O enfraquecimento dos dados do mercado de trabalho nos Estados Unidos reacendeu o debate sobre o futuro dos juros americanos. Na avaliação de Fernando Genta, economista-chefe na XP Asset, os números divulgados na última sexta-feira (1), no payroll, mostraram uma desaceleração mais intensa do que a prevista, com revisões negativas nos meses anteriores, o que modifica o cenário de política monetária que vinha se consolidando nas últimas semanas.
Até então, tanto o Federal Reserve quanto o Banco Central Europeu vinham adotando discursos mais duros, indicando que o ciclo de cortes poderia estar chegando ao fim. No caso dos EUA, o presidente do Fed, Jerome Powell, manteve um tom “hawkish” em sua última coletiva, priorizando o controle da inflação. No entanto, o mercado de trabalho, que deveria apenas desacelerar por redução da oferta — devido à queda na imigração —, agora mostra sinais mais claros de fraqueza.
A fraqueza nos dados do segundo trimestre já era esperada, diz Genta, principalmente diante da alta volatilidade nos mercados, das tensões geopolíticas e da política tarifária agressiva dos Estados Unidos. “As tarifas sobre importações já chegam a 11% e devem pressionar os preços em breve”, observa. A combinação de inflação persistente e atividade mais fraca mantém o Fed em uma posição delicada.
Mesmo com o mercado precificando cortes, Genta acredita que a autoridade monetária americana deve manter os juros nos níveis atuais ao longo de 2025. “O Fed continua data-dependent. Cortes, só a partir de meados do ano que vem, e mesmo assim com limitações claras.”
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Economia brasileira pode surpreender no segundo semestre
Enquanto o consenso do mercado aponta para desaceleração da economia brasileira, Genta defende uma visão mais otimista para o segundo semestre. Apesar de o PIB do segundo trimestre ter vindo mais fraco, com impacto de um erro estatístico relacionado à mensuração da produção de etanol, a expectativa é de que os próximos meses tragam sinais de reaceleração.
A combinação de estímulos fiscais concentrados no segundo semestre e efeitos de oferta positivos, como uma supersafra agrícola e o câmbio apreciado, tende a impulsionar a atividade. “Pressiona os preços temporariamente para baixo, como já vimos em 2023, mas melhora a tração da economia”, explica o economista.
Essa dinâmica pode colocar o Banco Central em uma posição mais cautelosa. Na avaliação de Genta, a Selic deve permanecer no patamar atual por mais tempo do que nos ciclos anteriores.
“Cortes só a partir do segundo trimestre de 2026, e mesmo assim, limitados”, afirma, em tom semelhante ao previsto para o ciclo americano. O cenário base da Asset prevê inflação acima da meta, o que restringe os movimentos do Copom, mesmo com uma nova composição do comitê no próximo ano.
“Se a economia acelerar e a inflação continuar pressionada, os cortes de juros ficarão restritos a algo entre 250 e 300 pontos ao longo de 2026, dependendo do câmbio e da evolução dos preços administrados”, aponta Genta.
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Tensões comerciais com os EUA devem ter impacto limitado
Do lado externo, Genta avalia que os riscos vindos das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos são relevantes, mas ainda não ameaçam o desempenho macroeconômico do país. Cerca de 50% da pauta de exportações brasileiras já estaria fora do escopo de tarifas adicionais. A expectativa é de que itens como café e carnes também sejam poupados.
“Haverá impacto setorial, sobretudo em bens de capital, mas muitas dessas empresas são americanas com produção local. No agregado, o impacto deve ser marginal — algo em torno de 0,1 ou 0,2 ponto percentual no PIB”, estima o especialista. Com o tarifaço imposto por Trump, o mercado segue atento ao desdobramento das negociações.
As tensões com outros parceiros comerciais, como China, Rússia e Índia, também compõem o pano de fundo da incerteza internacional. Ainda assim, Genta reforça que o crescimento americano deve desacelerar “dentro do esperado”, com o consumo sentindo os primeiros efeitos das políticas internas mais restritivas.
Cenário político segue no radar, mas sem impacto macro por ora
No campo político, a recente prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro gera novos pontos de atenção para o mercado. Genta, no entanto, pondera que ainda é cedo para incorporar impactos macroeconômicos relevantes. “A tendência, até esse episódio, era de distensionamento das relações entre Brasil e Estados Unidos”, comenta.
Embora o cenário institucional brasileiro continue sendo monitorado de perto, o economista destaca que o foco permanece nos dados de atividade e inflação.
“Seguimos atentos, mas o cenário central ainda não muda. A política monetária deve continuar restritiva, e o impulso fiscal do segundo semestre pode reverter parte da fraqueza vista no primeiro.”
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