Em um daqueles momentos que mudam a forma como ouvimos uma música para sempre, Vitor Kley pegou todos de surpresa ao revelar a origem inesperada de seu maior sucesso, “O Sol”. Durante uma entrevista descontraída a um podcast, o cantor contou que a melodia do hit lançado em 2017 — e que o catapultou para o estrelato com sua vibe otimista e praiana — surgiu, na verdade, a partir de uma influência bem distante do pop tropical que o consagrou: a faixa “Drive”, da banda californiana de rock alternativo Incubus.
Na conversa, que rapidamente viralizou nas redes sociais, Kley não apenas falou sobre a referência como também tocou trechos das duas canções no violão, deixando evidente a conexão entre os acordes. “Foi ouvindo ‘Drive’ que a ideia começou a brotar”, admitiu o cantor, enquanto cantarolava partes da composição original que, segundo ele, acendeu a fagulha criativa para seu maior sucesso.
A revelação caiu como uma bomba — e com razão. Afinal, enquanto “O Sol” é marcada por sua leveza ensolarada e refrão contagiante, “Drive” mergulha numa atmosfera introspectiva, com riffs suaves e uma melancolia contida que sempre marcaram a identidade do Incubus. Ver um elo entre essas duas estéticas tão distintas fez com que fãs de ambos os lados corressem para ouvir as músicas novamente, em busca dos detalhes escondidos que agora parecem impossíveis de ignorar.
O episódio escancara uma verdade muitas vezes negligenciada na indústria da música: a de que grandes canções raramente nascem no vácuo. Ao assumir a influência de um clássico do rock alternativo, Vitor Kley mostra que não há fronteiras no processo criativo — e que um bom artista é, antes de tudo, um excelente ouvinte. Com isso, ele se junta a um seleto grupo de compositores capazes de transformar referências improváveis em sucessos radiantes.
Como Vitor Kley mostra evolução em ‘As Pequenas Grandes Coisas’
Vitor Kley apresenta ao público o seu mais novo trabalho de estúdio: As Pequenas Grandes Coisas. Disponível em todas as plataformas digitais, o álbum reúne 11 faixas autorais e marca uma guinada artística significativa na trajetória do cantor, que vem consolidando sua identidade musical desde sua estreia em 2009.
Após o encerramento do ciclo de A Bolha, seu quinto disco, Vitor optou por uma pausa estratégica para repensar caminhos. O resultado é um projeto profundo, ousado e emocionalmente maduro. As Pequenas Grandes Coisas não se propõe a romper com o passado, mas sim a expandir horizontes — com novos ritmos, colaborações e temáticas.
O álbum foi gestado entre diferentes cidades e culturas — São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e até Portugal — e traz pela primeira vez Vitor na produção musical, dividindo a tarefa com nomes como Paul Ralphes, Giba Moojen, Felipe Vassão e Marcelo Camelo, que também participa como convidado na canção Tudo de Bom (Ô Moça).
A musicalidade característica de Vitor — voz e violão solares — ainda é o fio condutor, mas agora ganha contornos mais amplos: da bossa ao funk-soul, do reggae ao rock, do pop oitentista ao samba. Em Que Seja de Alegria, a abertura do disco, ele já demonstra essa nova abordagem, com batidas quebradas que evocam clássicos da MPB e do soul brasileiro.
Outros destaques incluem Carta Marcada, que flutua entre bolero e bossa; Vai Ficar Bem, uma balada com ares reconfortantes; De Novo, com sua pegada dançante retrô; e Segredos, uma composição antiga resgatada, carregada de nostalgia e referências familiares.
O ponto mais emotivo do álbum é Vai Por Mim, uma homenagem ao pai de Vitor, com participação do filósofo Clóvis de Barros Filho. A faixa se destaca não apenas pela mensagem, mas pelo tom reflexivo e quase transcendental. Já Arco-Íris encerra o disco com lirismo e blues, falando sobre mergulhos internos e o verdadeiro valor da vida: aquilo que não se vê, mas se sente.
Com As Pequenas Grandes Coisas, Vitor Kley reafirma que amadurecer artisticamente não é abandonar a essência — é aprofundá-la. O disco é um convite à contemplação da beleza que reside nos detalhes e mostra que, às vezes, é no sutil que mora a grandeza.