Com uma queda de 15% desde 9 de julho até o fechamento da última terça-feira (29), as ações da Embraer (EMBR3) tiveram um movimento de forte euforia na última quarta (30), após o decreto dos EUA aumentando tarifas comerciais para produtos do Brasil excluir aeronaves e algumas peças da lista que sofreria o aumento da taxação para 50%.
A ação vinha sofrendo com tal perspectiva, dado que os EUA são o principal mercado da fabricante de aviões. Em nota, a Embraer destacou que as exportações para o mercado americano permanecem com 10% de tarifa, em vigor desde abril.
Assim, após um momento inicial de queda na última quarta com um primeiro anúncio da taxação em 50%, os papéis EMBR3 fecharam com ganhos de 10,93%, a R$ 76,25, em uma virada que começou quando o mercado tomou conhecimento das exceções às tarifas que incluíam os produtos exportados pela fabricante de jatos. O ADR (recibo de ações negociado em Nova York) ERJ saltou 10,54%, a US$ 54,83.
Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a Embraer era uma das empresas mais óbvias de que não era possível manter essas tarifas, porque o maior prejuízo seria sobre as companhias áreas americanas pela falta de opções em termos de substituto e também por questão de segurança – uma vez que o sindicato de pilotos que não autoriza nenhum tipo de troca se não for aprovado por eles. “Era muito difícil, era o caso mais específico, mais complicado de se trocar”, apontou.
Exceções do tarifaço representam 43,4% do valor exportado aos EUA, diz Amcham
Câmara Americana de Comércio calcula US$ 18,4 bi em produtos poupados
Tarifaço de Trump poupa Embraer, suco de laranja e mais; veja exceções
Essas exceções haviam sido solicitadas pelo governo brasileiro nas negociações que antecederam a decisão
Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, também ressaltou que, nessa hora, o lobby corporativo falou mais alto. “Grandes companhias de tecnologia e indústria fizeram barulho e conseguiram o que queriam, manter o custo dos seus insumos controlados para não travar a máquina produtiva americana. Foi uma decisão pragmática, que mostra que, mesmo com o discurso protecionista, o governo Trump sabe onde pode e onde não pode apertar sem causar um colapso interno”, avaliou.
Neste cenário de alívio para a Embraer, ela deixou de ser uma das maiores vítimas do tarifaço e voltou para o rol das empresas mais promissoras da Bolsa brasileira, inclusive com analistas reforçando projeções ainda mais otimistas para as ações da companhia.
O JPMorgan, por exemplo, reforçou recomendação overweight (exposição acima da média) para as ações da companhia e destacou esperar que os papéis atinjam novas máximas históricas. Cabe ressaltar que os papéis EMBR3 bateram máxima histórica no último dia 4 de julho, chegando a serem negociados a R$ 83,71, justamente antes da relação entre EUA e Brasil começar a ficar turbulenta. Levando em conta o fechamento da véspera, o papel teria que subir cerca de 10% para ao menos igualar esta marca.
O banco vê novas máximas refletindo: i) o fim do overhang (excesso de ações no mercado) com o noticiário das tarifas, já que mesmo antes de 8 de julho houve discussões sobre uma tarifa adicional de 10% para os membros do BRICs, ii) a companhia relatou uma carteira de pedidos recorde no início da semana passada de US$ 29,7 bilhões para o 2T25, mas ofuscada pelo noticiário sobre tarifas; iii) fluxo de notícias recentes sugere que a Latam Airlines está analisando o jato E2 e iv) os lucros do 2T25 a serem divulgados na próxima semana (5 de agosto) devem ser fortes, refletindo entregas sólidas.
Já o Itaú BBA reiterou sua recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) para Embraer, com preço-alvo de US$ 62 para os ativos ERJ, e adicionou novamente a ação da companhia como sua preferida no setor, uma vez que “o evento binário relacionado às tarifas de importação adicionais impostas pelo governo dos EUA já passou”.
Para o banco, ainda há um potencial de valorização atrativo, também destacando que: (i) o ativo ERJ ainda está 10% abaixo do preço em que era negociada antes do surgimento dessa discussão (3 de julho); (ii) a Embraer reportou uma carteira de pedidos (backlog) recorde de US$ 29,7 bilhões na semana passada, que foi ignorada pelos investidores devido às expectativas tarifárias e implicaria uma valorização de 23% em relação aos níveis atuais para igualar a relação de múltiplo entre valor da firma (EV)/backlog anterior; (iii) um 2T25 positivo é esperado na próxima terça-feira e (iv) o voo experimental da Eve, previsto para o final de setembro, pode ajudar a diminuir sua diferença de avaliação em relação aos pares (a Embraer detém 83% da EVE).
O Bradesco BBI também ressaltou que a notícia foi muito positiva e seguiu com recomendação outperform para o ADR ERJ, com preço-alvo de US$ 68.
Os analistas observam que, embora aeronaves militares não sejam isentas, a Embraer não possui C-390 ou Super Tucanos em carteira para os EUA. A visão era de que as tarifas de 50% impactariam o EBIT (Lucro antes de juros e imposto de renda) da Embraer em 35% em 2025 ou cerca de 60% em 12 meses.
E, desde o dia anterior ao anúncio das tarifas de 50% até o fechamento de terça, a ERJ havia caído 17%, precificando apenas uma parte do impacto total das tarifas de 50%.
Exceções do tamanho de um avião: Embraer se livra de tarifaço e defende tarifa zero
Ao todo, 565 artigos de aviação civil entraram na lista de itens que não sofrerão aumento no imposto de importação nos EUA
Embraer de queda ao salto de 11%: o gráfico da virada após EMBR3 escapar do tarifaço
Ação foi de alta para baixa em poucos minutos, mas logo entrou em leilão e voltou a subir
“Acreditamos que, agora que as aeronaves da Embraer estarão sujeitas apenas a tarifas de 10%, a tese está novamente significativamente reduzida. Até o momento, a Embraer apresentou alta de 11%, deixando um potencial de alta de 9% em relação à avaliação pré-tarifa de 50%. Vale lembrar que estimamos que as tarifas de 10%, que estavam ativas desde abril, poderiam impactar o EBIT da Embraer em 2025 em cerca de 7%, ou 13% em 12 meses, principalmente devido aos jatos executivos, cujo impacto será direto sobre a Embraer”, avalia.
A empresa poderia, por sua vez, aumentar os preços das novas aeronaves, o que beneficiaria entregas futuras que atualmente não estão em carteira.
No caso do segmento de aviação comercial, os clientes são responsáveis pelo pagamento das tarifas, e a Embraer pode fornecer documentação referente ao conteúdo brasileiro, mitigando o valor pago. “Estimamos que cerca de 50% do conteúdo do E175 esteja sujeito a tarifas. Ressaltamos que, no 2T25, a Embraer entregou 9 jatos E175 para clientes nos EUA e, como as tarifas de 10% começaram em abril, os clientes receberam as aeronaves e pagaram as tarifas. Em nossa opinião, isso reduz o risco de grandes revisões nos cronogramas de entrega ou cancelamentos de pedidos”, aponta.
O BBI espera que a Embraer aborde o tema das tarifas na teleconferência de resultados do 2T25, que será realizada na próxima terça-feira (5 de agosto).
infomoney.com.br/">InfoMoney.