A ideia de unir pensamentos humanos e dispositivos digitais não pertence mais apenas à ficção científica. Com o avanço das Interfaces Cérebro-Computador (BCIs), empresas como Neuralink e Synchron têm mostrado que já é possível controlar computadores, smartphones e membros robóticos com o pensamento. No entanto, especialistas alertam que ainda estamos longe de fazer o “upload” completo da mente humana. Esse processo, conhecido como Emulação do Cérebro Inteiro (WBE, na sigla em inglês), exigiria mapear e simular os 86 bilhões de neurônios e trilhões de conexões do cérebro, algo que a ciência ainda não consegue fazer.
Além dos desafios técnicos, o tema também levanta debates éticos sobre privacidade, identidade e limites do que pode ser considerado “humano” em uma consciência digital. A seguir, veja o que já é possível fazer com BCIs hoje, os obstáculos científicos da emulação cerebral e os riscos já imaginados por séries como Black Mirror e Upload.
🔎Stentrode: chip cerebral já permite controlar aparelhos com a mente; saiba como
➡️ Canal do TechTudo no WhatsApp: acompanhe as principais notícias, tutoriais e reviews
Interfaces entre cérebro e computador avançam significativamente, mas upload de consciência ainda não é possível; entenda
Reprodução/Youtube National Science Foundation
📝 Qual é a melhor inteligência artificial que cria imagens? Comente no Fórum do TechTudo
Já é possível conectar cérebro e máquina, mas com muitas limitações
Interfaces cérebro-computador (BCIs) são tecnologias que permitem a comunicação direta entre o cérebro humano e dispositivos eletrônicos. Na prática, isso significa que é possível, por exemplo, mover um cursor na tela ou controlar um braço robótico usando apenas o pensamento.
Empresas como a Neuralink, de Elon Musk, e Synchron já tem desenvolvido testes em humanos com resultados promissores. Esses sistemas são úteis principalmente para pessoas com paralisia, que conseguem recuperar algum grau de autonomia ao controlar equipamentos por meio de ondas cerebrais.
Chip da Synchron permite que pessoas com paralisia acionem dispositivos apenas com o pensamento
Reprodução/University of Melbourne
Apesar do avanço, essas tecnologias ainda estão longe de decodificar pensamentos complexos ou emoções. As BCIs atuais operam com base em padrões de atividade neural que precisam ser interpretados por algoritmos — e essa “tradução” exige treinamento e está longe de ser perfeita.
Além disso, a instalação de implantes cerebrais invasivos envolve riscos cirúrgicos, enquanto os métodos não invasivos têm precisão mais limitada. Outro ponto sensível é a privacidade, já que os dados cerebrais são extremamente pessoais e ainda não existem regulamentações sobre essas informações sensíveis poderiam ser armazenadas, compartilhadas ou utilizadas. Isso faz com que, mesmo com os avanços, o “upload” da mente humana ainda seja um horizonte distante.
IA pode simular a memória, mas sem sentimentos ou consciência
Com a popularização das redes neurais e dos modelos generativos, a Inteligência Artificial já consegue armazenar, relembrar e combinar informações de forma avançada. Sistemas como o GPT, da OpenAI, o Gemini, do Google, ou o Grok, da xAI, conseguem simular raciocínio, memorizar longas conversas e até resgatar conteúdos de interações anteriores.
Em 2024, o Google apresentou a arquitetura Titans, que expandiu a capacidade de memória a mais de dois milhões de tokens, o que equivale a milhares de páginas de texto. Ainda assim, essas “lembranças” não têm nada a ver com sentimentos, recordações pessoais ou consciência.
O que a IA faz é reconhecer padrões e gerar respostas baseadas em dados, mas sem qualquer noção do que está dizendo. Mesmo com chips neuromórficos como o Loihi 2, da Intel, e sistemas operacionais como o MemOS, que ajudam a IA a “lembrar” de interações passadas, não há processamento de emoções ou subjetividade. Por mais que as máquinas avancem na capacidade de armazenar dados, elas não conseguem reproduzir a complexidade da memória humana, que envolve identidade, contexto social, afetos e emoções.
Chatbots como o ChatGPT conseguem simular raciocínio humano, mas não reproduzem subjetividade e emoções
Reprodução/Depositphotos.com/jypix
Upload da mente humana seria um desafio técnico e ético
O sonho de fazer o upload da consciência humana, conhecido como Emulação do Cérebro Inteiro (ou Whole Brain Emulation, em inglês), vai além de capturar pensamentos. A meta é mapear cada célula do cérebro, entender como elas interagem e simular todo esse sistema de forma funcional em um software.
Pesquisas do MIT com cérebros de camundongos e macacos têm ajudado a compreender esses circuitos, mas o cérebro humano, com seus 86 bilhões de neurônios e trilhões de sinapses, ainda é um grande mistério. Mesmo com os avanços em computação, o armazenamento e o processamento necessários para simular uma mente completa são incomparáveis com a tecnologia disponível hoje.
Episódio de “Black Mirror” mostra upload de consciência e seus impasses éticos
Reprodução/IMDb
Além dos obstáculos técnicos, o upload da mente traria questões complexas, como a propriedade e os direitos da consciência copiada. Isso sem mencionar os riscos de acessos indevidos à memória digital. E, em relação aos dados armazenados, seriam mesmo a pessoa original ou apenas uma simulação? Mais do que uma conquista tecnológica, transferir a mente para uma máquina modificaria os limites do que é ser humano, e a ciência ainda não tem todas essas respostas.
Com informações de Unite.AI
🎥 IA não é terapia! Veja porque você nunca deve desabafar com chatbots
IA não é terapia! Veja porque você nunca deve desabafar com chatbots
Mais do TechTudo