A renda fixa seguiu dominando o mercado de capitais no primeiro semestre deste ano, sendo responsável por 91,9% do volume captado pelas empresas. Apesar de ser responsável por apenas 9,7% desse montante, um instrumento chamou atenção nos primeiros meses de 2025: as notas comerciais (NCs). Isso porque elas cresceram 127% na comparação com o primeiro semestre de 2024, mais do que qualquer outro instrumento no período.
Com o resultado, as notas comerciais ultrapassaram Fundos Imobiliários, CRIs e CRAs (Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio) para se tornarem o terceiro maior instrumento em volume de captação do mercado, atrás apenas de debêntures e FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios). Os dados são da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
Segundo especialistas, as NCs vieram para ficar e, nos próximos meses, ainda será possível acompanhar um crescimento relevante nesse tipo de emissão.
Por que as notas comerciais cresceram tanto?
O cenário de imprevisibilidade com Selic alta, tarifas dos Estados Unidos e preocupação com a política fiscal brasileira ajuda a explicar o sucesso recente das NCs. Isso porque elas são mais ágeis e baratas do que as debêntures e, portanto, podem ser usadas para diminuir os custos de crédito enquanto os juros básicos estão em 15% ao ano e agilizar operações para aproveitar spreads os spreads amassados do crédito privado.
Segundo Elias Maron, sócio e diretor jurídico e compliance da Bloxs, o crescimento das notas comerciais “reflete um movimento de realocação estratégica de emissores em busca de agilidade, menor custo e flexibilidade jurídica; trata-se de uma resposta pragmática à conjuntura macroeconômica e regulatória”.
O instrumento geralmente é mais usado para emissões de curto prazo, mais procuradas por empresas que precisam de crédito agora, mas acreditam que a possível queda da Selic no início de 2026 dará a elas a chance de encontrar financiamento mais barato no futuro.
Ao contrário das debêntures, as NCs podem ser emitidas por empresas de capital fechado, “o que, por si só, já amplia de forma relevante a quantidade de potenciais emissores”, explica Bruno Ourique, sócio do Cepeda Advogados. Com isso, o potencial de crescimento desse instrumento é grande. Ourique ainda pontua que esse ativo é relativamente novo, criado em 2021.
Outro fator que explica o crescimento recente das notas comerciais é seu uso para operações de “funding tático”, como capital de giro, emissões antes de fusões e aquisições ou para reestruturação, explica Maron.
- Leia também: XP vai emitir R$ 1,1 bi em notas comerciais
Alternativas às debêntures?
Enquanto as notas comerciais tiveram crescimento relevante no primeiro semestre, as captações via debêntures caíram 6,8%. Elas seguem liderando com folgas em volume captado (R$ 196,68 bilhões no primeiro semestre de 2025), mas o movimento mostra que as notas comerciais “foram uma alternativa relevante” às debêntures “para parte dos emissores, especialmente aqueles que buscavam eficiência operacional, tempo de emissão reduzido e captações de menor prazo”, diz Elias Maron.
Guilherme Maranhão, presidente do Fórum de Estruturação de Mercado de Capitais da Anbima, diz que as NCs são mais abrangentes do ponto de vista de quem pode emitir, mais rápidas e fáceis do que as debêntures. “Por serem mais rápidas, pode ser usadas como empréstimos-ponte para outras transações”, disse o especialista.
As notas comerciais ainda são mais flexíveis do que as debêntures. Bruno Ourique lembra que há “maior liberdade para estipulação de seus termos em contrato”.
No entanto, as NCs seguem longe de rivalizar com as debêntures por conta de algumas desvantagens estruturais, como prazo restrito a 360 dias, baixa liquidez no mercado secundário – o que limita a participação de fundos com maior liquidez – e ratings e garantias “muitas vezes mais frágeis”, elenca Maron.
Movimento positivo para o mercado
Apesar de nichadas e restritas a investidores profissionais, o crescimento das notas comerciais tem aspectos positivos para os investidores em geral. A presença desse instrumento no mercado de crédito privado “é positiva, na medida em que amplia o leque de ativos disponíveis e estimula a diversificação”, analisa o diretor da Bloxs.
Ourique, do Cepeda Advogados, destaca a importância de pesquisar sobre a saúde financeira da empresa emissora, seu mercado de atuação e quais garantias estão atreladas ao investimento.
Enquanto as notas comerciais forem acompanhadas de “processos sólidos de análise, monitoramento e mitigação de riscos” terão impacto neutro no mercado de capitais, segundo Maron. O que pode transformar a presença mais frequente do instrumento nas captações em negativa é uma eventual expansão “desordenada, sem governança mínima”, o que comprometeria a credibilidade do instrumento.
infomoney.com.br/">InfoMoney.