O JRPG é um gênero curioso. Afinal de contas, o que o definiria? Cloud, em seu ápice do combate de Final Fantasy VII girando a sua espada e a pendurando nas costas ao som de Victory Fanfare? A descoberta de Mewtwo na Unknown Cave, em Pokémon Red? Ou o surgimento de uma misteriosa máscara, que mudará seu destino por completo em Persona 5?
Lar de experiências e franquias únicas, os RPGs japoneses são mais do que meros jogos para os seus fãs. São memórias, amigos e uma jornada riquíssima que aprendemos a amar ao longo de nossa vida. Quem pegou um Final Fantasy, Dragon Quest, Pokémon, Bravely Default ou até um Yakuza: Like a Dragon sabe bem que eles são mais do que os olhos veem.
Então, como mensurar tudo isso em meros padrões? Pois bem, o JRPG permite fazer isso sem perder a sua magia e encanto. Qualquer pessoa pode entender o que faz daquilo uma jornada inesquecível, ao mesmo tempo que seus sentimentos mostram que nem tudo pode ser descrito em palavras. Afinal de contas, há mais do que os olhos observam e os controles orientam, não é mesmo?
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Ainda que JRPG, no literal, signifique RPG produzido no Japão, a definição vai muito além disso. Afinal de contas, Dark Souls é um RPG, veio do Japão e ainda assim não se enquadra na categoria. Enquanto isso, Clair Obscur: Expedition 33 — produzido pela francesa Sandfall Interactive — é um jogo que homenageia e é uma experiência típica do gênero.
Há uma linha bem tênue que separa jogos como Dragon’s Dogma, Elden Ring, Dark Souls e outros de jogos como Metaphor: ReFantazio, Breath of Fire e Xenoblade Chronicles. Porém, como saber se o que você está jogando é uma experiência de uma categoria ou da outra?
Para desvendar este “mistério”, o Canaltech preparou este guia para ajudar você a compreender melhor o que é um JRPG e como perceber as nuances desse gênero. Entre mecânicas e uma forte narrativa, você finalmente compreenderá o que os torna grandiosos neste mercado.
Os 4 pilares do JRPG clássico
Ainda que JRPG signifique “RPG do Japão”, eles vão além da barreira geográfica. Existem RPGs japoneses que não se enquadram nesta categoria (como Dark Souls, Dragon’s Dogma e outros), enquanto há jogos do gênero produzidos em outros países que podem ser incluídos no gênero.
Alguns pilares conseguem estabelecer bem o que esperar de uma experiência típica — com quatro definindo com precisão o que encontrará na maioria esmagadora deles. São elementos que pode encontrar apenas um ou os quatro juntos, mas que formam uma base sólida para os jogadores saberem o que têm em mãos:
4. A jornada em grupo
Nenhuma jornada é completa sem amigos e os JRPGs levam isso muito a sério. Na maioria dos casos você vê um grupo de personagens com personalidades únicas, que se unem diante de um grande desafio ou uma ameaça poderosa. Claro, isso sempre termina com a equipe salvando o mundo.
Em combo com as ricas narrativas, vemos um amadurecimento geral de todos os membros — tanto do protagonista quanto dos seus aliados. O papel do jogador é guiá-los através disto, como um espectador ativo, crescendo e aprendendo mais a cada novo capítulo.
3. Estratégia definida
Um dos aspectos que mais marca os JRPGs são os combates por turno. Você tem um menu, escolhe um ataque e, na sua vez, o personagem específico executa aquela ação. Ainda que existam variantes como o Active Time Battle (ATB), que adiciona elementos de ação em tempo real, eles ainda definem uma hierarquia para cada um agir em determinado momento.
Aqui não verá ninguém esmagando botões ou preocupado com combos, mas sim pensando de forma estratégica e calculada. Geralmente os jogadores têm um menu com quatro ações principais (resumidas em Ataque, Magia, Itens e Defender), mas isso vai de acordo com cada experiência e proposta.
2. O sistema de progressão
É inegável que todo JRPG que se preze vai te exigir o fator de grinding durante a narrativa linear. Seja para obter o famoso XP ou dinheiro, os jogadores terão de enfrentar inimigos de forma “repetida” e realizar diversas side quests para subir de nível, conquistar novas habilidades ou obter armas/equipamentos poderosos.
Para fortalecer a sua equipe, terá de explorar o mapa-múndi, masmorras e diversos cenários em busca de formas de crescer. Enquanto isso, todo o mundo vai sentar e esperar sem qualquer problema: reúna flores para o jardineiro perdido para ganhar a espada Masamune, mas vai tranquilo que o vilão só vai jogar o meteoro na cidade quando você pisar nela.
1. Uma arquitetura única
Como o sistema nasceu no Japão, muitos de seus elementos artísticos são inspirados em mangás e animes. Ou seja, em muitas das circunstâncias encontrará cabelos coloridos, olhos grandes, espadas colossais, trajes coloridos (ou a ausência deles, nos casos femininos), monstros baseados na mitologia nipônica e outros.
O mesmo vale para a trilha sonora, que costuma trazer uma orquestra própria para alavancar as músicas que você escutará dentro dos JRPGs. Desta forma, muitos se tornam tão icônicos quanto os próprios jogos, como é o caso das composições de Nobuo Uematsu, Yasunori Mitsuda e Yoko Shimomura.
Mergulhando na zona cinzenta
Dito isto, você pode perceber que as coisas podem ficar um pouco turvas a partir das variantes, exceções e outros títulos que entram em uma zona cinzenta dentro dos JRPGs. Um exemplo disto é quando se decide abandonar a batalha em turnos para investir na ação.
A Bandai Namco, por exemplo, tem sua franquia Tales of presente neste nicho. A Square Enix também moveu a linha principal de jogos Final Fantasy para um foco maior em ação em tempo real — com os 15º e 16º jogos sendo vistos sob este ponto de vista. Isso sem falar em Kingdom Hearts, que foi um dos primeiros a remover essa abordagem tradicional lá em 2002.
E, afinal de contas, isso faz deles menos JRPGs que os demais? Claro que não. Como falamos, são quatro pilares e tirar um deles não significa que eles já estão fora deste gênero. Ainda que se tire o combate por turnos, eles ainda exigem grinding, tem um foco rico na narrativa e no grupo de heróis. Isso sem falar na estética, trilha sonora e outros aspectos que mantém suas raízes.
Outra polêmica que deixa as coisas bem mais turvas é: Dark Souls é um RPG e é feito no Japão, então é um JRPG? Não, não é. Seu game design se alinha mais com as filosofias ocidentais: narrativa minimalista contada pelo ambiente, a alta autonomia no jogador, criação de um personagem e o combate focado na coordenação motora do que em menus. O gênero cresceu e se tornou conhecido como soulslike.
Neste caso, pode-se afirmar que o gênero é mais um estilo do que uma marca de nascença. Nem todos os jogos que abraçam estes elementos possuem uma etiqueta de “Made in Japan” e está tudo bem. Ainda que as franquias mais conhecidas e amadas tenham saído de lá e carreguem muito de sua cultura, há estúdios em todo o planeta os criando.
Com o passar dos anos, vimos diversos estúdios ao redor do mundo se aventurando neste mercado. Exemplos de sucesso são os canadenses Sea of Stars e Child of Light, o alemão Chained Echoes e o francês Clair Obscur: Expedition 33 — este último um dos jogos mais aclamados do ano de 2025.
Ainda que alguns destes exemplos façam uma grande homenagem aos clássicos JRPGs da era 16-bit, adotem pixel art e o icônico combate por turnos, outros comprovam que o gênero pode ir além e surpreender o público de várias formas distintas.
Variantes do JRPG
Além de ter pilares, os JRPGs se expandiram e mostraram capacidade para ampliar sua proposta para outras categorias distintas. Uma delas, obviamente, é o RPG tático (conhecido também como SRPG). Nascido também no Japão, ele ganhou seus primeiros passos com The Dragon and the Princess — lançado em 1982 pela Koei — e não parou de crescer.
Porém, o molde como conhecemos hoje veio apenas com Bokosuka Wars (1983). Nele, você interpreta um rei que precisa recrutar soldados e liderar seu exército contra forças opositoras. Claro que isso abriu portas para vermos diversos títulos no futuro, como Final Fantasy Tactics e a franquia Fire Emblem da Nintendo — que criaram padrões vistos até os dias atuais.
O mesmo vale para os jogos de captura de monstros, popularmente conhecido por ser o gênero em que Pokémon está incluso — apesar de ter nascido de Digital Devil Story: Megami Tensei e Dragon Quest V. Nele vemos os combates por turnos de forma bem presente, mas ao invés de integrar uma equipe, você forma uma com base nas criaturas que captura e treina.
Além de Pokémon (que celebra 30 anos em 2026), também existe Digimon, Coromon, Monster Viator e até franquias famosas entraram nessa onda: como World of Final Fantasy — que reúnem elementos dos JRPGs e da captura de monstros para homenagear a fórmula.
5 JRPGs essenciais para compreender o gênero
Conheça 5 JRPGs que são uma verdadeira obra-prima, responsáveis por consolidar os principais pilares do gênero e conquistar uma legião de fãs ao redor do planeta.
5. Chrono Trigger
Criado pelo maior “dream team” formado na indústria gaming, Chrono Trigger contava com desenvolvedores geniais da SquareSoft (hoje Square Enix), a trilha sonora emblemática de Yasunori Mitsuda e a arte de Akira Toriyama — autor de Dr. Slump e Dragon Ball.
Ele trouxe combates com monstros dentro do próprio mapa (e não aleatórios), eventos diferentes nas diversas linhas do tempo de acordo com o que tinha concluído e batalhas por turnos com a presença do ATB. Com uma arte e trilha sonora primorosas, ele se tornou um dos maiores jogos do Super Nintendo de todos os tempos.
4. Final Fantasy VII
Ainda que Chrono Trigger revolucionou, os JRPGs viveram dois momentos: antes e depois de Final Fantasy VII. O primeiro jogo 3D da franquia, ele misturava gráficos impressionantes para a época com um combate imersivo, exploração sem precedentes e uma história muito forte.
O impacto cultural que ele causou foi tão grande que popularizou em definitivo o gênero — abrindo as portas para que diversos estúdios produzissem sua própria experiência marcante e mudassem a indústria gaming para todo o sempre.
3. Persona 5 Royal
Não é só de nostalgia que vivem os fãs de JRPG. Persona 5 Royal é o ápice do gênero nos dias atuais, mostrando que ele não está apenas forte, como pode arrancar emoções fortes conforme o jogador avança pela experiência e conhece seus personagens.
Com uma identidade visual e de estilo fortíssimos, mistura de outros elementos dentro das suas mecânicas (como o simulador social) e personagens extremamente carismáticos, aqui o público pode conferir uma das melhores experiências disponíveis hoje em todas as plataformas.
2. Dragon Quest XI S: Echoes of an Elusive Age
Caso você ainda seja um fã do “old school”, Dragon Quest XI S: Echoes of an Elusive Age é uma grande celebração à clássica fórmula que muitos amam desde os anos 1980 e 1990.
Nele é visto o formato tradicional sendo executado à perfeição, o que mostra ao público saudosista ou os mais novos que estão pisando neste território pela primeira vez como é um JRPG de qualidade — em gráficos, desempenho, história, construção de mundo e vários outros fatores.
1. Yakuza: Like a Dragon
Enquanto os seis primeiros jogos da linha Yakuza eram centrados no beat ‘em up, o sétimo decidiu mudar as coisas. Desta forma, a Ryu Ga Gotoku decidiu trazer Yakuza: Like a Dragon como um JRPG ao seu próprio modo: renovando a franquia e o próprio gênero.
Misturando temas adultos e modernos às clássicas estruturas, vemos uma grande história de amizade, superação e um épico moderno — com toques de humor e uma pitada de melodrama — para envolver os fãs e criar uma nova forma de se contar a sua trama.
O JRPG vive
Mais do que RPGs feitos no Japão, os JRPGs seguem toda uma filosofia que se mantém viva até os dias atuais. Seja através de franquias tradicionais como Final Fantasy, Dragon Quest, Pokémon e Persona ou sendo vista renovando universos como o de Yakuza, eles seguem cativando por onde passam.
E mesmo que a sua origem tenha sido japonesa, eles continuam crescendo pelas mãos de estúdios apaixonados ao redor do planeta. Se vimos Sea of Stars e Clair Obscur: Expedition 33 ganhando o coração dos fãs, pode se certificar de que mais deles surgirão e vão te envolver como nenhum outro antes.
Mantendo a tradição, se recriando, se fundindo a outros gêneros, experimentando e até gerando variantes, a essência dos JRPGs continua em suas histórias poderosas e nos personagens cativantes — que carregam o grande trunfo presente na categoria. Independentemente de qual jogue, você terá em mãos um universo que vai merecer sua atenção.
Agora, pode reunir seus itens em sua mochila e chamar seus amigos que uma grande aventura te espera. Em qual JRPG você já embarcou ou pretende embarcar daqui em diante? Compartilhe e nos conte as jornadas que marcaram a sua vida.
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