Ata mostrou Copom cauteloso e atento às expectativas de inflação fora do ponto

O tom cauteloso que a ata da reunião do Copom do último dia 30 de julho trouxe nesta terça-feira (5) já era esperado pelos economistas. Mas o destaque dos comentários sobre a decisão do BC de colocar fim ao ciclo de alta da taxa de juros foi o esforço da comunicação da autoridade monetária em evitar brechas que pudessem indicar até quando a Selic vai se manter nos atuais 15% ao ano. Os especialistas estão divididos sobre o início dos cortes, que devem vir entre dezembro próximo e o início de 2026.

A da XP Macro disse em análises que, para reforçar na ata a necessidade de cautela na condução da política monetária, o BC repetiu por cinco vezes que os juros devem permanecer assim por um “período muito prolongado”.

Ao comentar que o ambiente global é “mais adverso e incerto” e que no campo doméstico está sendo percebida “alguma moderação no crescimento”, a XP diz “o Copom fez um esforço para sugerir que os recentes desenvolvimentos na atividade e na inflação não mudam sua visão de que o trabalho da política monetária está longe de ser concluído, e ainda é necessária cautela extra à frente”.

Também foi destacado o comentário que a política fiscal parece ser outra razão para uma política monetária conservadora no curto prazo, pois tem impacto na demanda agregada e “uma dimensão mais estrutural, que tem o potencial de afetar as percepções de sustentabilidade da dívida e influenciar o prêmio de prazo na curva de rendimentos”.

“Em suma, o Copom continua evitando dar qualquer sinal ‘dovish’ – como fez no comunicado pós-reunião da semana passada -, sugerindo que a taxa Selic permanecerá em 15,00% por um período considerável à frente”, diz XP.

A projeção da casa é que deverá ser iniciado um ciclo de flexibilização monetária a partir de janeiro, com a taxa Selic atingindo 12,50% após cinco cortes consecutivos de 50 p.b. no ano. Um corte anterior, em dezembro, parece mais provável do que um posterior, diz a XP.

Na opinião de  André Valério, economista sênior do Inter, as grandes preocupações do Copom continuam sendo as expectativas de inflação desancoradas e a política fiscal em desarmonia com a política monetária. “O que, juntamente com o aumento do crédito direcionado, pode elevar o custo de desinflação para a economia”, afirma.

“A ata reforça que o grande desafio do Copom nesse momento é comunicar o fim do ciclo de alta sem levar a precificações prematuras do início do ciclo de cortes”, completou Valério.

Na sua projeção, dada a ata e o atual contexto de inflação menos pressionada e real apreciado, uma desaceleração mais intensa da atividade, seguida de enfraquecimento do mercado de trabalho, deve ser a pré-condição para o início do ciclo de cortes.

“Diante disso, mantemos nossa expectativa de que essas condições sejam alcançadas a tempo da reunião de dezembro, quando o Copom deverá cortar a Selic em 50 pontos base.”

Já na avaliação do Bradesco, a comunicação atual indica que o Copom ainda quer mais tempo para concluir que o nível atual de juros é restritivo o suficiente para levar a inflação à meta. “Entendemos que, com o desenrolar do cenário, o BC vai ganhar confiança na redução da inflação. Nosso cenário pressupõe de manutenção de juros em 15% até dezembro, quando haverá um corte de 0,5 p.p. para 14,5%”, analisa o banco, que deve fazer uma reavaliação do cenário nos próximos dias.

Para o Goldman Sachs, o Copom parece comprometido em ser muito paciente e ficar em espera até possivelmente o 1º semestre de 2026, se não houver convergência tangível das expectativas de inflação para a meta.

Leonardo Costa, economista do ASA, diz ter visto um tom entre neutro e “dove” (suave) na ata. “Há o reconhecimento de atividade mais fraca na margem, efeito da política monetária. Em resumo, o Copom avaliou que o ambiente externo se tornou mais adverso e incerto, especialmente devido à política econômica dos EUA. No cenário doméstico, a atividade mostra sinais de moderação, mas o mercado de trabalho segue resiliente”, destaca.

Ele frisa, no entanto, que a inflação continua acima da meta, com expectativas desancoradas para 2025 e 2026. “Em vistas do balanço de riscos, segue apostando em manutenção da taxa em patamar elevado como estratégia de convergência da inflação à meta. Apostamos em início do ciclo de queda de juros em dezembro de 2025, com corte de 0,25%.”

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