Na noite de 29 de março de 2006, as atenções estavam voltadas ao Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, para a decolagem da Missão Centenário rumo à Estação Espacial Internacional (ISS). Para o Brasil, essa viagem tinha um elemento especial: era a primeira vez que um astronauta brasileiro viajaria ao espaço.
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Natural da cidade de Bauru (SP), Marcos Pontes foi escolhido para representar o Brasil na missão que celebrou os 100 anos do voo de Alberto Santos Dumont com o 14-Bis, em Paris — feito que o consagrou como o “pai da aviação”.
Pontes viajou a bordo da espaçonave Soyuz TMA-8, ao lado do cosmonauta russo Pavel Vinogradov e do astronauta norte-americano Jeffrey Williams. Mas o caminho até o voo envolveu diversas etapas de preparação.
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Treinamento na NASA
Em junho de 1998, graças ao Acordo Intergovernamental da Estação Espacial Internacional, o Brasil ganhou o direito de indicar um candidato ao programa espacial dos Estados Unidos. O selecionado foi Marcos Pontes.
Até então, Pontes possuía graduação em engenharia aeroespacial pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, e mestrado em engenharia de sistemas pela Naval Postgraduate School, na Califórnia.
Ele integrou o Grupo 17 de treinamento de astronautas da NASA, participando de atividades no Centro Espacial Lyndon B. Johnson entre 1998 e 2000. Ao fim do curso, foi oficialmente declarado astronauta.
A previsão inicial era de que o brasileiro embarcasse para a ISS em 2001, com a missão de instalar um módulo brasileiro chamado Express Pallet. No entanto, o projeto foi adiado devido a atrasos por parte do Brasil. Uma nova oportunidade surgiu em 2003, mas o trágico acidente do ônibus espacial Columbia causou a suspensão dos voos e novo adiamento da missão.
Parceria com a Roscosmos
Após a interrupção das operações da NASA em decorrência do acidente, a Agência Espacial Brasileira (AEB) firmou, em outubro de 2005, uma parceria com a agência espacial russa Roscosmos. O acordo previa um investimento de US$ 10 milhões para que Marcos Pontes viajasse a bordo da nave Soyuz.
Desta vez, a preparação aconteceu na Cidade das Estrelas, centro de treinamento dos cosmonautas na Rússia. Cerca de quatro meses depois, chegou a hora de decolar rumo ao espaço.
O dia do voo
A decolagem de Marcos Pontes, Pavel Vinogradov e Jeffrey Williams ocorreu às 20h30 (horário de Brasília) do dia 29 de março de 2006. Na bagagem, o brasileiro levou aproximadamente 15 kg de cargas da AEB, contendo instrumentos para realizar oito experimentos científicos de instituições brasileiras.
Além dos equipamentos, Pontes também levou uma bandeira do Brasil, uma camiseta da Seleção Brasileira, uma réplica do chapéu Panamá e um lenço original de Alberto Santos Dumont.
Ao desembarcar na ISS em 1º de abril, Pontes carregava em mãos uma flâmula brasileira, representando oficialmente o país — item que o acompanharia durante toda a missão e no retorno à Terra.
No total, foram oito dias na Estação Espacial Internacional. Além de realizar os experimentos científicos previstos, o astronauta gravou diversos vídeos, tirou mais de 2 mil fotos e orbitou a Terra 155 vezes.
O retorno aconteceu no dia 8 de abril, junto com o russo Valery Tokarev e o norte-americano William McArthur, integrantes da Expedição 12. Os astronautas pousaram no Cazaquistão e, como de praxe, passaram por um período de readaptação à gravidade terrestre.
Com o voo do dia 29 de março de 2006, Marcos Pontes colocou o Brasil para sempre na história da astronomia mundial.
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