Concorrência cresce, mas iFood segue o mantra: “não esperem uma reação maluca”

Desde quando concorrentes elevaram a temperatura no mercado de aplicativos de delivery, o mantra do iFood é: “não esperem nenhum tipo de reação maluca”. Na abertura do principal evento anual da companhia na última terça-feira (5), foi isso que o CEO Diego Barreto reforçou a uma plenária repleta de donos de restaurantes, justamente quem está na mira dos competidores.

Duas empresas de controle chinês são os nomes que chegam para disputar uma parcela da líder absoluta no mercado de entregas por aplicativo. Uma delas, já é uma conhecida do mercado brasileiro: a 99 marcou seu retorno ao delivery — antes encerrado em 2023 — com isenção de taxa aos restaurantes. A novata é a Meituan, avaliada em mais de US$ 600 bilhões na bolsa de Hong Kong, que anunciou, em maio, um investimento de R$ 5,6 bilhões para dar início a sua operação brasileira com a mesma estratégia de isentar os restaurantes de taxas na busca por market share. A colombiana Rappi, por sua vez, não demorou a isentar seus restaurantes de comissões para entrar na briga.

Mas alterar a política de cobrança dos restaurantes não é uma onda que o iFood pretende entrar. Aliás, a empresa entende que pouco tem que mudar na sua estratégia diante do novo cenário. “Quando você tem ativos para competir, você não está reagindo, você está continuando um processo de evolução, de ação”, afirma Barreto em entrevista ao InfoMoney.

Não é como se a empresa imaginasse passar sem nenhum arranhão pela disputa. No primeiro momento, deve haver redução na participação de mercado devido ao aumento da concorrência, mas todas projeções indicam para uma continuidade do ritmo de crescimento.

O iFood projeta saltar o número de clientes de 55 milhões em 2025 para 80 milhões em 2028. No mesmo período, a expectativa é sair de 120 milhões de pedidos mensais para 200 milhões de pedidos mensais. O primeiro impulso já foi anunciado: um investimento de R$ 17 bilhões entre fevereiro de 2025 e março de 2026 focado em aumento de tráfego e recorrência de compras no aplicativo, bem como ampliação dos segmentos de atuação.

Segundo Barreto, o ciclo de investimento é baseado em geração de caixa, alavancagem ou aumento de capital do investidor, a Prosus. O grupo de investimento, inclusive, tem reduzido sua posição na Meituan, justamente a nova concorrente do iFood, ainda que a companhia negue que a chegada ao Brasil esteja relacionada com o desinvestimento.

“Tem a ver com uma não concordância com a estratégia de criar múltiplos frontes de batalha pelo mundo, em especial num momento de altíssima competição na China”, aponta Barreto. Além do Brasil, a Meituan está expandindo sua operação para a Arábia Saudita, Hong Kong e estuda mercados na Ásia e na Europa.

À moda Mercado Livre

Uma inspiração para o novo momento é o Mercado Livre, marketplace argentino que tem no Brasil seu principal mercado. “A Amazon entrou no Brasil anos atrás, o Mercado Livre perdeu receita? Shopee e Temu entraram, o Mercado Livre perdeu receita? O que ele faz é construir ativos que o tornam melhor”, diz Barreto.

Ativos, no caso do iFood, pode significar cada vez mais coisas. Só no portfólio de empresas adquiridas pela Prosus — como Decolar e Sympla — são centenas de milhões de usuários acessados. A CRMBonus, aquisição do iFood, adiciona 100 milhões de brasileiros à base.

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Além disso, a empresa tem mirado em expansão em presença física dentro dos restaurantes. E, dentro do próprio app, a companhia está fortalecendo cada vez mais o seu braço de serviços financeiros.

Apenas em julho o braço de crédito emprestou R$ 160 milhões a restaurantes, parte de um montante de R$ 2 bilhões em financiamentos disponibilizado desde a inauguração do “iFood Pago”.

Outra parte relevante da estratégia de crescimento do iFood tem sido baseada em aquisições: foram 40 desde 2011. Segundo Barreto, os R$ 17 bilhões de investimento prometidos para 2025 não incluem valores reservados para novos M&As.

No último mês, o Valor Econômico noticiou que a empresa de delivery teria conversas avançadas para a compra da Alelo. Esse movimento reforçaria outra aposta da companhia no setor de vale-alimentação, vale-refeição e benefícios corporativos. Barreto não confirma as negociações e diz que um eventual movimento neste setor teria como única razão gerar sinergia de volume.

Hoje, as grandes companhias de VR e VA, como a própria Alelo, Ticket, Pluxee (antiga Sodexo) e VR Benefícios tem 80% do mercado. Entre mudanças implementadas e não implementadas no PAT, essas companhias não chegaram a sofrer um baque tão grande de novas entrantes como o próprio iFood Benefícios, Caju e Flash.

“O iFood Benefícios cresce em uma taxa grande. Estamos batendo 1 milhão de clientes no próximo mês. A líder de mercado tem em torno de 6 milhões. A quarta colocada tem em torno de 2,5 milhões. Eu já estou no meio do caminho da quarta colocada, de uma das incumbentes”, avalia o executivo.

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