Gilberto Gil professa a sabedoria serena de um ‘Buda nagô’ na cerimônia do adeus à filha Preta Gil


Gilberto Gil personifica já alguns anos o ‘Buda nagô’ que ele viu e saudou na figura de Dorival Caymmi (1914 – 2008) em música de 1992
Giovanni Bianco / Divulgação
♫ CRÔNICA
♩ O beijo de Gilberto Gil na testa da filha Preta Gil (1974 – 2025) foi uma das imagens que circularam com maior intensidade na imprensa e nas redes sociais ao longo desta sexta-feira, 25 de julho, dia do velório e cremação do corpo da cantora, empresária e ativista carioca, morta no domingo, 20 de julho, em Nova York (EUA), em decorrência de complicações de câncer colorretal detectado em janeiro de 2023.
A dor do artista de 83 anos evidentemente foi imensa ao se despedir da filha de 51 anos incompletos na cerimônia do adeus realizada na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Contudo, Gil personificou ali – sentado a maior parte do tempo diante do caixão onde jazia já inerte um corpo que sempre irradiou alegria e vida – a sabedoria serena dos mestres. A inteligência silenciosa de um Buda nagô, termo que o próprio Gil cunhou para saudar Dorival Caymmi (1914 – 2008) em música composta e gravada pelo artista no álbum Parabolicamará (1992).
Já há alguns anos Gilberto Gil encarna, ele próprio, a imagem desse Buda nagô. Espiritualista, o artista pareceu ter a certeza de que a morte de Preta Gil foi um encantamento, uma passagem para outra dimensão, em outro nível de espaço e tempo.
Populares, amigos e familiares bradavam palavras de consolo e ordem como “força, Gil”. Mas talvez ele, Gil, tenha sido o mais forte no velório realizado no foyer do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no Centro da cidade onde Preta nasceu e para onde Gil migrara nos anos 1960, vindo da Bahia, como situou no título do samba de 1965.
A (cons)ciência de que é o tempo é rei e compositor de destinos – para citar tanto a canção de Gil em 1984 quanto a canção em feito de oração lançada pelo amigo Caetano Veloso em 1979 – talvez ajude Gilberto Gil nos anos em que o artista ainda permanecer na dimensão terrena, exaltando o legado da filha de quem sempre teve assumido orgulho.
Com a reflexão equilibrada e sensata dos mestres que acreditam na transcendência do espírito diante da falência do corpo, Gilberto Gil – o Buda nagô – sabe que Preta Gil vive na eternidade.