Um dos principais entraves para o crescimento dos ETFs de fundos imobiliários no Brasil é a desigualdade tributária em relação aos FIIs tradicionais. A avaliação é de Danilo Gabriel, gestor da XP Asset, responsável por fundos passivos e internacionais da casa.
“Deveria ser indiferente para a Receita [Federal] o investidor acessar o fundo imobiliário diretamente ou via ETF, mas hoje o ETF é penalizado. A equiparação tributária seria transformacional para esse mercado”, afirma.
Para Gabriel, existe um potencial de crescimento da indústria de ETFs no país, que hoje representa pouco mais de 0,5% do total da indústria de fundos, com cerca de R$ 63 bilhões, contra R$ 9 trilhões do setor como um todo.
No caso dos ETFs de FIIs, o patrimônio é ainda mais restrito — somando menos de R$ 100 milhões, segundo dados da gestora.
O XFIX11, ETF de fundos imobiliários da XP, foi o primeiro do gênero no Brasil, lançado em novembro de 2020. Segundo Gabriel, a proposta é simples: replicar o IFIX, oferecendo diversificação, baixo custo e transparência. “Com uma única compra, o investidor acessa toda a cesta do índice, sem precisar acompanhar gestor ou tese específica. É um produto vivo, que se atualiza conforme a composição do IFIX muda”, explica.
Apesar dessas vantagens, o produto ainda enfrenta desafios. O primeiro é o desempenho recente da classe: o IFIX perdeu para o CDI tanto no acumulado de três anos quanto no de um ano, o que desestimula novos aportes.
O segundo é a ausência de distribuição de dividendos pelo ETF — uma decisão estratégica para evitar a tributação mensal sobre rendimentos. “Se eu pago dividendo no ETF, o investidor é tributado todo mês. Mantendo o recurso investido, ele só será tributado na venda. Quanto menor a periodicidade de tributação, melhor para o retorno”, reforça Gabriel.
O gestor também lembra que o desempenho dos fundos imobiliários tem forte correlação com a Selic e os títulos públicos indexados à inflação. “Quando o juro real cai, a tendência é de valorização relevante no IFIX e, consequentemente, no ETF. Se o cenário macro permitir, podemos ver um ciclo positivo como o de 2017 a 2021, com Selic em dígito único e forte demanda por ativos de risco”, projeta.
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Hedge aposta em ETF segmentado
Além da XP, que lançou o primeiro ETF de FIIs do Brasil em 2020, a Hedge Investments também aposta nesse segmento com o HERT11, voltado exclusivamente a fundos de tijolo e com alta liquidez.
“Foi um processo que começou há dois anos, quando ETFs de equity começaram a comprar cotas de fundos imobiliários, além de ações de empresas do setor. Descobrimos que o nosso HGBS11 havia entrado em um índice global e passamos a estudar como aumentar essa exposição”, conta Felipe Freitas, diretor de distribuição da Hedge.
A experiência levou à criação de um índice doméstico, baseado na metodologia da FTSE, mas com filtros adicionais da própria gestora — como exclusão de fundos de papel e exigência de liquidez diária mínima de R$ 1 milhão. O HERT11 replica esse índice e é gerido e administrado pelo próprio grupo Hedge.
“Lá fora, mais de 90% dos REITs são de tijolo. Vimos oportunidade de criar um índice próprio com essa característica e replicá-lo via ETF, seguindo critérios claros de elegibilidade e rebalanceamento trimestral.”
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Freitas defende que o momento de juros altos pode representar oportunidade para quem olha no longo prazo.
“Os fundos de tijolo estão negociando com desconto relevante em relação ao valor patrimonial. É um ponto de entrada interessante para adquirir ativos de qualidade”, diz. Sobre a composição do índice, ele afirma que a concentração de quase 40% em shoppings reflete o tamanho desses fundos no mercado.
“Com o ETF, você faz um único aporte, deixa investido e paga uma taxa de administração de 0,5%, menor que a média praticada pelos FIIs. É uma eficiência muito grande”, acrescenta.
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