. No dia anterior, já havia subido 1,06%. O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, também reagiu negativamente, recuando 1,31% na quarta-feira (9) e caindo mais 0,81% nesta quinta.
Especialistas apontam que a escalada de tensões comerciais pode pressionar ainda mais os preços, gerar inflação global e dificultar a redução de juros nos Estados Unidos. Isso reforça o cenário de dólar valorizado no curto prazo, o que pode afetar diretamente o custo de produtos importados no Brasil – incluindo eletrônicos.
Marcas podem reajustar preços no Brasil?
A depender do rumo das negociações entre os países, é possível que marcas como Apple, Dell e HP repensem seus preços ou estratégias no mercado brasileiro. “Se a crise continuar, essas empresas podem reajustar os valores praticados no Brasil como forma de compensar a desvalorização cambial ou dificuldades logísticas”, afirma Presley.
O economista lembra que as cadeias produtivas dessas marcas são globais e, por isso, mesmo que a tarifa não afete diretamente suas sedes, os impactos nos fluxos internacionais podem acabar gerando consequências locais. “Em alguns casos, as empresas mudam até a rota de produção para tentar driblar esses efeitos tributários”, acrescenta.
Produção de peças nos EUA pode encarecer produtos brasileiros
Reprodução/Apple
Quais produtos estão mais vulneráveis?
Caso o Brasil opte por retaliar, ou se o dólar continuar a subir, produtos com produção parcial ou total nos Estados Unidos devem ser os mais afetados. Presley cita notebooks, celulares, tablets, iPads e semicondutores como os itens com maior risco de encarecimento. “Softwares, ferramentas na nuvem e serviços digitais também podem ter reajustes, já que são cotados em dólar”, alerta.
Além do consumidor final, empresas brasileiras que dependem de peças e componentes importados também podem sofrer. “Se essas empresas estiverem conectadas a cadeias logísticas dos EUA, há risco de aumento nos custos, atrasos e até dificuldade de inovação”, afirma Presley. Ele destaca que a incerteza sobre a relação comercial entre os países dificulta qualquer planejamento de médio ou longo prazo.
Talvez o impacto não seja tão visível no preço imediato, mas sim na capacidade de importação, na competitividade e até na atualização tecnológica dessas empresas
O que o governo brasileiro pretende fazer?
O presidente Lula ainda não anunciou nenhuma retaliação formal, mas declarou que o Brasil “não aceitará ser tutelado por ninguém” e que responderá à altura, com base na Lei da Reciprocidade Econômica. Essa norma, sancionada em abril deste ano, autoriza o país a aplicar tarifas equivalentes às que recebe de parceiros comerciais.
O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que o governo federal vai criar um grupo de trabalho para analisar possíveis formas de retaliação à tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos às exportações brasileiras. Segundo ele, o grupo também terá como missão identificar novos mercados para os produtos afetados, com o objetivo de minimizar os impactos econômicos da medida, caso ela seja mantida. Costa destacou ainda que os canais diplomáticos permanecerão abertos e que o Brasil seguirá negociando com os EUA até a entrada em vigor da tarifa, prevista para 1º de agosto.
Notebook e celulares podem ficar mais caros com tarifaço de Trump
Reprodução/Pexels
Entre as possibilidades estão ações na Organização Mundial do Comércio (OMC), negociações diretas com os Estados Unidos, ou a aplicação de tarifas equivalentes sobre produtos americanos. No entanto, todas essas hipóteses ainda estão em fase de estudo, sem prazos definidos ou decisões anunciadas.
De acordo com Presley, o governo tem alguns caminhos possíveis para minimizar os impactos ao consumidor, especialmente se a tarifa for mantida. Um deles é atuar diretamente para conter a volatilidade do dólar.
“O Banco Central pode usar reservas cambiais como sinal de estabilidade. Além disso, o governo pode negociar novas rotas comerciais e até reduzir impostos sobre eletrônicos essenciais”, explica Presley.
Ele também menciona a importância de fortalecer a indústria nacional de tecnologia, algo que, segundo ele, ainda é lento e exige planejamento. “A proteção do mercado interno só funciona se houver investimento. Desonerar importações estratégicas e firmar acordos com novos parceiros podem ser formas de diminuir a dependência dos Estados Unidos”, diz.
O que o consumidor precisa saber agora?
Com o cenário ainda em construção, não há motivo para alarde. O tarifaço anunciado por Trump só entra em vigor em 1º de agosto, e o governo brasileiro ainda pode negociar ou judicializar a questão. Também não há nenhuma confirmação de que produtos de tecnologia estejam na mira direta de uma possível retaliação.
O que existe, por ora, são sinais de alerta sobre impactos indiretos: o dólar já subiu, e novas pressões podem afetar custos de importação e o preço final para o consumidor. Mas, enquanto não houver medidas efetivas, qualquer alta de preço em eletrônicos continua sendo apenas uma possibilidade.
Veja um resumo do que já se sabe até agora:
A tarifa de Trump entra em vigor apenas em 1º de agosto;
O governo brasileiro ainda pode negociar ou judicializar a questão;
O efeito no preço dos eletrônicos pode ocorrer por meio da alta do dólar e/ou retaliações comerciais;
Há a possibilidade de compras de alto valor – como celulares topo de linha e notebooks – sofrerem variações de preço nos próximos meses.
Portanto, não há motivo para pânico agora, mas acompanhar o noticiário e o câmbio pode ajudar a tomar decisões de compra mais estratégicas.
Donald Trump
Reprodução/Getty Images
O Brasil pode ir à OMC?
Sim. Uma das possibilidades em estudo é acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC), argumentando que a tarifa de Trump viola acordos internacionais por ser discriminatória. Ao mesmo tempo, o governo avalia retaliações coordenadas com outros países afetados. Desde o início da semana, Trump notificou 22 países sobre a aplicação de tarifas comerciais que variam entre 20% e 50%, de acordo com cada nação.
As cartas foram enviadas em duas etapas – 14 na segunda-feira (7) e mais oito na quarta-feira (9) – e estabelecem alíquotas mínimas sobre produtos importados, com vigência a partir de 1º de agosto. O Brasil foi o país mais penalizado, com a tarifa mais alta entre todos os notificados: 50%.
O que pode acontecer nos próximos meses?
Por enquanto, tudo o que se projeta está no campo das possibilidades. Ainda não há medidas confirmadas de retaliação por parte do Brasil, nem se sabe se os Estados Unidos manterão a tarifa nos moldes anunciados a partir de 1º de agosto. No entanto, caso o tarifaço avance e haja uma resposta do governo brasileiro, existem alguns efeitos possíveis:
Aumento de preços em eletrônicos importados e produtos com insumos estrangeiros, como celulares, notebooks e acessórios;
Valorização do dólar, que tende a pressionar os custos de produção e importação;
Impacto em produtos e serviços digitais pagos em dólar, como softwares, games, plataformas de streaming e armazenamento em nuvem;
Revisão de estratégias comerciais por empresas americanas no Brasil, com reflexos na oferta de produtos, estoques ou investimentos.
A combinação desses fatores – ainda hipotéticos – pode tornar o segundo semestre mais caro para quem pretende comprar tecnologia. Mas, até que as decisões oficiais sejam tomadas, o cenário permanece em aberto.
Com informações de G1 (1, 2, 3) e O Globo
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